Shakhtar recebe Barcelona com uma mensagem: "Ninguém nos conseguiu destruir"

A equipa do Shakhtar posa para uma fotografia antes do jogo contra a Ucrânia
A equipa do Shakhtar posa para uma fotografia antes do jogo contra a UcrâniaAFP

O Shakhtar Donetsk recebe o Barcelona na Liga dos Campeões na terça-feira, na cidade alemã de Hamburgo, a mais recente "casa europeia" para a equipa que foi forçada a sair da Ucrânia para jogar nas provas europeias, após a invasão da Rússia em fevereiro de 2022.

Os campeões espanhóis, que venceram por 2-1 em Barcelona na terceira jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões, são favoritos à vitória, mas o diretor executivo do clube ucraniano, Sergei Palkin, disse à AFP que o Shakhtar não está apenas interessado na vitória.

"Para nós, é muito importante mostrar ao mundo inteiro que a Ucrânia está viva e que ninguém conseguiu destruir-nos", afirmou.

O facto de o Shakhtar não só continuar a jogar como estar prestes a receber um dos maiores clubes do mundo é uma prova da resiliência do clube e dos adeptos.

A classificação do grupo do Barcelona
A classificação do grupo do BarcelonaO grupo da Liga dos Campeões

"Ninguém pensava em futebol"

O Shakhtar foi obrigado a abandonar o seu estádio, o Donbas Arena, em Donetsk, no leste da Ucrânia, depois de os separatistas apoiados pela Rússia terem tomado o controlo da região em 2014.

O estádio de 50 000 lugares, inaugurado com um concerto da cantora norte-americana Beyoncé em 2009, acolheu os quartos de final e as meias-finais do Euro-2012, mas não foi utilizado na década que se seguiu, tendo o Shakhtar disputado jogos casieors em Lviv, Kharkiv e Kiev.

Depois veio a invasão russa em grande escala do país, em fevereiro de 2022.

"Quando a guerra começou, ninguém pensou em futebol. A ideia principal era como sobreviver", disse Palkin.

Depois de ajudar os jogadores e o pessoal estrangeiro a deixar a Ucrânia, o Shakhtar transformou as suas instalações num abrigo para as pessoas deslocadas pela guerra no leste do país.

"Só após isso é que pensámos em como poderíamos relançar e começar a jogar novamente. O nosso objetivo era enviar uma mensagem adequada a toda a Europa", afirmou Palkin.

O Shakhtar levou os seus jogos europeus para a Polónia na época de 2022/23, mas, com a qualificação do Legia Varsóvia para a Europa em 2023/24, o clube ucraniano precisava de uma nova casa internacional.

Hamburgo e o Volksparkstadion, com capacidade para 51 500 pessoas, foram os escolhidos.

A Alemanha apoia a Ucrânia, Hamburgo apoia o Shakhtar

O Hamburgo foi campeão europeu em 1983 e seis vezes campeão alemão, mas agora está na segunda divisão do futebol germânico. A última vez que a equipa disputou a Liga dos Campeões foi em 2006/07, e os responsáveis sentiram que era o momento certo para o retorno do famoso hino da competição.

"Analisámos a situação e decidimos dar um salto para a Alemanha e para Hamburgo... contactámos o clube e fomos muito bem recebidos", afirmou Palkin.

O público de Hamburgo também acolheu calorosamente a equipa, com uma multidão de 46 700 pessoas a assistir ao jogo de estreia contra o FC Porto, em setembro, que o Shakhtar perdeu por 1-3.

O Serviço Federal de Migração alemão estima que mais de um milhão de refugiados tenham fugido da Ucrânia para a Alemanha desde fevereiro de 2022.

O médio do Shakhtar, Georgiy Sudakov, de 21 anos, que marcou um golo na derrota da sua equipa contra o Barcelona, disse à AFP: "Tivemos um grande apoio no jogo contra o FC Porto, sei que eles gostam muito de futebol lá (em Hamburgo). Acho que veremos ainda mais apoio no jogo contra o Barcelona."

O defesa veterano do Shakhtar, Taras Stepanenko, disse à AFP que a equipa tinha sido bem recebida por todos, "até pelos Ultras de Hamburgo". "A Alemanha apoia a Ucrânia, o Hamburgo apoia o Shakhtar. Vimos o ambiente no estádio (contra o Porto), foi muito fixe. Só podemos expressar a nossa gratidão", disse.

O duelo com o Barcelona
O duelo com o BarcelonaAFP

"Voltaremos"

Embora o futebol permita aos adeptos e aos jogadores um meio de fuga, a realidade da guerra volta regularmente à tona.

Em setembro, o guarda-redes Dmytro Riznyk perdeu o irmão, Serhii, que morreu devido a ferimentos provocados pela explosão de uma mina.

Stepanenko, aos 34 anos, um veterano e um líder no balneário, disse que "por vezes ouvimos dizer que o irmão ou o pai de alguém morreu enquanto defendia a Ucrânia".

"Infelizmente, a guerra leva os melhores homens, os jovens, muitos soldados e civis morreram.São eles os verdadeiros heróis da Ucrânia e das suas famílias. Ficar-lhes-emos gratos para o resto das nossas vidas", atirou.

Ninguém sabe por quanto tempo mais a guerra continuará a devastar a Ucrânia, mas Palkin e os jogadores sonham frequentemente em regressar a uma Arena do Donbas com lotação esgotada quando o país estiver novamente em paz.

"Donetsk é a nossa casa e é muito difícil deixar a nossa casa", disse Palkin: "Este é o nosso sonho e vivemos para ele".

Stepanenko, ao serviço do Shakthar
Stepanenko, ao serviço do ShaktharAFP

Stepanenko, que entrou para o Shakhtar em 2010 e é um dos últimos jogadores a ter jogado no relvado do Donbas, concorda.

"Este sonho está sempre comigo. É o meu sonho e acredito que se vai tornar realidade, porque esta é a nossa cidade, a nossa casa, e vamos definitivamente voltar para lá", concluiu.