Já passaram mais de duas décadas desde o último Campeonato do Mundo ganho pelo Brasil. Naquela noite sul-coreana, Ronaldo estabeleceu-se como um fenómeno. Ronaldinho emergiu como uma referência para a América Latina e Kaká estava destinado a ser a próxima estrela da canarinha.
O tempo castigou uma seleção nacional que dominava o mundo do futebol. Com Neymar no marasmo, surge a questão: quem será o novo líder do Brasil?
Nos quartos de final no Catar, a liderança de Neymar foi posta em causa: embora tenha marcado, foi condicionado pela força física da Croácia. Não esteve envolvido na defesa e sucumbiu às dificuldades.
Além do avançado, a linha de comando da equipa técnica foi posta em causa. Tite, que manteve uma excelente relação com os seus jogadores, saiu pela porta dos fundos com apenas um título em seis anos: a Copa América.
O Brasil sempre teve, tem e terá os melhores. O plantel que esteve no Catar é um exemplo: Neymar, Vinicius, Rodrygo, Marquinhos, Alisson, Ederson; Paqueta, Richarlison, Douglas Luiz.
Atualmente, no entanto, a canarinha reflete um problema: é uma equipa que depende de individualidades. Os elementos de ataque raramente ajudam na marcação e a equipa sofre em demasia quando se depara com adversários físicos e duros - tais como Marrocos, Croácia ou Bélgica. Habituados a ganhar na América Latina, o Brasil não sabe como dar a volta ao resultado.
A seleção nacional é uma "batata quente": uma equipa poderosa que infelizmente se limita à sua história para viver no presente. Os títulos são esperados há muito tempo. A Argentina, a sua eterna rival, é campeã do Mundo. Messi chegou ao Olimpo enquanto Neymar cai num abismo profundo e doloroso.
O Brasil clama por uma revolução, não apenas em nomes. De tática, de jogo. Lewandowski disse-o: o estilo do Barcelona de há 10 anos não funcionaria hoje. O estilo da canarinha também não.
Carlo Ancelotti é um homem astuto. É talvez o treinador mais preparado da Europa. Já ganhou em cinco países. O seu historial é impressionante, mas não é dado a realizar revoluções. Além disso, quando os tambores da mudança batem, tende a terminar um ciclo: aconteceu no AC Milan, Chelsea, Bayern, Real Madrid (durante a sua primeira passagem), Napoli e Everton.
Há alguns anos, o Brasil encontrava-se numa situação semelhante: a Federação Brasileira de Futebol (CBF) queria Guardiola e via nele a solução para a falta de títulos durante a era Dunga. Tentou contratá-lo, o catalão aceitou, mas o seu salário excedeu as expectativas. No final, a CBF aptou por Tite. Então, porque repetir a novela?
Uma revolução é gerada com mais força a partir de dentro e não de um ponto de vista externo.