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Entrevista Flashscore a Mattheus Oliveira: "Sou português desde os 15 anos, amo Portugal"

Mattheus Oliveira cumpre segunda época no Farense
Mattheus Oliveira cumpre segunda época no FarenseSC Farense
Mattheus Oliveira é mais do que o "filho do Bebeto". Não foi fácil crescer sobre essas comparações, mas o médio conseguiu construir o seu próprio caminho. Chegou a Portugal em 2014, então para representar o Estoril, e concretizou um sonho ao assinar pelo Sporting, embora tenha passado lá o "pior momento" da carreira. Em entrevista ao Flashscore, Mattheus recordou o passado e falou sobre o presente e futuro no Farense.

"Objetivo é a manutenção"

- Qual o objetivo do Farense para esta temporada? Passa por estabilizar o clube na Liga Portugal?

- Com certeza. A última vez que o Farense esteve na Liga acabou por descer de divisão, por isso a manutenção é muito importante para o clube ter estabilidade após o primeiro ano. Portanto, o principal objetivo do Farense é a manutenção.

Os números de Mattheus
Os números de MattheusFlashscore

- Que influência teve o mister José Mota na subida?

- O mister foi muito importante. Tem muita experiência, já subiu muitas equipas e é um treinador que puxa muito pelos jogadores. Tivemos jogos em que não jogámos tão bem, mas mostrámos uma alma e vontade enormes. Desde que o mister Mota chegou tivemos apenas uma derrota e isso diz muito da sua importância na subida.

- E os adeptos?

- Um dos principais motivos foram os adeptos. Eles proporcionam um ambiente diferente do que estava habituado para a Liga Portugal 2. Notei que eram diferentes logo desde a minha chegada com o estádio cheio na segunda liga. Assim, o jogador sente-se mais jogador. Quando temos jogos em casa, Faro pára e todos vão ao estádio.

Mattheus assume paixão por Portugal
Mattheus assume paixão por PortugalSC Farense

- O Mattheus já está em Portugal desde 2014... 

- Muito tempo! Portugal é a minha segunda casa. Já passei mais anos em Portugal como profissional do que no Brasil. Muitos não sabem, mas sou português desde os meus 15 anos e a minha segunda filha nasceu em Lisboa. Eu e a minha família somos muito felizes. Amo Portugal.

- Como passa os seus dias?

- Sou uma pessoa muito tranquila. Sou muito de estar com a família, de almoçar com a minha esposa e ir ao parque com a minha filha. O meu dia a dia é deixar a minha filha na escola, ir para o treino e depois fazer atividades com a minha família. Sou muito caseiro.

Acompanhe o próximo jogo do Farense no Flashscore

- O que mais o surpreendeu quando chegou a Portugal?

- A evolução do campeonato português. Quando cheguei ao Estoril, nem todos os jogos eram passados na TV. No Brasil todos eram passados. Mas a proporção que tomou o campeonato português é absurda. Vês os jogadores da seleção portuguesa e são todos jogadores de grandes clubes. Até mesmo os treinadores. É um país que respira futebol e foi muito bacana acompanhar esta evolução.

- Atualmente, o que gosta mais?

- Adoro estar perto da praia. Adoro um clima em que não chova tanto e aqui em Faro tenho isso. Gosto da tranquilidade e da segurança e aqui em Portugal também temos isso. Conseguimos ter uma qualidade de vida excelente. Posso sair de casa com a família sem grandes problemas.

Mattheus Oliveira assinou pelo Sporting em 2017
Mattheus Oliveira assinou pelo Sporting em 2017Sporting CP

"Aquele período no Sporting foi o mais triste"

- Disse há pouco que tem a nacionalidade portuguesa desde os 15 anos. Algum dia chegou a pensar que podia representar a seleção portuguesa?

- Os meus amigos sempre perguntaram isso, sobretudo quando fui para o Sporting. O meu sonho sempre foi vestir a camisola da seleção brasileira, mas hoje, pelo carinho e forma como o país me acolheu e por me sentir um luso-brasileiro, não teria qualquer problema. Seria a forma de retribuir o carinho que os portugueses sempre me deram.

- Estoril, Sporting, Vitória de Guimarães, Mafra e Farense. Como tem sido o percurso?

- Teve altos e baixos. Alguns momentos de alegria e dificuldade. Mas os momentos de alegria foram sempre maiores...

- Diga-me um...

- Posso dizer vários. A qualificação com o Vitória (de Guimarães) para a Liga Europa; a época que fiz no Estoril e que deu a minha venda ao Sporting. Foi um sonho realizado, porque vim para Portugal para dar esse salto. Poderia mencionar mais, mas estes foram os principais.

O raio de ação de Mattheus no último jogo
O raio de ação de Mattheus no último jogoSC Farense/Opta by Stats Perform

- Momento mais triste?

- Foi quando fiquei algum tempo sem jogar. Aquele período no Sporting foi o momento mais triste da minha carreira, embora tenha sido importante passar por aquilo para mudar a mentalidade. O meu pai sempre me disse que sem sacrifício não chegamos a lado nenhum. Eu amo jogar futebol e estar sem fazer o que se ama é complicado...

- Sente que podia ter feito mais no Sporting?

- A equipa era muito forte. Quando cheguei diziam que o William e o Adrien iam ser vendidos e não foram, o meio-campo da seleção portuguesa era William, Adrien e Bruno Fernandes. Fiz tudo o que estava no meu limite, tanto que o mister Jorge Jesus disse que estava satisfeito. Faltou sequência. Nos jogos em que tive oportunidade joguei bem, tinha muita vontade, mas entendo também que era um período difícil. Não acho que tenha corrido mal, mas tenho a cabeça tranquila porque fiz tudo o que podia ter feito.

Mattheus mudou-se para Faro a meio da temporada 2022/23
Mattheus mudou-se para Faro a meio da temporada 2022/23SC Farense

"Sou muito grato ao Coates"

- Como é que o Mattheus olha para a forte presença dos treinadores portugueses no Brasil?

- Vejo de forma muito positiva. Cria-se muita polémica, mas tem grandes treinadores portugueses. O Abel e o Jorge Jesus fizeram uma história fantástica... O Bragantino (do Pedro Caixinha) está a fazer uma campanha espetacular e o mister António Oliveira também está a fazer uma campanha muito boa com o Cuiabá. Independentemente da nacionalidade, o importante é o crescimento. Por exemplo, o Brasil há muito tempo que não conquista o Mundial. Temos os melhores jogadores e é super importante ter os treinadores portugueses para ajudar.

- Acredita que o Ancelotti pode devolver os títulos ao Brasil?

- Acho que sim. Foi muito vencedor por onde passou. Venceu nas cinco principais ligas. Em termos de títulos, acredito que escolhemos o certo. Uma coisa curiosa do Ancelotti, dá-se muito bem com os brasileiros. Não tenho preconceito nenhum (em relação a treinadores estrangeiros).

Os próximos jogos do Farense
Os próximos jogos do FarenseFlashscore

- Escolha três treinadores e alguns jogadores que o tenham marcado.

- Treinadores: Jorge Jesus, Luís Castro e não podia esquecer o Joel Santana, um treinador histórico no Brasil e que foi a primeira pessoa a dar-me uma oportunidade no profissional.

Em relação a jogadores: o Bruno Fernandes é o número um; Rafael Leão, um jogador que vi treinar pela primeira vez e pensei logo que ia ser craque de bola; Mathieu, um jogador espetacular e com uma qualidade técnica impressionante; e Ronaldinho Gaúcho. Estive pouco tempo com ele, mas nunca vi ninguém com a magia e qualidade técnica dele. Por último, tenho de mencionar o Seba Coates, porque foi muito importante quando estive no Sporting. É um líder nato e ajudou-me bastante na adaptação. Sou muito grato a quem me ajudou.

- Impossível não terminar a falar sobre o seu pai (Bebeto). Que importância teve na sua carreira?

- O meu maior ídolo é o meu pai. Felizmente, nasci com pais presentes e importantes na minha vida. Só posso dizer que é um privilégio ter um ídolo dentro de casa. Conversou sempre muito comigo e passou-me valores que guardo até hoje. Muita humildade, respeitar todos, desde o presidente ao roupeiro, e muito sacrifício. Ele soube sempre que eu por ser filho dele tinha de provar duas vezes mais do que os outros. Por isso, humildade, respeito e sacrifício são os três pilares que ele me transmitiu e que carrego para sempre na minha vida.

A posição classificativa do Farense
A posição classificativa do FarenseFlashscore