Com perfil simples e diplomático, comprovado pelas intervenções públicas que faz, Scaloni preferiu amenizar comparações quando questionado sobre os dois grandes nomes do futebol argentino, bem como o de Alejandro Sabella, treinador falecido 2020 e com quem a Argentina terminou em segundo lugar no Brasil, em 2014.
"Eles são história, engrandeceram esta camisola. Enche-me de orgulho jogar uma final e representar a seleção. Não posso colocar-me à altura de pessoas que fizeram história no futebol. Jogar a final, para mim, já é um privilégio", assumiu o técnico, logo após a vitória na meia-final diante da Croácia (3-0).
Scaloni tinha 40 anos quando assumiu a seleção da Argentina, primeiro como treinador interino, depois da deceção no Mundial-2018, na Rússia, sob as ordens de Jorge Sampaoli, de quem era adjunto. Agora, aos 44 anos, foi o selecionador mais jovem de entre os 32 que participaram no Mundial-2022, no Catar.
Manotti também se destacou pela juventude com que chegou ao cargo, para o qual foi escolhido com quase 36 anos, em 1974. Quatro anos depois, guiou a albiceleste à conquista do Campeonato do Mundo, numa altura em que ainda não tinha celebrado 40 anos.
Permaneceu no cargo até 1983, antes do início da era de Bilardo, que se tornou selecionador com 45 anos, três anos antes do triunfo no Mundial do México, em 1986.
Numa história de treinadores jovens, mas vencedores, Scaloni apresenta, para muitos, as características de gestão tática de Menotti e o pragmatismo de Bilardo.
"A equipa técnica não vende fumo, procura todos os dias reforçar a sua aprendizagem e compromete-se com os jogadores de forma leal", sublinhou Menotti, atualmente com 84 anos, em declarações à Rádio Mitre, depois da mais recente vitória da seleção.
Para já, Scaloni conseguiu algo que nem Menotti nem Bilardo alcançaram enquanto selecionadors: a conquista da Copa América. As duas figuras de relevo do futebol daquele país não conseguiram, sequer, uma presença na final, ao passo que o atual selecionador conduziu a Argentina ao triunfo no Brasil.
Apoio do plantel e das figuras do futebol do país
Alguns dos antigos jogadores que integraram a última equipa campeã do mundo pela Argentina destacaram também o trabalho de Scaloni, que foi capaz de devolver a crença aos adeptos e recompor os estragos causados pela desilusão na Rússia.
"Ajudou a descobrir jogadores como (Nahuel) Molina, Cuti Romero, Lisandro Martínez ou (Alexis) Mac Allister, que deram classe à equipa e, sobretudo, deram a Leo (Messi) opções de jogo que não teve no Mundial anterior", defendeu, em declarações à AFP, Jorge Burruchaga, autor do golo do título na final em 1986.
Nery Pumpido, por seu lado, destacou que por trás de um grande Campeonato do Mundo da albiceleste está o trabalho de uma equipa técnica exemplar.
"Sempre o apoiei, desde início, porque sabia que tinha sido muito inteligente a fomar algo que é uma prioridade, o grupo. Não tem tempo para trabalhar agora, mais do que treinador, é um selecionador, o que é diferente", vincou.
Scaloni conta com o apoio do plantel que com ele rema na mesma direção, que sempre defendeu e com o qual parece ter total ligação.
Com 3-0 no marcador, no jogo da meia-final, o técnico decidiu colocar em campo Paulo Dybala, Juan Foyth e Ángel Correa, jogadores de campo que ainda não tinham disputado qualquer minuto no torneio. Da lista de convocados, apenas faltam jogar os dois guarda-redes suplentes, Franco Armani e Gerónimo Rulli.
"Para mim, isso é importante, porque todos merecem. O que menos joga é tão importante como aquele que joga mais", revelou, orgulhoso, o treinador, que no domingo pode juntar-se ao lote dos grandes nomes do futebol argentino.