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Sara Gunnarsdóttir revela que Lyon deixou de pagar salários durante a gravidez

Sara Gunnarsdóttir levanta a taça da Liga dos Campeões com o Lyon
Sara Gunnarsdóttir levanta a taça da Liga dos Campeões com o LyonUEFA
A jogadora de 32 anos, atualmente na Juventus, publicou, esta terça-feira, uma carta no Player’s Tribune onde revela o processo que moveu contra o emblema francês. FIFA deu-lhe razão e vai ser ressarcida.

Devia ter sido o momento mais feliz da minha vida. Tudo o que queria era aproveitar a minha gravidez e trabalhar para poder regressar à equipa e conseguir ajudar da melhor maneira o clube. Em vez disso, senti-me traída, confusa e preocupada”.

Em março de 2021, Sara Bjork Gunnarsdóttir descobriu que estava grávida. Numa carta publicada esta terça-feira no site Player’s Tribune, a internacional islandesa deixa um desabafo desarmante sobre o sentimento de culpa que a invadiu pela situação que aconteceu enquanto estava ligada contratualmente ao Lyon, um dos maiores clubes europeus a nível do futebol feminino.

Após revelar a situação em que se encontrava ao emblema, foi aconselhada por médicos e fisioterapeutas a esconder a condição até que, antes de um jogo com o rival PSG, teve de se recusar a jogar e não teve outra solução a não ser revelar o assunto.

Fui então aconselhada a parar de jogar e pedi para regressar à Islândia onde entendia os médicos na minha língua nativa e podia ter o apoio da minha mãe e restante família. Acederam ao pedido”, revelou, explicando que em abril rumou então à terra natal e os problemas começaram: “Não recebi o primeiro ordenado. Tudo o que foi depositado foi uma pequena percentagem relativa à Segurança Social. Não pensei muito nisso, não sabia como ia ser a logística do caso, pensei que era o erro. Confirmei com as minhas colegas e tudo tinha sido pago a horas. Depois falharam outro salário. Liguei ao meu agente que tentou entrar em contacto com o clube. A resposta surgiu mais tarde, a dizer que me iam pagar os salários em atrasos, mas que no terceiro mais iam seguir a leia francesa, ou seja, não me deviam mais nada”.

É aqui que Gunnarsdóttir começou uma luta burocrática baseando-se nas leis da FIFA relativas à maternidade, que entraram em vigor em janeiro de 2021: Está prevista uma licença de maternidade mínima de 14 semanas, com um mínimo de oito a seguir ao nascimento do bebé e dois terços do salário devem estar garantidos, isto na eventualidade da legislação do país ou o contrato coletivo de trabalho não garantir um valor mais elevado.

A continuar sem receber, a jogadora ameaçou fazer queixa na FIFA e o Lyon foi muito claro. “O Vincent (diretor do clube francês) disse: ‘Se a Sara for para a FIFA com isto, não tem futuro no Lyon’”.

Após o nascimento de Ragnar, Gunnarsdóttir voltou ao Lyon em janeiro, com a garantia da treinadora Sonia Bompastor de que ia receber ajuda. Contudo, várias restrições relativas ao bebé levaram a jogadora a avnçar com a queixa e maio a FIFPro teve uma decisão favorável: o emblema francês teria de pagar todos os salários em falta.

O Lyon ainda ponderou o recurso, mas acatou a decisão. Sara Gunnarsdóttir acabou por deixar o clube no verão e representa agora a Juventus, clube pelo qual soma dois golos e quatro assistências em 13 jogos.

Quero ter a certeza que ninguém volta a passar isto e que o Lyon percebe que isto não está certo. Não se trata de um negócio, mas sim dos meus direitos enquanto trabalhadora, mulher e ser humano. Estou muito otimista com a evolução do futebol feminino, evoluímos muito no que toca ao investimento, infraestruturas, apoio dos adeptos. Isso é inegável. Mas na realidade, no que toca à cultura, ainda há muito a fazer. Merecemos melhor”, concluiu.