"Obrigado por todo o carinho que me deram ao longo do tempo e levo-vos para sempre no meu coração". Foi desta forma que Virginia Torrecilla comunicou a sua despedida do mundo do futebol, pelo menos na sua versão jogadora, pois deixou a promessa de continuar ligada ao desporto noutras funções.
Aos 29 anos, Virginia decidiu que estava na hora de colocar um ponto final numa carreira de inegável sucesso, passada por alguns dos melhores clubes e palcos do Mundo, em que se destacam as participações nos Mundiais 2015 e 2019 e ainda no Euro 2017, ao serviço de Espanha, a seleção recentemente consagrada como campeã mundial.
Mas a carreira da média fica também marcada por um grave problema de saúde que uniu o futebol espanhol em seu redor. Virginia foi diagnosticada, em 2020, com um tumor na cabeça e deu-se, então, início uma dura batalha de dois anos. Tinha 25 e uma mala cheia de sonhos.
"Quando me diagnosticaram cancro e disseram que não podia jogar, foi um golpe duro, mas nessa altura só queria viver. Mas depois, o futebol salvou-me a vida, porque foi o meu clube e as minhas companheiras que estiveram sempre ao meu lado, com a minha família. O único dia que saía de casa era quando a minha equipa jogava", contou, em agosto de 2021, ao jornal AS.
Apoiou-se nas companheiras de equipa do Atlético e até as "rivais", como Alexia Putellas, uma das melhores jogadoras do mundo, prometeu jogar com o dorsal 14 durante os tratamentos da amiga.
A caminhada para o regresso
A intervenção cirúrgica para a remoção do tumor aconteceu em maio de 2020. Depois de radioterapia e quimioterapia, um tratamento que a fez ir dos 63 para os 48 quilos, foi recuperando as forças, passo a passo, sempre com o regresso aos relvados no horizonte. Aquele que tinha pisado pela última vez a 1 de março de 2020, pouco mais de meio ano depois de ter estado no Campeonato do Mundo.
A história foi sendo escrita na primeira pessoa nas redes sociais. A internacional espanhola partilhava a difícil rotina de tratamentos e, mais importante que tudo o resto, cada avanço na recuperação. Terminou a quimioterapia em março de 2021, as defesas foram abaixo, mas venceu a batalha.
"Aprendi muito". Em novembro de 2021, a presença na foto de família do Atlético Madrid foi mais uma pequena grande vitória. Mas a melhor estava reservado para pouco tempo depois: "Estou limpa. Não tenho restos de nada do tumor".
O regresso às convocatórias aconteceu no dia 19 de janeiro de 2022, 608 dias depois da operação ao tumor, e o regresso no dia 23 de janeiro na final da Supertaça, frente ao Barcelona (7-0), onde foi aplaudida por todos.
Finalizada a etapa em Madrid, Virginia mudou-se de malas e bagagens para o Villarreal, em 2023/24, onde realizou oito encontros, mas decidiu, agora, que estava na hora do adeus. Fica a brilhante carreira e, acima de tudo, o exemplo.