Contudo, quando o torneio arrancar, o advogado sírio, de 27 anos, estará a assistir desde Espanha, onde vive como refugiado, depois de o pedido de visto para entrar no Catar, para acompanhar o Mundial-2022, ter sido rejeitado.
"Sou árabe, é o primeiro Campeonato do Mundo num país árabe e foi um grande choque psicológico", explicou Sabahi, natural de Aleppo, mas a residir em Espanha desde 2014, altura em que o conflito armado se iniciou no país natal.
Ele e outros dois refugiados sírios, bem como um sudanês que pediu asilo em França, um iraquiano refugiado na Alemanha e um paquistanês exilado na Arábia Saudita, garantiram à Reuters que não receberam permissão para entrar no Catar, apesar de terem apresentado os documentos necessários para a candidatura ao visto.
Uma vez que o evento se realiza no Médio Oriente, todos falam em desilusão pela decisão do país, assegurando que não lhe foi dada qualquer justificação para a rejeição e a Reuters não conseguiu confirmar se o estatuto de refugiado teve alguma influência na decisão final.
Os países que integram o Conselho de Cooperação do Golfo, incluindo o Catar, são conhecidos pelas restrições severas à entrada de qualquer pessoa que apresente um documento de viagem de refugiado, ao invés de um passaporte válido.
"Claro que foi uma grande desilusão", vincou Sabahi, que trabalha como conselheiro legal, na área da imigração, num escritório de Madrid e que espera passar a deter documentação espanhola a partir do próximo mês.
Entrada no Catar depende de um Hayya card
Durante o Mundial-2022, qualquer pessoa que pretenda entrar no Catar para assistir à competição deve solicitar um Hayya card, que funciona como um visto, garantindo acesso ao país e aos estádios.
Os seis refugiados ouvidos pela Reuters explicaram que processaram a cadidatura há já vários meses, mas que a mesma acabou rejeitada na semana que antecede o arranque da prova.
A FIFA, por seu lado, encaminhou a agência para o departamento de comunicação do governo do Catar, que por sua vez remeteu explicações para o Comité Supremo (CS) de Entrega e Legado, criado pelo governo catari para a planificação do Campeonato do Mundo.
Um representante do Comité Supremo, em declarações à Reuters, assegurou que mais de um milhão e 250 mil pessoas receberam Hayya cards, "incluindo dezenas de milhares de sírios", sendo que "alguns desses já chegaram ao Catar". Contudo, não ficou claro se os sírios com acesso assegurado se encontram a viver na Síria ou noutro lugar como refugiados ou cidadãos.
O responsável recusou responder a questões relacionadas com o número de pessoas com acesso rejeitado, com as razões para essas rejeições e sobre se a documentação de viagem de reufugiados não é considerada válida.
Sabahi foi contratado no verão por uma empresa com participação espanhola e francesa para trabalhar no Catar como "anfitrião", o que consistiria no desempenho da função de guia turístico e no tratamento de questões logísticas.
Nesse sentido, cadidatou-se para poder aceder ao país com a documentação de refugiado, utilizada para outras viagens, mas perdeu a oportunidade de emprego pela rejeição do Catar.
Hani, refugiado sírio a viver na Alemaha, que trabalha como analista de investimentos, disse também que estava ansioso pelo início do Mundial-2022, que lhe permitia a oportunidade de ver a mãe, que vive em Damasco, pela primeira vez em cinco anos.
"Não reservei bilhetes de avião porque o meu instinto dizia-me que algo iria correr mal e que eu não conseguiria ir", explicou, pedindo que o nome da família não fosse identificado. Hani garante, até, ter recebido um visto dos Estados Unidos da América no seu documento de viagem alemão, tendo mesmo viajado para o país recentemente.
Outro caso é o de uma jovem refugiada sudanesa em França, que viu a sua candidatura ser rejeitada por duas vezes, o que a fez perder centenas de dólares em bilhetes de jogos, bilhetes de avião e alojamento.
"Não sei o que fazer, porque não serei ressarcida. É algo que teria significado muito para mim", disse, em declarações à Reuters.