Entrevista Flashscore a Jonas: "O que eu vivi no Benfica não tem comparação possível"

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Entrevista Flashscore a Jonas: "O que eu vivi no Benfica não tem comparação possível"

Jonas, aos 39 anos, continua a seguir de perto a atualidade do Benfica
Jonas, aos 39 anos, continua a seguir de perto a atualidade do BenficaTânia Paulo/SL Benfica
Cinco épocas no Benfica, com quatro campeonatos conquistados, uma Taça de Portugal, uma Supertaça e uma Taça da Liga. Golos? Foram 137 em 189 jogos oficiais.

Aos 39 anos, Jonas continua a ser um dos maiores nomes da história recente dos encarnados e, em entrevista exclusiva ao Flashscore, recorda os tempos de águia ao peito, analisa a atual temporada e fala-nos de Arthur Cabral e, sobretudo, Marcos Leonardo, compatriotas que lhe sucedem, agora, na missão de fazer golos perante os adeptos que nunca mais esqueceu.

- Olhando para trás, depois de estar retirado. Valeu a pena?

- Em primeiro lugar, é um prazer estar a falar com vocês. Realmente, valeu muito a pena. Todo o esforço, toda a dedicação, o sacrifício também, de sair de casa. A minha história é um pouco engraçada, comecei tarde no futebol, com 20 anos, mas realmente valeu muito a pena. É o que eu sempre sonhava, ser um jogador profissional de futebol, jogar numa equipa grande do Brasil e foi além disso. Acabei por ter os meus momentos no Brasil, os meus anos de trabalho, depois tive a oportunidade de jogar na Europa, em dois países fantásticos, pelos quais tenho muito carinho. Joguei grandes competições, contra grandes equipas, grandes adversários, tive muitos companheiros que me ajudaram nesse percurso e também fui convocado pela seleção do meu país, algo que é muito difícil. Então, olhando para trás, valeu muito a pena e agradeço muito, principalmente à minha família, ao meu pai, que insistiu muito, quando já estava quase a dar por encerrado o meu sonho, e ele acabou por ligar a um treinador, insistindo e esse treinador, que ainda ontem falei com ele, tenho contacto com ele até hoje, deu-me a oportunidade de continuar em busca do meu sonho.

- O Jonas é a prova viva que nunca desistindo, atinge-se aquilo que se pretende.

- Exatamente. Sempre joguei futebol, tenho uma família onde os meus pais sempre apoiaram o desporto e os estudos. Eu sou o mais novo e os meus irmãos sempre jogaram à bola, também queriam ser jogadores de futebol. Eu sou o mais novo, ficava muitas vezes fora da equipa, porque era muito pequeno, e aí com 12 anos fiz uma avaliação, na minha cidade, acabei por passar, foi o Guarani de Campinas que foi lá fazer os testes. Depois fui lá, fiquei uma semana, vim embora. Depois com 15 anos voltei novamente, fiquei um mês e vim embora com saudades da família. Nessa altura comecei a pensar mais nos estudos do que no futebol. Acabei o ensino secundário, comecei o curso de farmácia, fiz dois anos e depois mantive a matrícula mas fui em busca do meu sonho e deu certo.

Os números de Jonas
Os números de JonasFlashscore

- Deu tão certo que o Jonas em 606 jogos no futebol profissional marcou 299 golos, ficou a um de uma marca redonda. Em números redondos dá uma média de meio golo por jogo. É uma marca excelente.

- Pelos meus cálculos tenho 300 golos, mas pronto, cada um tem os seus cálculos, mas o importante é que a média de golos por jogo é interessante. E não é fácil, jogando em grandes clubes, que exigem muito. Quando era menino sempre tinha essa obsessão pelo golo. Sempre joguei a médio, como número 10, na formação. Depois com o tempo fui aprofundando mais, ficando mais próximo da área, sempre à procura do golo. Acho que já está no sangue.

- Ao serviço do Benfica marcou 137 golos. Devido aos títulos que também ganhou, foi a fase mais bonita da sua carreira?

- Com certeza, sem dúvida nenhuma. O Benfica foi o clube onde estive mais tempo, o clube onde ganhei mais títulos, onde tive mais reconhecimento. Foi tudo, e numa altura em que, depois dos 30 anos, a tendência do jogador é render menos. Claro que hoje já existem muitas coisas que ajudam os jogadores a prolongar a carreira ao mais alto nível. Tudo se modernizou, a parte física, a fisiologia, tudo ajuda. Eu naquela época cheguei com 30 para 31 anos, com muita ambição, mas não imaginava viver tudo aquilo que vivi no Benfica. Fiquei muito feliz e muito grato.

Jonas e a relação com Jorge Jesus
Jonas e a relação com Jorge JesusOpta by Stats Perform/SL Benfica

- Foi duas vezes o melhor marcador da Liga Portugal, numa altura em que o Benfica tinha uma equipa muito forte, liderada por Jorge Jesus que, curiosamente, acaba também por treinar no Brasil. Que memórias tem desses tempos com Jorge Jesus, um treinador muito exigente mas de quem todos os jogadores dizem aprender muito com ele?

- As melhores lembranças. Quando eu cheguei ao Benfica era Jorge Jesus o treinador e tirou o meu melhor naquele ano. Em dois meses já estava a jogar aquilo que nunca imaginei que pudesse jogar. Eu tinha chegado do Valência, não tinha feito uma boa pré-temporada, estava a decidir se ficava no clube ou não, estava a treinar um pouco separado da equipa. Eu chego ao Benfica e ele exigiu tanto da minha parte física, principalmente, que depois dentro de campo parecia que eu estava a flutuar, a voar. É um treinador pelo qual tenho muito carinho, respeito, ajudou-me muito. Se não foi o melhor, está entre os melhores treinadores pelos quais fui treinado. Trabalhei apenas um ano com ele mas desejava que tivessem sido mais.

- Trabalhou com Jorge Jesus, Rui Vitória e Bruno Lage, no Benfica, e no Valência com Miroslav Dukic, Unai Emery e Mauricio Pellegrino. Todos grandes nomes do treino na Europa mas, voltando a Jorge Jesus, não o surpreendeu, então, o sucesso que teve no Brasil pelo Flamengo.

- Nada. Quem já foi treinado por Jorge Jesus sabe o potencial e a qualidade que ele tem. Claro que tem anos que funciona, outros não, mas no Brasil ele foi fundamental para que o Flamengo tivesse aqueles anos de muitas conquistas e vitórias. O Jorge Jesus ficou marcado e esse ano em que eles ganharam praticamente tudo vai ser lembrado para sempre, porque não é fácil fazer aquilo, principalmente no Brasil, com tantos jogos, tantas competições, viagens… é um continente muito grande, é diferente de jogar em Portugal, Espanha, Itália… O desgaste é muito maior e ele fez um grande trabalho no Brasil.

- Falando no Brasil, Abel Ferreira está no Palmeiras desde 2020 e renovou agora, até 2025. Surpreendeu-o o sucesso do treinador português no campeonato brasileiro? Como é que no Brasil se percebe a ideia do treinador português?

- Acho que foi muito importante essa troca de conhecimentos, de treinadores estrangeiros a chegarem ao Brasil. Não temos grande historial de treinadores brasileiros a saírem para o estrangeiro. A maioria dos casos mais recentes não tiveram grande sucesso, o Brasil não é um grande exportador de treinadores mas tem importado muito. Os portugueses, claro, com a vinda do Jorge Jesus, Abel Ferreira, do próprio Vítor Pereira, que fez um trabalho muito bom no Corinthians, bem como outros estrangeiros, misturado com jovens treinadores brasileiros, como o Fernando Diniz, formam uma mescla que ajuda no desenvolvimento do futebol brasileiro, que evolua e cresça.

- Certamente continua a acompanhar o Benfica, ainda há pouco tempo esteve no Estádio da Luz. Que mudanças sentiu?

- Foi pouco tempo, foi uma distinção que tive, fiquei mais dois dias em Lisboa e voltei ao Brasil. Estou a programar regressar em abril, ficar mais dias, levar pela primeira vez, desde que terminei a carreira, a minha família, as minhas filhas, os meus irmãos, sobrinhos, enfim… Mas não senti novidades no Benfica. A cada ano que passa tem as suas inovações, mas o Benfica tem tudo o que um jogador precisa para crescer, desenvolver, sobretudo os jovens. Percebi, claro, aquela tecnologia das luzes antes do jogo no Estádio da Luz, que na minha época não existia. Está muito mais bonito mas essa parte nunca sabemos quando pára. Até brinquei um pouco com o Luisão sobre isso e ele disse-me: ‘Joninhas, nem sei onde vai parar este clube. A cada ano tem uma novidade’. Isso acrescenta muito aos jogadores. O Benfica tem feito isso desde há muitos anos, é por isso que tem sido frequentemente destaque entre os clubes europeus.

- Conhece bem a pressão dos adeptos do Benfica, sobretudo quando falamos em avançados. O clube tem agora dois brasileiros. Um chegou primeiro, o Arthur Cabral, e agora o Marcos Leonardo, que chegou e já marcou dois golos. O Benfica está bem servido de avançados?

- Todos os jogadores que o Benfica contrata, seja para o ataque, meio-campo, defesa, com certeza houve um estudo antes. O scouting do Benfica faz sempre o melhor para o clube. Claro que entre tantas contratações há umas que dão certo, outras não. É normal, faz parte do jogo. Mas torcemos sempre que a maioria dê certo, aí é sinal que o clube está bem e isso conta muito durante a temporada. Mas sem dúvida que jogar no Benfica, como jogar no FC Porto ou no Sporting, há muita cobrança. Aqui no Brasil existem muitas equipas grandes, enquanto que em Portugal gira em torno desses três, com o SC Braga por perto. Às vezes passas em branco um jogo, às vezes dois, e isso pode custar-te o campeonato. Aqui no Brasil ainda dá tempo para correr atrás. Sempre tinha na minha mente que em cada jogo tinha de fazer pelo menos um golo. Tinha plena noção da cobrança. Realmente é diferente a cobrança que existe em Portugal e no Brasil.

Jonas e a análise a Marcos Leonardo, reforço do Benfica
Jonas e a análise a Marcos Leonardo, reforço do BenficaOpta by Stats Perform/SL Benfica

- Os adeptos em Portugal, sobretudo os do Benfica, já conhecem Arthur Cabral. O Marcos Leonardo chegou agora. O que pode dizer sobre as características dele?

- Dos poucos jogos que vi dele o que mais me chamou a atenção foi o remate, o poder de finalização dele. É um jogador muito frio perto da área, posiciona-se muito bem e finaliza como poucos. O Benfica fez uma grande contratação, um jovem jogador, com uma projeção muito grande e está no clube certo porque quando se fala em jovens jogadores, para evoluir, para crescer, para poder vir a ser rentável para o clube, o Benfica é a equipa ideal.

- Que conselhos é que o Jonas daria a todos os miúdos que esperam poder vir a ser jogadores profissionais de futebol?

- Temos muitos adjetivos de que poderíamos falar mas acho que o principal é a dedicação. Saber o que quer e dedicar-se a isso. Treinar, ter o sacrifício de não sair, não se divertir com os amigos porque no dia a seguir há jogo. Esses pequenos detalhes mais à frente fazem a diferença. Focar naquilo que se quer, dedicar-se, abdicar de muitas coisas, porque faz parte da profissão, e correr atrás dos sonhos. Nada vem de graça.

- Que maiores recordações tem da sua passagem por Portugal? Do que é que ainda hoje sente alegria em falar?

- Tenho muitas coisas no meu dia a dia aqui no Brasil, que eu lembro-me muito de Portugal, de Lisboa, do Benfica, principalmente. Não só eu, como a minha esposa. Às vezes ouvimos uma música e lembramo-nos de Lisboa. Depois há a memória de uma hora muito específica: 12:34. A esse horário eu estava a fazer banhos frios, olhava para o relógio e estava lá: 1, 2, 3, 4. Em sete dias da semana, em quatro deles olhava para o relógio e era essa a hora. Às vezes estou em casa, vamos almoçar, olho para as horas e são 12:34, lembro-me logo do Benfica. E a minha esposa é 19:04. Estamos em casa para jantar, ou noutro local, ela olha para o telemóvel e são 19:04, os tais 1904, ano de fundação do Benfica. Há algumas coisas que até hoje levamos connosco e as boas memórias… fica difícil escolher assim as melhores. Desde a minha chegada até à minha saída, fui muito feliz no Benfica. Até nos momentos mais tristes, como em 2017/2018, quando perdemos o campeonato para o FC Porto, eu sabia que não íamos ganhar sempre. Mas eu estava num grande clube, numa grande cidade, num grande país, vivendo muito bem, ao lado da minha família, a ver as minhas filhas a crescer, elas felizes também. Esse período todo de cinco anos foram apenas coisas boas.

- Foram cinco anos de coração cheio em Portugal.

- Exato. Até quando tive as minhas lesões graves, a cervical, coluna lombar, tornozelo, até nesses momentos eu ganhava força. Pensava: ‘Cara, eu estou no paraíso’. Um clube que me dava toda a estrutura para eu recuperar, o carinho do clube e dos adeptos era sensacional. Acordava de manhã e ia sempre feliz. Tanto é que morei em Espanha, em Valência, numa grande cidade, um clube fantástico. Aqui no Brasil também joguei em grandes clubes mas o que eu vivi em Lisboa e no Benfica… esquece, não tem comparação possível, é até cobardia comparar.

As últimas lesões de Jonas
As últimas lesões de JonasFlashscore

- Que análise faz à Liga Portugal este ano, com o início da segunda volta e Sporting e Benfica à distância de um ponto?

- Eu acompanho sempre, sou benfiquista. Aqui no Brasil sou do Corinthians e depois do Benfica. Lá fora, sou primeiro do Benfica e só depois do Corinthians. Aqui vou ao estádio algumas vezes, com a minha família, gostamos muito. Moro em Ribeirão, tem o Botafogo, que joga no Paulista. O Benfica acompanho sempre pela televisão e esta temporada está tudo equilibrado, como sempre foi na época que estive aí. É sempre um, dois pontos. Mas o Benfica está forte, vem a crescer durante a temporada e isso é muito bom, para que possamos terminar a época em primeiro. Tem uma equipa muito competitiva e a diferença são poucos pontos entre as equipas. Até ao fim, como sempre foi, eu acredito.

Jonas continua a acompanhar de perto a Liga Portugal
Jonas continua a acompanhar de perto a Liga PortugalOpta by Stats Perform/SL Benfica

- Viveu alguns dérbis de Lisboa. O que sentia antes desses jogos?

- São jogos diferentes. Durante a semana a imprensa vai alimentando também. Não é um jogo qualquer, até pela rivalidade. Jogar em grandes palcos como Luz, Dragão e Alvalade, a própria rivalidade alimenta isso. Grandes jogos, duros, bem difíceis. Lembro-me que no período em que estava aí, a maioria deu empate. São jogos muito equilibrados, com muito estudo e que são aqueles jogos extra da competição, que os adeptos adoram.

- Aos 39 anos, está completamente desligado do futebol ou ainda pensa em regressar noutras funções?

- Estou fora do futebol. Hoje o meu foco é muito familiar. Moro perto dos meus pais, da família da minha mulher. Para já não penso. Não quero ser treinador nem dirigente, ficar afastado da minha família como quando era jogador. No futuro, talvez daqui a 5 ou 10 anos, se voltar, talvez seria para ajudar alguns jovens com potencial, ajudar na gestão. Mas para já não, estou mais focado na minha família.