O nível dos dois clubes é completamente diferente. Enquanto o Burnley estava na elite inglesa há um ano e regressa agora, depois de um período dominante e cheio de futebol de qualidade, aproximando-o da elite da ilha, no Wrexham a história é bem diferente.
Transformação e... Shrek
Por esta altura, no ano passado, os Clarets esperavam manter-se na Premier League por mais uma época, mas os maus resultados das últimas rondas condenaram-nos à despromoção. O desespero e a falta de esperança eram evidentes, não só entre os adeptos, mas também entre a direção. "O que é que vai acontecer ao clube?", perguntaram repetidamente.
O prazo de transformação foi o que afastou a tristeza.
No Burnley, disseram a si próprios que tinham de mudar as coisas e começar os processos do zero para seguir em frente. "Um regresso às origens, uma nova identidade e um novo estilo e um olhar constante para o futuro", anunciou o diretor executivo do clube, Mark Thompson, durante a conferência SportsPro LIVE, em Londres.
Resumindo: reduziram rapidamente o número de funcionários, concentraram-se no desempenho e no caráter das pessoas, e também utilizaram o tema do conto de fadas Shrek para anunciar a transferência e dar início a uma nova era que rapidamente chegou a um público mais global.
"A única forma de ganhar respeito é trabalhar arduamente. E não se trata de tamanho, mas sim de empenho", confirmou o treinador da equipa, Vincent Kompany, para quem esta é a primeira passagem do género pelas ilhas.
Quatro meses de princípios
O resultado? Depois de um início mais morno e de 26 pontos conquistados nos primeiros 15 jogos da temporada 2022/23, chegou a esperada arrancada rumo à subida. Os 30 jogos seguintes significaram 72 pontos e uma promoção certa à Premier League por larga margem.
E isso graças a um futebol bonito, sob o comando de Kompany, que frequente e alegremente se inspira no Manchester City de Pep Guardiola, onde ele próprio tinha sido um jogador de sucesso.
"Demora cerca de quatro ou cinco meses para entender os princípios do que requer mudança", disse Kompany logo após a sua chegada. E cumpriu à risca o que disse. Depois desse período, os acontecimentos e os resultados começaram a girar na direção certa.
Só no final da presente época é que se registou uma ligeira quebra de resultados, provocada pela certeza da subida à Premier League. Mas também houve uma recompensa, quando a lenda da NFL, JJ Watt, e a sua mulher Kealia, tornaram-se, pelo menos por enquanto, proprietários minoritários do Burnley.
Isso significa uma coisa: os Clarets podem esperar, agora, um futuro feliz.
Hollywood no País de Gales
Entretanto, alguns níveis mais abaixo, foi divulgada uma história em que o adjectivo Hollywood não é apenas uma tentativa de gerar artificialmente mais interesse.
Em 2020, o clube galês Wrexham AFC foi comprado aos adeptos pelos atores Ryan Reynolds e Rob McElhenney, dando início a uma era de conto de fadas para uma equipa vulgar, que faliu em 2008 e foi obrigada a abandonar o futebol profissional. Uma era que, três anos depois, significa um regresso à quarta maior competição: a League Two.
"O quê, isto é um ginásio? Bolas!", admirou-se Reynolds ao receber o novo "brinquedo", analisando o que ele e o amigo tinham realmente comprado. E puseram mãos à obra.
"Hoje está melhor, definitivamente muito melhor", recordou o diretor, Humphrey Ker, na conferência de Londres, sobre as novas celebrações do progresso. "Mas não há outra forma de nos sentirmos senão bem quando entramos no futebol profissional", acrescentou.
10 mil dólares para a quinta liga
Em três anos, os rapazes americanos colocaram mãos à obra, e o sucesso desportivo é apenas mais uma das muitas recompensas que sublinham a sua diligência.
Graças às suas origens, conquistaram um grande público nos Estados Unidos, onde o gosto pelo futebol europeu está a crescer cada vez mais, e já estão a planear jogos contra Chelsea e Manchester United. Mais uma prova de que estão a falar a sério, obviamente.
Além disso, foi realizado um documentário para a plataforma Disney+, intitulado Welcome to Wrexham, que retrata tudo o que se passa no clube de uma forma divertida e animada.
Um dos protagonistas é o guarda-redes Ben Foster, com centenas de jogos nas principais competições inglesas. Também ele assistiu com espanto à presença de quase 10.000 adeptos no quinto jogo do campeonato.
"Não podemos ser subestimados se tivermos o dinheiro", é a mensagem de um clube que continuará a ser muito falado nos próximos meses. Aconteça o que acontecer com o franchise de Hollywood, e apesar do facto da estrela Gareth Bale não ir (ainda?) reforçar a equipa...