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Opinião: Final da Libertadores atesta falência do Rio e culpa da CONMEBOL em clima hostil

Maracanã recebe a final da Libertadores neste sábado
Maracanã recebe a final da Libertadores neste sábadoAFP
Era para ser uma festa. A celebração da final do torneio de clubes mais importante do continente. No papel, a ideia parece sempre ótima. O modelo europeu ou norte-americano reluz aos olhares. O cenário também é encantador: as maravilhas do Rio de Janeiro, a cidade mais turística do Brasil. Não teria como dar errado.

Mas a final da Libertadores transformou-se num barril de pólvora, com claros indícios de uma explosão iminente a qualquer momento. O clima de festa no Rio tornou-se em verdadeira tensão e coloca frente a frente o acirramento de uma rivalidade crescente entre brasileiros e argentinos.

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Em todos os lados há sentimentos de desforra. E o futebol na América do Sul é muito mais do que 22 jogadores a disputarem uma bola. É o espelho da sociedade. 

Os brasileiros acumularam, durante anos, casos de racismo em visitas dos seus clubes aos vizinhos de continente, especialmente em solo argentino. Para se ter ideia, em 2022, foram 12 as denúncias em jogos da Libertadores e da Sul-Americana.

Em agosto deste ano, segundo dados do Observatório do Racismo, as denúncias subiram para 18, um aumento de 50%. O espetáculo de impunidade da CONMEBOL com penas brandas aos clubes e adeptos envolvidos motiva, ainda mais, o crescimento acelerado das injúrias.

Os argentinos, envoltos numa das piores crises financeiras da história, com uma inflação estratosférica e a desvalorização da sua moeda, rebatem os brasileiros por provocações económicas.

Tornou-se comum adptos brasileiros rasgarem notas de peso, a moeda local, em estádios argentinos, algo que passou a ser tratado como motivo de prisão no país sul-americano e penalizado pela CONMEBOL. 

A eficácia da Confederação Sul-Americana e da polícia argentina em aplicar o rigor do regulamento e da lei ao gesto foi criticada pelos brasileiros, que não viram o mesmo esforço em penalizações aos crimes de injúria racial.

A combinação caótica está feita. E o palco de todos esses sentimentos exacerbados é simplesmente o campo minado chamado Rio de Janeiro.

Há um gravísssimo problema de segurança pública na Cidade Maravilhosa. As forças policiais lidam com o tráfico, com as milícias, com as mazelas de uma das cidades mais violentas do mundo.

O futebol tornou-se mais um dos problemas das forças de segurança, que não conseguiram conter os enfrentamentos, que já estavam a ser marcados pelas redes sociais - e há promessas de mais. Cenas de bárbarie foram a tónica de quinta-feira no Rio de Janeiro.

Brigas por todo o lado. Basicamente, qualquer adepto com a camisola do Boca ou do Fluminense tornou-se um alvo. O futebol tornou-se o alvo. Vestidos pelo discurso, a motivação transformou-se em crimes, roubos, agressões e disputas. 

Choro de famílias, de pessoas comuns que só queriam ver uma partida de futebol ou então nem entrar no Maracanã neste sábado, já que o evento tornou-se algo tão elitista e destinado a poucos abastados, mas que queriam sentir o clima do jogo na cidade da final.

Fluminense ou Boca Juniors vão levantar a taça neste fim de semana. Mas, quando o apito final se ouvir, perdemos sempre todos nós. Como sociedade, humanidade, estado, cidade e países. 

Perde o futebol, longe do seu caráter agregador e de celebração desportiva. Qualquer enfrentamento de clubes é uma guerra campal onde criminosos puxam para si a magia do jogo e repelem quem apenas quer celebrar a equipa do coração com amigos e familiares. Não há vencedores quando o protagonismo deixa de ser o futebol.