Os jogadores de futebol ingleses sempre estiveram associados ao facto de jogarem na Premier League. Se pensarmos em jogadores famosos da seleção inglesa que jogaram noutros países, vêm-nos à cabeça nomes como David Beckham ou Michael Owen. No entanto, já há algum tempo que estes dois não correm nos relvados verdes. Na história recente do futebol, estes casos dificilmente acontecem.
É possível que tenham existido alguns antes, como Kevin Keegan, que ganhou a Bola de Ouro por jogar na Bundesliga, Gary Lineker, que marcou golos no Camp Nou, e Chris Waddle, Trevor Francis e David Platt, que tiveram sucesso noutras ligas. Ao mesmo tempo, porém, os ingleses continuam a ser associados exclusivamente à Premier League. Pense em Alan Shearer. Qual é a camisola que ele veste na sua imaginação? Provavelmente no Newcastle. E Wayne Rooney? Provavelmente no Manchester United. Tal como Frank Lampard no Chelsea e Steven Gerrard no Liverpool. A norma.
Nos últimos anos, temos assistido a saltos individuais de futebolistas ingleses para outras ligas, afinal, com Chris Smalling a mudar-se para a Roma e, mais tarde, no mesmo local, a ter a companhia de Tammy Abraham, que elogiou muito a mudança de ambiente e o facto de jogar em Itália. Callum Hudson-Odoi, por outro lado, coleccionou uma dúzia de jogos na Bundesliga. No entanto, sejamos honestos, estes não são os nomes que aparecem nas primeiras páginas dos jornais e não geram assim tanto entusiasmo.
A situação mudou radicalmente nesta janela de transferências. Entre os 26 jogadores convocados por Gareth Southagte para o Mundial do Catar, havia apenas um nome de fora da Premier League. Trata-se de Jude Bellingham, que fez carreira no Borussia Dortmund. No verão, no entanto, ele entrou em um nível ainda mais alto, pois o Real Madrid contratou-o e gastou 100 milhões de euros no jovem inglês. Algumas semanas mais tarde, os ingleses sofreram outro choque. Harry Kane, o melhor jogador da Inglaterra e capitão da seleção nacional, decidiu abandonar o campeonato inglês e partiu para marcar golos no Bayern de Munique.
Assim, podemos ser tentados a dizer que dois dos melhores futebolistas ingleses estão atualmente a jogar fora da melhor liga do mundo. O caso de Bellingham é interessante na medida em que é um inglês de carne e osso, joga na seleção nacional, treinou em clubes ingleses, é avaliado pelo Transfermarkt em 120 milhões de euros e.... não disputou um único jogo na Premier League. Acabou por fazer 41 jogos no Championship.
Após três jogos na La Liga com as cores do Real, tem quatro golos a seu favor e é uma verdadeira revelação na competição espanhola. No futebol, podemos sempre esperar o inesperado e as coisas podem virar de pernas para o ar de semana para semana, mas é seguro imaginar uma situação em que Bellingham chegue ao próximo Euro e ao Campeonato do Mundo de 2026 como jogador do Real. E estará a abrir um novo caminho para os futebolistas ingleses, afinal, Beckham mudou-se para o Real depois de uma carreira brilhante no Manchester United e não estava no seu auge em Madrid.
A situação é completamente diferente para Kane, que se afirmou em Inglaterra como um dos melhores goleadores da história da Premier League, mas que, devido à falta de sucesso da equipa, optou por novos desafios. Até agora, os seus resultados não mudaram muito: após dois jogos na Bundesliga, tem três golos. E, nas suas declarações, encoraja outros jogadores ingleses a fazerem o mesmo.
"Talvez a minha mudança de ambiente inspire os futebolistas ingleses mais jovens a fazerem o mesmo e a decidirem dar um passo em frente. Lembro-me de quando David Beckham se mudou do Manchester United para o Real Madrid. Na altura, eu era um miúdo e pensei para mim próprio: isto é fantástico", disse Kane recentemente.
Será que vamos assistir a mais saídas de jogadores ingleses? Será que os líderes das selecções nacionais vão abrir novos caminhos nas suas carreiras? Por um lado, é difícil esperar que isso aconteça, afinal, a maioria dos futebolistas gostaria de jogar na Premier League, porque é onde há mais dinheiro (sem contar com a Arábia Saudita), mais competição e o nível mais alto atualmente. No entanto, os casos de Bellingham e Kane mostram que há vida fora de Inglaterra para os futebolistas ingleses.