Opinião: Recuperação de McTominay após sair do Manchester United tornou-o uma lenda da Escócia

McTominay voltou a brilhar
McTominay voltou a brilharUlrik Pedersen/NurPhoto / Shutterstock Editorial / Profimedia

A evolução de Scott McTominay, de um jovem formado na academia do Manchester United com dificuldades até se tornar herói tanto na Escócia como em Nápoles, é verdadeiramente notável.

O médio marcou um espetacular pontapé de bicicleta na vitória da Escócia por 4-2 frente à Dinamarca, garantindo a qualificação para o Mundial-2026 na noite de terça-feira.

Foi mais um momento marcante numa carreira que disparou nos últimos 18 meses, desde que saiu do Manchester United.

O jogador de 28 anos conquistou a Serie A na sua primeira época ao serviço do Nápoles e desempenhou um papel fundamental na qualificação da Escócia para o Mundial, algo que não acontecia há quase 30 anos.

Fica então a dúvida: terá o Manchester United cometido um erro ao vender McTominay?

Nova vida em Nápoles

Como já referido, McTominay não perdeu tempo a afirmar-se como peça-chave na equipa campeã do Nápoles em 2024/25, sob o comando de Antonio Conte.

O escocês participou em 34 jogos na Serie A e marcou 13 golos em todas as competições, o seu melhor registo de carreira, atuando sobretudo num trio de meio-campo.

Apesar de o seu impacto ir muito além dos golos — McTominay foi o segundo jogador com mais duelos ganhos em toda a divisão, com 208 — foi a sua veia ofensiva que mais se destacou.

E mesmo com números impressionantes, foi aquela sensação de jogador decisivo, difícil de descrever, que McTominay transmitiu.

O médio apontou cinco golos que garantiram vitórias na época 24/25 e conquistou o prémio de melhor Jogador do Jogo do Flashscore (com a melhor classificação) em cinco das últimas sete partidas da Serie A.

Essa forma ajudou o Nápoles a conquistar o título e valeu a McTominay o prémio de MVP (Jogador Mais Valioso) — na prática, o equivalente italiano ao Jogador da Época.

Já soma quatro golos em todas as competições de clubes esta temporada e as suas exibições têm-se refletido também na seleção, com dois golos e uma assistência na campanha de qualificação da Escócia para o Mundial.

Mais uma vez, McTominay apareceu nos momentos decisivos, marcando de forma brilhante frente à Dinamarca.

Com o jogador de 28 anos a atingir este nível nos últimos meses, é fácil esquecer que há pouco tempo era considerado insuficiente para o Manchester United.

McTominay comparado com médios das cinco principais ligas 24/25
McTominay comparado com médios das cinco principais ligas 24/25Opta by StatsPerform

Dificuldades no Manchester United

O Manchester United tem passado por momentos complicados nos últimos anos, embora tenha conquistado alguns troféus pelo caminho.

Na época passada, terminou num surpreendente 15.º lugar na Premier League, mas conseguiu algum sucesso nas taças recentemente.

Na verdade, McTominay participou na vitória por 2-0 na final da Taça da Liga frente ao Newcastle em 2023 e na vitória por 2-1 na Taça de Inglaterra contra o Manchester City em 2024.

Houve até alguns sinais do seu potencial em jogos de grande importância, nomeadamente ao marcar um golo e assistir outro na célebre vitória por 4-3 nos quartos de final da Taça de Inglaterra frente ao Liverpool.

Também marcou dois golos nos minutos finais na vitória por 2-1 frente ao Brentford, além de bisar num triunfo sobre o Chelsea.

Infelizmente, McTominay nunca passou verdadeiramente de jogador de impacto.

O então treinador Erik ten Hag raramente o colocou a titular e, com a equipa a atravessar dificuldades, tornou-se complicado para o internacional escocês afirmar-se e conquistar um lugar fixo.

McTominay tentava ainda encontrar espaço num meio-campo que contava com o melhor jogador do Manchester United, Bruno Fernandes, o reforço milionário Casemiro e o jovem talento em ascensão Kobbie Mainoo.

Por isso, é difícil afirmar se o United errou ao vender o jogador formado na academia.

McTominay festeja pela Escócia
McTominay festeja pela EscóciaANDY BUCHANAN / AFP

Poderia McTominay ter ajudado o United?

McTominay rumou a Itália no final do mercado de transferências do verão de 2024, falhando assim a oportunidade de integrar o plantel do atual treinador Ruben Amorim.

Olhando para trás, percebe-se que talvez tenha sido o melhor para ambas as partes, tendo em conta a má forma da equipa na época passada.

A sua saída aconteceu após quatro jogos da temporada 24/25, sem ter sido titular em nenhum deles — mais um sinal da irregularidade do seu tempo de jogo.

McTominay encaixou imediatamente no sistema 4-3-3 de Conte no Nápoles e nunca mais olhou para trás, mostrando-se claramente talhado para um papel mais ofensivo quando a equipa tinha posse de bola.

Isso indica que dificilmente teria melhorado a situação se tivesse ficado e integrado o plantel de Amorim.

O técnico português privilegia uma formação bastante diferente, sem um lugar óbvio para McTominay e as suas características — poderia ter sido testado como um dos números 10, mas as recentes contratações de Bryan Mbeumo e Matheus Cunha sugerem que se prefere outro perfil de jogador para essa posição.

Apesar de ser interessante imaginar o que poderia ter acontecido, a verdade é que a carreira de McTominay no Manchester United estava completamente estagnada, e nada indica que teria evoluído para o jogador que é hoje se tivesse permanecido no clube.

No fim de contas, parece ter sido uma excelente decisão do jogador, e não uma má escolha do clube, que ainda conseguiu encaixar lucro com um produto da sua formação, ajudando a cumprir as regras de Lucro e Sustentabilidade (PSR).

O United até parece estar a recuperar, com melhorias nas exibições — tanto Cunha como Mbeumo têm-se destacado nos seus papéis ofensivos, enquanto Casemiro tem mostrado evolução — e parece ter sido uma mudança positiva para ambas as partes, mesmo que os Red Devils possam não ter sentido isso durante a última época.

Ali Pollock
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