“O treino não está ainda preparado para o feminino. A fisiologia e a parte emocional da mulher são diferentes. Trabalhar com 23 mulheres no balneário é muito diferente. É preciso preparar um treino adequado ao papel da mulher. Podemos ter as mesmas formas de trabalhar e evoluir, mas o treino para a mulher tem de ser da mulher e feito pela mulher. É preciso olhar para elas de uma forma diferenciada”, apelou a dirigente.
Na conferência “A importância da academia na formação e sucesso de treinadores de futebol em Portugal”, organizada pela Universidade Lusófona, Mónica Jorge entende que há homens com capacidade para liderar uma equipa de mulheres e há mulheres sem esse perfil, e o contrário idem, com mulheres a poder treinar equipas masculinas.
Com entrada na federação em 2001, então ainda como treinadora-adjunta da seleção, Mónica Jorge apontou “23 anos de muita aprendizagem e capacidade de adaptação”, assumindo o cargo principal entre 2007 e 2011, antes de dar o lugar a Francisco Neto.
“Quando entrei, era uma equipa acostumada a perder, com goleadas. Transformou-se isto e batemos recordes, subimos no ranking mundial e criámos uma equipa capaz de dar nas vistas e ser uma referência no futebol feminino em Portugal. Nem treinador de guarda-redes tinha. Com jogadoras lusodescendentes e muita procura, lá conseguimos começar a ganhar jogos e ir a programas de televisão. Houve um presidente que teve a audácia de convidar uma mulher para diretora executiva da FPF”, recordou também.
Na mesma conferência, que também contou com Rui Vitória, Nelo Vingada considerou que a evolução tecnológica “tem andado em excesso de velocidade” nos últimos anos.
“O futebol tem tido uma evolução mais rápida do que a dimensão humana nos últimos anos. A evolução tecnológica tem andado mais depressa do que devia. Enquanto puder ser jogado por pessoas, o futebol vai continuar a ser o desporto número um mundial. Na minha opinião, estamos a andar com excesso de velocidade”, advertiu o treinador.
Com 72 anos e atualmente retirado das competições oficiais, após uma longa carreira com passagens por nove países estrangeiros diferentes, Nelo Vingada recordou alguns episódios da mesma para explicar que o ideal é a equipa ser “a imagem do treinador”.
“Ao intervalo de um jogo, um príncipe árabe ordenou-me que substituísse um jogador. Não o fiz, ganhámos o jogo, mas, no dia seguinte, fui despedido. Perdi um prémio bem chorudo, que nem sequer reivindiquei, mas senti orgulho do que fiz. Mantive a minha integridade. O maior orgulho de um treinador é ele olhar para a equipa e poder sentir que é a imagem dele, como uma segunda família”, contou, perante a plateia de jovens.