No papel, Pelé foi três vezes campeão mundial. Contudo, na realidade, o título de 1962 dificilmente foi influenciado pelo Rei devido a uma lesão sofrida no segundo jogo da fase de grupos contra a Checoslováquia. Contra a equipa de Josef Masopust, que venceu a Bola de Ouro meses mais tarde, o brasileiro sofreu uma lesão no tendão: o seu Campeonato do Mundo, aquele que deveria confirmar a extensão da sua genialidade depois de rebentar na edição de 1958, ficou arruinado.
O jogo de abertura contra o México foi, portanto, a única oportunidade de demonstrar a sua superioridade sobre o homem comum. E de que maneira. Pelé dominou com o pé direito, driblou, rompeu a defesa, entrou na área e finalizou de pé esquerdo.
Botafogo no poder
O segundo título consecutivo, feito apenas conseguido pela Itália em 1934 e 1938, foi obra de Garrincha, jogador que era o oposto de Pelé. Fisicamente desajeitado, sobretudo por causa das pernas tortas, com uma a ser vários centímetros mais curta que a outra. Mané tinha ainda propensão para a bebida (a sua mãe costumava adicionar cachaça aos biberões de bebé) e sexo.
Mas o seu estilo de jogo e o seu sorriso tornam-no muito popular, como prova a sua alcunha "O Alegria do Povo". O casamento com a cantora icónica Elza Soares também tornou-o parte do imaginário popular, na linha de Marcel Cerdan e Edith Piaf.
O substituto de Pelé foi Amarildo, colega de equipa de Garrincha no Botafogo. Embora não tenha atingido o nível de Pelé, foi eficaz, marcando um par de golos contra a Espanha no último jogo do grupo e empatando na final contra a Checoslováquia, dois minutos depois de Masopust ter aberto o placar. Como esperado, o Brasil manteve o título sem o jogador estrela, uma prova da superioridade da Canarinha.
De volta às luzes da ribalta no Santos
Mais sábio e mais consensual do que Garrincha, Pelé era, à superfície, uma figura muito mais "apresentável" fora do campo, o que certamente lhe poupou muitos problemas, mesmo que a sua vida não fosse inteiramente linear.
Por alguns jogos, teve de deixar os holofotes, mas rapidamente recuperou. Meses depois, ganhou a terceira Libertadores com o Santos, a primeira de um clube brasileiro, num jogo contra o bicampeão Peñarol, no qual marcou dois golos.
Na Taça Intercontinental, que foi disputada a duas mão contra o Benfica de Eusébio, O Rei, em estado de graça contra os campeões europeus, marcou dois golos no Maracanã (3-2) e um hat-trick no Estádio da Luz (5-2), naquela que foi a primeira manifestação da maldição de Bela Guttmann, o mítico treinador encarnado que tinha profetizado, após a sua demissão, que o Benfica nunca mais ganharia um título europeu.
A edição de 1966 em Inglaterra foi ainda pior para O Rei: derrotado pelos jogadores búlgaros no primeiro jogo, Pelé conseguiu marcar, mas foi obrigado a ficar no banco contra a Hungria e não conseguiu impedir a eliminação do Brasil na fase de grupos após uma derrota frente a Portugal... de Eusébio.