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Análise: Os números por trás da surpreendente vitória do Inter sobre o Barça

Os jogadores do Inter comemoram o golo de Francesco Acerbi contra o Barcelona
Os jogadores do Inter comemoram o golo de Francesco Acerbi contra o BarcelonaIPA Sport/ABACA / Abaca Press / Profimedia
Antes da segunda mão das meias-finais da Liga dos Campeões, na noite de terça-feira, o gigante catalão tinha vencido apenas um dos seis jogos fora de casa contra o Inter - por 1-2 em dezembro de 2019.

Os nerazzurri estavam invictos nos últimos 15 jogos em casa na competição (12 vitórias e três empates) - o melhor registo caseiro numa grande competição europeia desde uma série de 27 encontros entre 1980 e 1987 - e também tinham vencido nove dos últimos 11 jogos em casa nas meias-finais da Europa (um empate e uma derrota).

Golos garantidos em San Siro

Além disso, o Barça tinha apenas cinco vitórias em 24 jogos fora de casa em Itália (21%), a menor percentagem de vitórias em qualquer país estrangeiro na competição.

Os golos estavam praticamente garantidos, uma vez que cada um dos dois últimos jogos entre as equipas (outubro de 2022 e a primeira mão) terminou 3-3, e o Barça já tinha marcado 40 golos na competição esta época, o maior número de golos de uma equipa numa época desde o Bayern de Munique de Hansi Flick em 2019/20 (43).

Lamine Yamal e Frenkie de Jong, do Barcelona, festejam o golo do empate de Dani Olmo contra o Inter.
Lamine Yamal e Frenkie de Jong, do Barcelona, festejam o golo do empate de Dani Olmo contra o Inter.IPA, Independent Photo Agency / Alamy / Profimedia

O 18.º grande confronto europeu entre os dois também significou que apenas os duelos entre Bayern de Munique e Real Madrid (28), Juventus e Real Madrid (21) e Inter e Real Madrid (19) foram disputados mais vezes na história.

O Barça contou sempre com a ajuda do seu menino de ouro, Lamine Yamal, para chegar àquela que seria a sua sexta final. Os 44 remates, 19 à baliza, e 78 dribles eram já o maior registo de um jovem numa época desde 2003/04, antes mesmo do apito inicial em San Siro.

O cenário estava montado para mais um encontro épico...

Domínio do Barça na primeira parte não surtiu efeito

Embora o Inter parecesse mais decisivo na etapa inicial, foi o Barça quem ditou o ritmo, com 69,4% de posse de bola nos primeiros 15 minutos de jogo.

Mas não adiantou nada: aos 21 minutos, Denzel Dumfries serviu Lautaro Martínez para inaugurar o marcador. O argentino marcou o seu nono golo na primeira parte. É o maior de goleador do Inter numa só campanha da Liga dos Campeões, ultrapassando Samuel Eto'o em 2011 (oito golos). 

Lautaro Martinez, do Inter, comemora
Lautaro Martinez, do Inter, comemora/IPA / Sipa Press / Profimedia

Perto do descanso, os nerazzurri beneficiaram do sétimo penálti esta temporada na competição, mais do que qualquer outra equipa. O remate certeiro de Hakan Calhanoglu foi o 12.º golo sofrido pelo Barcelona de Hansi Flick na primeira parte em 14 jogos na competição esta época. Só Feyenoord (13) e PSV (13) sofreram mais.

Com 15 toques na área do Inter, o mesmo que os anfitriões do outro lado, o Barça esteve no seu melhor nos primeiros 45 minutos, com seis remates contra apenas dois dos italianos. Os nove dribles e a taxa de sucesso de 44,4% foram exatamente iguais para as duas equipas, com Flick certamente desapontado com o domínio da posse de bola antes do intervalo (67,5%) e uma precisão de 86,8% nos passes que não levou a nada ao intervalo.

Uma impressionante remontada... para nada

Um quarto de hora depois do reatamento, os catalães voltaram a entrar no jogo graças a um vólei sensacional de Eric Garcia e a um golo de cabeça de Dani Olmo, o seu primeiro na competição desde o jogo contra o Brest, a 26 de novembro. 44,1% das ações tiveram lugar na área do Intern durante esse tempo, e os 75,2% de posse de bola do Barcelona nesse período indicavam que o jogo tinha mudado a seu favor.

Quando Raphinha aproveitou a recarga ao seu próprio remate e anotou o seu 13.º golo na competição (nenhum jogador tem mais), a maioria dos observadores ficou espantanda com mais uma remontada que levaria o Barça à final.

Frenkie de Jong tinha também efetuado 125 passes e Lamine Yamal nove remates, ambos os totais mais elevados de um jogador do Barcelona na competição esta época. Enfrentar um Inter conhecido pela sua excelência defensiva não era tarefa fácil, mas mesmo assim tudo ruiu.

Um golo de Francesco Acerbi, o segundo jogador mais velho a marcar numa meia-final da Champions, com 37 anos e 85 dias, depois de Ryan Giggs no Manchester United contra o Schalke em 2010/11, com 37 anos e 148 dias, e outro de Davide Frattesi, fizeram com que a equipa da casa se adiantasse na segunda meia-final com mais golos da história da Liga dos Campeões (depois de Liverpool 7-6 Roma em 2017/18).

Foi a oitava vez que o Barcelona foi eliminado nas meias-finais, o maior número de todas as equipas (empatado com o Real Madrid), e os 43 golos marcados pelos catalães só foram superados pelo próprio Barça (45 em 1999/00). Se Hansi Flick procura as razões pelas quais a sua equipa não chegou à final, 24 golos sofridos (o número mais elevado de sempre na Liga dos Campeões) seria um bom ponto de partida.

Notas dos jogadores.
Notas dos jogadores.Flashscore

No entanto, exceto os desarmes tentados, desarmes ganhos e interceções, o Barcelona foi melhor em todos os outros parâmetros da noite. Algumas, como a posse de bola (71,2% contra 28,8%) e os passes feitos (772 contra 313), foram tão ridiculamente favoráveis ao Barça que Flick deve estar ainda a perceber como uma equipa tão corajosa nas duas meias-finais acabou derrotada.

Para os neutros, foi um embate a duas mãos que ficará na memória e, sem dúvida, um dos melhores da história da Liga dos Campeões.

Jason Pettigrove
Jason PettigroveFlashscore