Recorde aqui as incidências do encontro
Depois de um empate 2-2 na Allianz Arena, a decisão sobre quem acompanharia o Borussia Dortmund na final de Wembley ficou guardada para o Santiago Bernabéu, o Santo Graal do Real Madrid. A primeira mão entre estes dois gigantes europeus já tinha deixado a impressão de muito equilíbrio e prometia um duelo emocionante.
O aquecimento para algo especial
Os bávaros, numa péssima temporada a nível doméstico, perderam o contributo de Raphael Guerreiro no fim de semana e entraram bem mais contidos do que na sua casa, oferecendo a iniciativa aos blancos. Ainda assim, pertenceu aos germânicos a primeira boa oportunidade para inaugurar o marcador, mas Gnabry fez mal o passe para Kane, que se preparava para marcar.
O Real Madrid respondeu com um lançamento lateral cobrado rapidamente, com Vinicius Jr. a tentar fazer das suas depois do bis em Munique. O brasileiro apareceu sozinho na grande área, Neuer defendeu o remate para o poste e voltou a agigantar-se para negar a recarga de Rodrygo.
A tática de Tuchel era clara: apropriar o cinismo de Ancelotti contra os espanhóis. No entanto, faltava algo mais e essa estratégia sofreu um duro golpe quando Gnabry foi substituído por lesão, entrando Alphonso Davies na tentativa de manter a velocidade nos corredores.
Ainda assim, Kane, algo desaparecido no primeiro tempo, ficou perto de tirar um coelho da cartola com um remate de primeira sem preparação, para uma grande defesa de Lunin.
Kroos era o cérebro dos anfitriões, gerindo o tempo e ritmo como uma ampulheta, sempre à procura do melhor sítio para ferir o Bayern. Por seu lado, Vini Jr. era a irreverência em campo, muito bem contido por Kimmich nos primeiros minutos - a segunda parte seria o oposto -, e com um cruzamento traiçoeiro voltou a testar Neuer, que começou a prometer (mais) uma exibição de grande nível.
Ao intervalo, mantinham-se o nulo e as dúvidas quanto ao desfecho, mas dissiparam-se os receios de um jogo aborrecido.
Neuer, uma parede... com furos
O reatamento não trouxe alterações, a não ser entre o duelo de Kimmich com Vini. O brasileiro veio com tudo dos balneários e por diversas vezes trocou as voltas ao alemão, mas havia sempre o mesmo obstáculo pela frente. Mas já lá vamos porque, tal como no arranque, voltou a ser o Bayern a espreitar o golo, com Davies a rematar para nova estirada de Lunin.
Apesar dos melhores esforços do ucraniano, esta noite tinha apenas um nome: Manuel Neuer. O brasileiro deixou Kimmich nas covas, serviu o compatriota Rodrygo, que atirou ao lado do poste e, pouco depois, cobrou um livre para intervenção atenta de Neuer. No minuto seguinte, Vini deixou três adversários para trás na grande área e disparou para mais uma grande defesa.
O Bayern não estava a conseguir ter a bola - Sané falhava muitos passes -, apesar de criar perigo no último terço com ataques rápidos. Aliás, Lunin voltou a mostrar reflexos atentos para impedir um remate forte de Musiala. Mas nada pôde fazer quando, numa dessas transições, Alphonso Davies fletiu para o meio e surpreendeu tudo e todos com um remate fortíssimo de pé direito junto à malha do segundo poste.
Um belo cartão de visita daquele que é visto como um dos próximos reforços do Real Madrid... com o seu primeiro golo na Champions!
Ancelotti respondeu com a entrada de Luka Modric por Toni Kroos e o empate chegou apenas dois minutos depois num desvio fortuito de um canto, mas o tento foi anulado por falta - clara - de Nacho sobre Kimmich. O Bernabéu desesperava e o Bayern manteve a mesma receita, que quase voltava a dar frutos quando Kane apareceu na área e rematou à malha lateral.
Tuchel não esteve com meias medidas: saiu Sané, entrou Kim Min-Jae para trancar as portas. Nos madrilenos, Brahim e Joselu foram a carne do assador de Ancelotti, com Vini a desperdiçar um bom cruzamento de Rudiger. Um lance que ficará esquecido na memória desta meia-final foi uma excelente recuperação de Modric à entrada da sua área, depois de ter cobrado um canto do outro lado do campo. 38 anos que não se notam.
Um mistério chamado Bernabéu
Tuchel tirou Musiala e Kane para se focar na defesa, abrindo a porta ao mau pressentimento. O que faria o alemão se o Real empatasse? A pergunta nem ficou muito tempo no ar porque, contra todas as expetativas, Neuer deixou escapar uma bola fácil das mãos e a arma secreta Joselu estava no sítio certo para castigar o único erro na exibição quase perfeita do guardião.
O Bernabéu explodiu com o golo do empate. Mas este é um vulcão que quando acorda não se fica pelo ruído, nem pelo empate. Impulsionado pelo público, os merengues aumentaram a pressão e, na sequência de um pontapé de canto, Rudiger apareceu sozinho sobre a esquerda, cruzou para a pequena área, onde lá estava o matador da noite Joselu a encostar para virar tudo do avesso.
Nos últimos instantes do jogo, o Bayern fez chuveirinho e ainda marcou, mas o remate de Dier beijou as redes já depois do apito ter soado por um fora de jogo à queima e tirado fora de tempo, no único erro da arbitragem, o que levou o banco bávaro ao desespero.
No entanto, o Real Madrid vai a Wembley carregado com o misticismo de quem é predestinado nesta competição. E a 15.ª está ali ao virar da esquina.