O clube, que se firmou no top-4 por várias jornadas e chegou a ser vice-líder há poucas semanas, conta com um projeto sólido, com a marca austríaca, que dá nome à equipa, por trás, dando um fundamental suporte.
O atual contexto, com mudanças importantes dentro e fora de campo, dificilmente seria possível sem a presença da Red Bull. A tendência era que o Bragantino seguisse o seu caminho de dificuldades financeiras e muitas limitações, sem conseguir sair do patamar de um clube médio de uma cidade do interior.

A meta seria seguir em busca de crescimento, mas deparando-se com barreiras frequentes de investimento e estrutura. A realidade hoje é de todos estes obstáculos superados com um parceiro de renome internacional a comandar o projeto.
"Acho que dificilmente o clube sobreviveria. Provavelmente, estaria numa situação quase insustentável. Hoje, o sentimento é de total felicidade e alegria. A mudança foi completa, não apenas na modernidade da nova identidade, mas na estrutura. que melhora a cada dia. Ainda tem muito por vir, o projeto é um bebé recém nascido", brinca o adepto Daniel Heidi, que acompanha o clube desde 1988.
Em breve, o clube vai contar com a entrega de um moderno Centro de Treinos, que tem tudo para ser referência na América Latina. Esta foi apenas uma das transformações que vieram com a presença da Red Bull, situação que dificilmente aconteceria se o clube seguisse a caminhar com as próprias pernas.
"É preciso destacar o trabalho e a manutenção do Braga quando era administrado pelo Marco Chedid. Ele manteve o clube de pé sem grandes investidores. O clube conta, hoje, com uma das maiores empresas do mundo, que trouxe um outro nível de organização, profissionalismo, poder de compra e investimento", relata Eberson Martins, da Rádio 102FM, de Bragança Paulista.

De se lhe tirar o chapéu
A dúvida de alguns, hoje transforma-se em aceitação pelas suas ideias e convicções que veem os resultados aparecerem antes mesmo das previsões.
Foi preciso bater de frente com os olhares mais tradicionais, que não gostaram muito da ideia de ver a empresa europeia "invadir" o conjunto da cidade de Bragança Paulista, no interior paulista, realizando importantes mudanças em sua estrutura jurídica, além de alterações no nome do clube e até no seu escudo.

A regularidade atual substituiu resultados pontuais do Clube Atlético Bragantino, que fez a cidade e o clube ganharem fama no início dos anos 90. Em 1990, o Bragantino foi campeão paulista com o técnico Vanderlei Luxemburgo antes de chegar à vice-liderança do Brasileiro de 1991, este sob comando de Carlos Alberto Parreira.
"No começo, houve muita desconfiança por parte dos adeptos. Era tudo muito novo e toda mudança causa impacto. A maior dúvida dos adeptos era saber se a Red Bull manteria as tradições do Clube Atlético Bragantino. A desconfiança também existia porque o Red Bull Brasil, com todo o investimento, não tinha descolado no cenário nacional. Era uma marca internacional e não se tinha conhecimento sobre como seria sua gestão no futebol, se a marca iria mesmo cumprir o que estava a prometer", conta Martins.

História remonta a 2007
Apesar da maior visibilidade do projeto do Red Bull Bragantino ter acontecido somente a partir de 2019, o projeto da marca no Brasil vem desde 2007. Neste ano, foi criado o Red Bull Brasil, sediado em Jarinu (SP), com a ideia de ser uma nova instituição que pudesse ganhar força de forma gradual, conquistando espaço e acessos até a solidificação do projeto.
Nesta época, o diretor de futebol, Thiago Scuro era um dos responsáveis pelo projeto.
"É um privilégio trabalhar para uma marca como a Red Bull, pelo olhar que ela tem para o desporto a pensar em investimento e desenvolvimento de médio e longo prazo, algo raro no Brasil. A Red Bull acredita no futebol brasileiro há anos, criou uma equipa do zero", contou Scuro ao podcast Phodase360, quando ainda atuava no projeto. Hoje, o dirigente está no Monaco, da França.

Dois anos mais tarde, veio o título da quarta divisão paulista. Em 2014, o vice estadual da Série A2 rendeu o inédito acesso à elite. O ano de 2015 teve calendário cheio. No Paulistão, um surpreendente sexto lugar, melhor resultado do "Toro Loko" até hoje na competição, rendendo presença na Série D.
Por uma série de fatores, como ausência de adeptos, o projeto mostrou-se incompleto. "Pela cultura futebolística do nosso país, o caminho mostrou-se pouco eficiente no que diz respeito à projeção e marca. O clube teve sucesso no âmbito desportivo, mas não tinha alma e adeptos. Era um projeto incompleto", lembra Scuro, que ficou dois anos neste processo.
Em 2017, ele regressa como CEO, questionando tal modelo. Scuro trouxe a ideia de que era preciso dar um passo diferenciado para o projeto explodir. "Precisávamos de encontrar um caminho de associar a marca a algum um clube já existente", conta.
Em busca do lugar ideal
A ideia era aproveitar algum clube que desse aos responsáveis um caminho menos tortuoso em busca do sucesso. Entre as (poucas) opções que apareceram com o estudo de mercado, veio o Bragantino. A restrição de nomes tinha, como um dos motivos, a exigência de uma estrutura jurídica que pudesse facilitar o processo.
Clubes de algumas cidades foram abordados e era necessária abertura para incluir o nome da empresa no nome do clube A Red Bull, ao contrário de tantas outras empresas, não patrocina o clube, ela é a proprietária. A empresa estava à procura de um clube para exercer o controlo absoluto. O modelo de co-gestão não era viável.
Uma transição de gestão era necessária e equacionar as dívidas do Massa Bruta foi um fator que encaminhou a necessária transformação. "O Clube Atlético Bragantino não tinha muitas dívidas, isso ajudou muito na escolha. A tradição do clube também pesou. Era um clube com identificação, com uma claque apaixonada, numa cidade pacata, uma das mais seguras do Brasil.
"Isso tudo ajuda no desenvolvimento dos jovens atletas, o projeto tem isso como uma de suas bases, além de estar perto de grandes centros, o que ajuda na logística", reforça Martins.

Projeto a sair do papel
Com tudo em ordem, o martelo foi batido e o Red Bull Bragantino pôde, finalmente, entrar em ação. No primeiro ano, em 2019, veio o título da Série B e presença na elite do futebol brasileiro após 22 anos. Em janeiro 2020, acontecem mudanças importantes no clube, mudança, cor, escudo e nome. O clube ficou em 10.° lugar no Brasileirão, classificando-se para a Sul-Americana, chegando até a decisão do torneio no ano seguinte.
Em 2021, veio o 6.° lugar na Série A e a classificação para a Libertadores, com novos degraus a serem alcançados. Tudo acontecia muito rápido para um clube que tinha seus objetivos traçados a médio e longo prazo.
Dois anos após toda a transformação que aconteceu, o Bragantino já era finalista da Copa Sul-Americana, ficando muito perto do seu primeiro título internacional. Ali, a leva de jovens jogadores "descobertos" pelo clube já era grande, situação que continua a acontecer, ano após ano, incluindo alguns do cenário sul-americano, atraídos por um projeto diferenciado.
Em 2023, mais (e nem tão surpreendentes) bons resultados. A briga pelo título do Brasileirão mostra a construção gradual de um projeto com pé no chão, visão no presente e no futuro, sem as precipitações que costumam ser comuns nas gestões de alguns gigantes do futebol brasileiro, que têm muito a aprender com a dupla de touros que veio da Áustria para fazer sucesso no interior paulista.
"O principal ponto que destaco é o planeamento bem definido. Pode-se mudar uma peça ou outra, no campo ou na parte administrativa, mas o projeto seguirá o mesmo. Não é só um clube de futebol, mas uma grade empresa", detalha Martins.
Olho apurado para identificar (e contratar) jovens talentos
Um dos diferenciais do projeto é apostar em jovens jogadores, cheios de talento, que não recebiam a devida utilização noutros clubes. Foi assim com o guarda-redes Cleiton e o avançado Alerrandro, adquiridos junto ao Atlético-MG, com Helinho, avançado formado no São Paulo, com Artur, atacante revelado pelo Palmeiras que voltou ao clube alviverde depois de passagem de sucesso pelo Braga, além de outros nomes do atual elenco que já despertam a atenção de dentro e fora do país como o defesa Léo Ortiz e do médio Lucas Evangelista.

Em 2020, o grande nome do Massa Bruta foi Claudinho. Ele foi o melhor marcador do Brasileirão de 2020 com 18 golos, antes de ser eleito o craque e a revelação do torneio. O seu sucesso rendeu uma boa venda para o Zenit, da Rússia, por 15 milhões de euros. O Braga tem, ainda, 20% do valor do jogador em caso de uma futura venda.

O preço investido pelo Bragantino costuma ser baixo, mostrando um olhar estratégico antes do atleta ganhar importante valorização, rendendo ao clube um importante retorno que possibilite que esta roda continue a girar.
Para os jogadores, o tempo de utilização é de extrema importância para o seu desenvolvimento dentro de um clube com menos pressão, que certamente não os "queima" quando as naturais oscilações aparecem. É preciso estar no local certo para que o processo aconteça da melhor forma, sem pular (ou dar passos atrás em) etapas.
Estar atento ao mercado de transferências é apenas uma das qualidades da gestão do Bragantino. Ter um apreço pelo jovens é outro aspeto que permitiu um importante salto no desempenho e visibilidade, assim como o que acontece com os co-irmãos Red Bull Salzburg, da Áustria e o Red Bull Leipzig, da Alemanha.