Lionel Scaloni: de estagiário (e traidor) de Sampaoli a criador da nova Argentina

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Lionel Scaloni: de estagiário (e traidor) de Sampaoli a criador da nova Argentina

Lionel Scaloni ressuscitou a seleção da Argentina
Lionel Scaloni ressuscitou a seleção da ArgentinaAFP
Quem é, afinal, Lionel Scaloni? E de onde veio? E como chegou ao comando técnico da Argentina? O Flashscore conta-lhe a história do treinador que, graças a uma reviravolta do destino, culmina agora, no Catar, uma viagem triunfante que começou por acaso, numa dívida moral a que sempre considerou ser alheio.

A 2 de junho de 2017, o dia em que Jorge Sampaoli foi nomeado como selecionador da Argentina, a vida de Lionel Scaloni mudou para sempre. A verdade é que, naquela altura, nem ele sabia. Embora já fizesse parte da equipa técnica do treinador desde o Sevilha, o antigo técnico da Atalanta e da Lazio passaria por um ponto de viragem na sua carreira quando a urgência de algo mudar fez com que a Federação da Argentina nomeasse aquele que, em retrospetiva, seria o pior treinador da história recente da seleção alviceleste.

O Mundial-2018 foi desastroso para uma Argentina cujo treinador, Jorge Sampaoli, foi contratado à pressa para impor rigor e dinâmica e um grupo amorfo. Resultado? A Argentina provou ser incapaz de jogar, ter harmonia e, claro, ter resultados. Perder nos oitavos de final com França, que mais tarde viria a tornar-se campeã do Mundo, não foi culpa de Sampaoli, técnico que foi acusado de ter pouco carácter, pouca liderança nas escolhas técnicas e nenhuma propensão para formar uma equipa.

Derrotado pelo poder da mesa chica, onde se sentavam Lionel Messi (35 anos), Javier Mascherano (38 anos) e alguns outros amigos como Di Maria (34) e Sergio Aguero (34), Sampaoli saiu ao cabo de um ano e, nessa altura, todos os técnicos que com ele chegaram foram dispensados, exceção feita a Scaloni. O técnico não acompanhou a fuga do homem que lhe tinha dado a oportunidade de uma vida, percebendo que poderia estar perante uma oportunidade especial. Falou-se de traição e oportunismo, mas a verdade é outra. E o Flashscore conta-lhe tudo nas próximas linhas. 

Uma dívida moral

Na realidade, Scaloni não devia quase nada a Sampaoli. Ou, pelo menos, foi escolhido como adjunto por causa de uma dívida moral que o então treinador de Sevilha tinha para com o seu pai, Angel. No início da sua carreira como treinador, na província de Santa Fé, Sampaoli aproveitou a sua amizade com Scaloni sénior para conseguir os seus primeiros trabalhos como treinador em equipas de menos expressão, ao mesmo tempo que o jovem Lionel estava a dar os seus primeiros passos no Newell's Old Boys.

Cerca de 22 anos depois de cimentar essa amizade, Sampaoli retribuiria o favor ao pai Angel, levando o seu filho, Lionel, como quinto adjunto, primeiro para o Sevilha e depois para a seleção da Argentina. Equilibrar e sacar. E uma dívida moral reembolsada. Uma vez devolvido o favor, Lionel Scaloni não se sentiu obrigado a abandonar o navio após o naufrágio do Mundial da Rússia, em 2018. Nomeado como comissário técnico interino, foi de facto o único do staff de Sampaoli a desvincular-se da equipa que regressou a Sevilha. Um gesto que não foi apreciado por Sampaoli, com quem a relação parece estar agora totalmente terminada.

A partir desse momento, Lionel Scaloni, um mero aprendiz do ponto de vista da preparação táctica, mostrou que tinha aproveitado ao máximo a sua experiência no Mundial da Rússia, onde tinha estado perto de Messi e Mascherano, os mais influentes no balneário. Uma experiência de crescimento humano. A melhor das aprendizagens para alguém com um carácter calmo mas firme nas decisões.

Criação de um grupo

Longe de ser um estratega obcecado pelo high pressing ou pelo tiki-taka, para citar apenas dois dos dogmas do futebol moderno, Lionel Scaloni percebeu imediatamente que, para manter o seu emprego, um lugar que muitos tinham recusado, como Diego Simeone e Mauricio Pochettino, teria de contar com a harmonia com os jogadores. Nada poderia ter sido mais adequado.

Se hoje a Argentina chega ao Catar com um grupo unido e alegre, que puxa na mesma direcção, é de facto graças a Scaloni, que foi capaz de recuperar pacientemente o rol de egos e impulsos dos jogadores, hoje mais amigos do que subordinados. Foi também Scaloni que recrutou Walter Samuel (44 anos), Fabian Ayala (49 anos) e Pablo Aimar (43 anos), três talentosos especialistas, com muitas vitórias e a quantidade certa de mística por detrás deles.

Com o tempo certo, o leque de jogadores talentosos e a consciência de ter de fazer Messi feliz, dentro e fora de campo, Lionel Scaloni foi capaz de construir uma realidade sólida, alegre e entusiasta, passando de estagiário a criador, contra todas as probabilidades. E, em apenas um ano, já eram visíveis melhorias notáveis na Copa América, em 2019.

A conquista da Copa América, no ano passado, quebrando um jejum de 28 anos, consagrou-o como vencedor. Agora é a sua vez de se expandir para o Mundo, com o entusiasmo de todo um país a sonhar em pedir-lhe novamente perdão, quatro anos após um recrutamento considerado apressado e irrefletido por muitos. E não apenas por Sampaoli.