Ao nível das bases no lar espiritual do desporto, onde as bolas têm sido batidas nos links costeiros desde o século XV, o facto de a PGA e a DP World Tours terem feito tréguas com a rival LIV, apoiada pelos sauditas, não muda nada.

David Roy, secretário-geral da Crail Golfing Society, disse à Reuters, numa entrevista telefónica, que a situação era "uma conversa absolutamente secundária e, em grande parte, de pouco interesse real". "Pessoas ricas a discutirem sobre como se tornarem mais ricas", riu-se. "Não tem nada a ver com a alma do jogo. Absolutamente nada".

Aqueles que querem experimentar a autêntica alma do desporto não precisam de ir muito longe na Escócia, começando pelo mais antigo de todos, o famoso Old Course em St Andrews, e indo até Crail, a 10 milhas da costa.

Uma jóia do golfe, cujo campo de Balcomie foi inicialmente traçado pelo "Avô do Golfe" Old Tom Morris em 1895, o clube foi fundado em 1786 e o seu primeiro troféu, a Medalha Lindesay, data de 1830.

Uma volta no Balcomie custa 135 libras (157 euros) durante a época alta, em comparação com o green fee de 295 libras (343 euros) do Old Course, e os visitantes são bem-vindos. St Andrews tem sete campos de golfe links e qualquer pessoa com um handicap pode jogar no Old Course mediante o pagamento de uma taxa e com sucesso numa votação.

Kinghorn, acima da cidade de Burntisland, em Fife, é outro campo Old Tom Morris com vistas espetaculares.

"A última vez que joguei, no domingo à tarde, custou cerca de 12 libras (14 euros). Uma pechincha total", disse Roy, que sugeriu que clubes como o seu têm uma maior influência na cultura e na sociedade do que o Tours e o LIV.

"Somos nós, os voluntários e os profissionais do sector, que criamos os jovens golfistas. Somos nós que lhes ensinamos como se devem comportar num campo de golfe", afirmou. "Não há quase nada que as digressões façam para fazer crescer o jogo... os quatro majors são as organizações que realmente apoiam o jogo. O resto é apenas entretenimento, não é?".

Dinheiro saudita

A LIV Golf é financiada pelo Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita e os críticos acusam-na de ser um veículo para o país tentar melhorar a sua reputação face às críticas sobre o seu historial em matéria de direitos humanos.

"O dinheiro saudita fará alguma diferença? Não. Não vai fazer qualquer diferença na forma como as pessoas se comportam ou na cultura de honestidade", disse Roy. "É uma cultura tão fortemente enraizada que vai ser preciso mais do que alguns sheikes ricos para mudar as coisas".

A Escócia tem mais de 550 campos de golfe e atrai cerca de 220.000 visitantes por ano, de acordo com o Visit Scotland. A indústria como um todo vale mil milhões de libras (1,17 mil milhões de euros) para a economia local. Cerca de 90% do turismo de golfe envolve cerca de 75 instalações na costa e alguns campos notáveis no interior, como Blairgowrie e Gleneagles.

Existem os luxuosos campos de golfe de Donald Trump em Balmedie e Turnberry, sendo que o primeiro fez manchetes na fase inicial quando o antigo presidente dos EUA descobriu que o seu dinheiro pouco valia face a um agricultor local zangado que lhe disse para "se ir embora".

No outro extremo literal está Reay, um clube de 160 membros, na costa norte, onde existe uma caixa de honestidade para o pagamento de green fees quando o campo não está vigiado, uma ocorrência que não é invulgar.

"Na maior parte das vezes, o campo é só para si. É aqui que se pode experimentar o golfe tal como ele foi concebido. Um jogo para todos", diz o sítio web do clube.

O sistema de caixas de honestidade está também muito difundido nas terras altas e nas ilhas.

Como Tom Watson, oito vezes vencedor de grandes prémios e número um do mundo, observou: "O golfe é um jogo de ego, mas também é um jogo de integridade. O mais importante é fazer o que está certo quando ninguém está a olhar".