Jorginho é uma das figuras do Kairat Almaty, que surpreendeu ao garantir um lugar no play-off de acesso à fase de liga da Liga dos Campeões. O avançado português recorda a trajetória até este momento histórico na prova milionária e já aponta baterias para a eliminatória frente ao Celtic de Glasgow.
Recorde as incidências da partida
"A bola e a baliza são iguais em todo o lado".
Há dois anos, Jorginho jogava no Campeonato de Portugal, equivalente ao quarto escalão do futebol português, e era destaque do Pevidém, tendo terminado a temporada como melhor marcador da Série A, com 16 golos em 26 jogos.
Sem conseguir dar o salto para as provas profissionais, Jorginho começou a preparar o “plano B”, que passava por conciliar um trabalho das 6:00 às 14:00, numa empresa de qualidade em Braga, com o futebol. Foi em 2022/23 que a sua vida mudou.
Recebeu uma mensagem no Instagram do treinador-adjunto do Differdange, do Luxemburgo, e mudou-se para o Grão-Ducado para fazer história: campeão e melhor marcador do campeonato luxemburguês. Ainda começou a segunda temporada no Luxemburgo, mas surgiu o Kairat Almaty, do Cazaquistão, com uma proposta irrecusável. A vida a dar (outra vez) uma grande volta.

Um penálti para a história: "Parece que fiquei surdo"
Jorginho teve de se adaptar a uma realidade bem diferente daquela a que estava habituado: uma cultura de trabalho distinta, a barreira da língua e… a neve. “Nunca tinha visto tanta neve nas estradas”, refere o avançado português, em declarações exclusivas ao Flashscore.
"O futebol aqui é mais físico do que aquilo a que estava habituado. Em Portugal, preocupamo-nos mais com a organização e o jogo apoiado. Aqui, dá-se mais importância ao lado físico, às bolas em profundidade, ao contacto físico e a um jogo intenso. Mas faz parte. A bola e a baliza são iguais em todo o lado (risos)", atira.
Há pouco mais de um ano, ainda ao serviço do Differdange, Jorginho estreava-se nas competições da UEFA, na 1.ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões. Mas tem sido em 2025 que o português tem feito furor… e história, com o Kairat Almaty.
O emblema cazaque eliminou o Olimpija Ljubljana (Eslovénia), o KuPS (Finlândia) e o Slovan Bratislava (Eslováquia) para atingir, pela primeira vez na sua história, o play-off de acesso à fase de liga da Liga dos Campeões. E foi Jorginho quem marcou o penálti decisivo contra o Slovan.
"Pressão? Já me tinham feito essa pergunta, mas não. Não é por me achar mais do que os outros; naquele momento sentia era mais a pressão de chegar a minha vez, para saber se ia conseguir. Aí, sim, sentia mais a pressão, poi ouvia os assobios quando os meus colegas iam bater. Mas, quando começo a caminhar para a bola, parece que fiquei surdo, porque já não ouvia nada. Até tive um momento curioso: depois de marcar o penálti, houve meio segundo em que olhei para trás para ver se estava a valer ou não, porque estava um silêncio tremendo. Mas depois, claro, percebi o silêncio... Estávamos a jogar em casa deles e não iam festejar (risos)", justifica.

Venha o Celtic: "São 11 contra 11"
Com nove golos e dez assistências (oito no campeonato e duas na Europa) em 28 jogos com as cores do Kairat Almaty, Jorginho espera ajudar a equipa a escrever mais um capítulo na sua história europeia. No pior dos cenários, o Kairat garantirá presença na fase de liga da Liga Europa e isso já é motivo de celebração. Mas ainda há a possibilidade de alcançar a fase de liga da Liga dos Campeões. Para isso, é preciso ultrapassar o histórico Celtic.
"É impossível não pensarmos nisso. Nós queremos estar focados no campeonato, e estamos, até porque temos um jogo muito, muito importante, mas é impossível não ter o Celtic na cabeça, por tudo: das melhores atmosferas que há no futebol, no Celtic Park, play-off da Champions, e um histórico na Europa, pelos adeptos e pela história", conta o avançado português.
"O Slovan já era um gigante ao pé do Kairat, o Olimpija Ljubljana era um gigante ao pé do Kairat… porque não acreditar e sonhar? É um objetivo alcançável que temos. Se não fossemos jogar, não podíamos sonhar, mas como vamos… porque não? Isto são 11 contra 11 e depois logo se vê", defende.
A incrível mudança na vida de Jorginho
Voltamos ao ponto de partida. A 16 de abril de 2023, Jorginho marcava aquele que viria a ser o seu último golo com a camisola do Pevidém. Hoje, pouco mais de dois anos depois, sagrou-se, entretanto, campeão no Luxemburgo e continua a fazer história, agora noutras latitudes.
"Eu tenho de desfrutar o momento, só isso. Há dois anos estava a jogar no Campeonato de Portugal, amador, trabalhava e jogava, e de um momento para o outro as coisas mudaram. Tenho de aproveitar cada segundo, não desperdiçar tempo nenhum. Se, para o bem, isto muda rápido, para o mal muda ainda mais depressa. Continuo a sonhar, o limite é o céu e não quero ficar por aqui, mas tenho de aproveitar cada oportunidade, sobretudo nestas competições", assinala.
Convidado a deixar um conselho para todos os que vão alimentando o mesmo sonho nos escalões secundários em Portugal, Jorginho é claro: "O conselho que posso dar é que acreditem em vocês próprios. Depois, também não ponham os ovos todos na mesma cesta, porque nada é garantido e não é mau ter um plano B ou outras alternativas. Não estejam obcecados com o futebol, isso ajudou-me muito. Quando passei para o plano B, para o trabalho, tirou-me a obsessão do 'tem de ser'. Nunca deixou de ser o que eu queria, mas cheguei a um ponto em que, se não fosse, não havia mal nenhum. Há vários caminhos na vida para ter sucesso. Felizmente, no meu caso, deu a volta e foi no futebol".

Já sobre o futuro: "Tenho contrato, as coisas estão a correr bem, e tenho de continuar a fazer os meus números e a valorizar-me. Não sou um jogador novo e a estabilidade também é algo importante em que tenho de pensar".