Em pouco mais de seis meses, o Nápoles passou de brilhante campeão italiano a pior defensor do título nos últimos 20 anos. De facto, desde que a Serie A voltou a ter 20 equipas - na época 2004/2005 - ninguém fez pior do que os Azzurri, que em toda a primeira metade da época conquistaram apenas 28 pontos, chegando a meio do campeonato a uma distância sideral do líder Inter.
A diferença de 20 pontos em relação aos nerazzurri, no entanto, é o menor dos problemas para a equipa da Campânia, que na verdade já desistiu de repetir o sucesso da campanha passada no campeonato. Prova disso são as declarações, entre o sério e o jocoso, de Aurelio De Laurentiis que, do seu lado, abdicou há um mês: "Não se pode ganhar todos os anos, exceto a fazer batota".
Na verdade, para ser franco, o presidente da Azzurra desistiu do sonho de um bis histórico já no verão, quando substituiu Luciano Spalletti por Rudi Garcia. Ou, talvez, ainda mais cedo, na primavera, quando decidiu demitir o atual treinador da seleção italiana que, para o seu gosto, estava a ocupar demasiado espaço.
Sozinho no comando
E sim, porque um homem que nasceu na ribalta pode, na melhor das hipóteses, aceitar partilhá-la com os protagonistas em campo, mas de forma alguma com um treinador que, nos seus esquemas, é enquadrado como um mero empregado assalariado. "Tanto o treinador como o diretor desportivo são empregados ao serviço do presidente", é um dos seus lemas.
Pois bem, a campanha de 2023/2024 do Nápoles começou sem dois dos grandes arquitectos do Scudetto porque, além de Spalletti, também Cristiano Giuntoli saiu . Alguns meses mais tarde, no entanto, De Laurentiis está a olhar para a "sua" Juventus com 46 pontos: mais 18 do que os napolitanos.
Para o seu lugar, entrou Mauro Meluso, alguém que não tem nem a capacidade nem a ambição de fazer sombra ao presidente.
A crise
E assim, como acontece muitas vezes nestes casos, com um treinador e um diretor reduzidos a metade, a crise desencadeou-se com toda a sua violência, condenando os adeptos napolitanos ao drama de verem a mesma equipa que, no ano passado, esmagou impiedosamente os seus adversários, semana após semana.
O último golpe aconteceu no passado domingo, em Turim, contra os Granata, que esmagaram a Azzurra com uma vitória por 3-0. Entre os protagonistas negativos da partida estava Pasquale Mazzocchi que, recém-chegado da Salernitana, foi expulso em cinco minutos.
Não é propriamente um sinal encorajador para uma equipa que confia as suas esperanças de recuperar o quarto lugar, atualmente ocupado pela Fiorentina, e a apenas cinco pontos de distância, à janela de transferências de inverno.
"Vamos fazer três ou quatro contratações", garantiu De Laurentiis nos últimos dias.
"Um lateral, um defesa central e depois um ou dois médios vão chegar", acrescentou.
Para isso, o presidente tem 60 milhões de euros à disposição, consciente de que uma época sem Liga dos Campeões pesaria muito mais no orçamento e nas ambições de um clube que, na eventualidade de não se qualificar para a principal competição continental, seria obrigado a reduzir os seus projetos, para não dizer sonhos, de crescimento.
O mercado
É por isso que, além de Lazar Samardzic - cuja transferência para o Nápoles está na reta final -, Walter Mazzarri poderá contar com pelo menos mais dois importantes reforços. E pouco importa que a contratação de Radu Dragusin tenha desaparecido porque não se pode participar num leilão com o Tottenham e o Bayern de Munique.
Quando os dirigentes da Azzurra se aperceberam disso, voltaram-se imediatamente para Nehuen Pérez ("seria uma honra vestir a camisola da Azzurra", admitiu o seu agente) e Jakub Kiwior que, no entanto, o Arsenal não quer ver sair por empréstimo, mas apenas a título definitivo.
Da mesma forma, De Laurentiis perguntou ao Borussia Mönchengladbach se existe alguma margem de manobra para abordar a compra de Manu Koné, que, no entanto, não é apenas uma tentação para o Nápoles, razão pela qual as negociações poderiam ser prolongadas e encerradas, como aconteceu com Dragusin.
Pelo menos para já, no entanto, não deverá haver novidades no banco de suplentes. O clube fez saber que tem "fé" em Mazzarri, ciente de que não pode pedir muito mais ao único treinador que aceitou, de bom grado, atuar como "traghettatore" até ao final da época, quando, muito presumivelmente, Antonio Conte chegará a Castel Volturno.
Com sete pontos conquistados em igual número de jogos, o técnico toscano conseguiu, entretanto, fazer pior do que Rudi Garcia que, nos onze jogos que disputou, tinha conquistado 21 pontos.
A única nota positiva, a qualificação para os oitavos de final da Liga dos Campeões, onde o Nápoles vai encontrar um Barcelona nada brilhante. No entanto, se as coisas não mudarem radicalmente no Diego Armando Maradona, os Blaugrana não deverão ter problemas em eliminar uma equipa irreconhecível que, até há poucos meses, era o orgulho do futebol italiano.