Passaram apenas três dias desde que o lisboeta de ténis virtuoso escolheu o court central do Clube de Ténis do Estoril para anunciar, em lágrimas, que esta seria a sua última participação no único torneio ATP disputado em Portugal, remetendo o final da carreira para breve, para um dos dois challenger de Oeiras, agendados para meados de abril e meados de maio.
“Não era agora que eu queria (parar), se pudesse continuava, mas tenho que perceber o contexto onde eu estou neste momento e o meu contexto familiar não me permite ter a disponibilidade física e mental para alcançar os objetivos que eu ainda gostava no ténis. Por isso, acho que não valia a pena continuar nessas condições. Não me motivava o suficiente e, pronto, algum dia tinha que ser e acho que chegou a hora”, explica à agência Lusa.
Embora tenham sido as lesões as grandes rivais na sua carreira, não foi nenhum problema físico que levou Pedro Sousa a decidir abandonar o ténis, mas sim a paternidade recente, de Manuel, que “faz três anos em agosto” e que assistiu, pela primeira vez, ao vivo aos encontros do pai neste Estoril Open, e de Caetana, de 10 meses.
“As noites são muito mais difíceis, os tempos de descanso praticamente não existem e para me preparar para uma época longa e com bastantes viagens e bastantes torneios é-me difícil. Ainda sem meter a parte das viagens ao barulho… não podia estar cinco ou seis semanas fora como estava antigamente sem dar justificação nenhuma a ninguém, por isso tudo isso pesou um bocadinho”, confessa.
Com 34 anos, o 475.º jogador do ranking ATP já há algum tempo “vinha pensando no assunto” retirada e, apesar de ser uma decisão que “tinha que ser tomada”, foi “bastante difícil”.
“Ainda por cima, ainda sinto que posso jogar bem, que posso estar em condições. (…) É uma decisão difícil, mas quando olho para a balança e vejo o que está de um lado e do outro, torna-se mais fácil, ou torna-se fácil até, por isso é o que é, claro que me custa, mas tem que ser”, reitera.
Esta segunda-feira, já depois de garantir a presença no quadro principal de singulares do Estoril Open com duas vitórias de classe na fase de qualificação – e de ter ficado “um bocado de rastos” naquele sábado “com muita emoção à mistura” -, caiu na primeira ronda frente ao francês Luca van Assche, no primeiro epílogo de um percurso em que sente ter dado o seu melhor.
“Claro que cometi erros como toda a gente cometeu, claro que poderia ter melhorado um par de coisas ou ter feito um par de coisas diferentes que não fiz, mas naquela altura era o que me parecia certo, por isso não há arrependimentos. Fui o que consegui. Tenho orgulho na minha carreira: fui top 100, fui número um português, fui aos Jogos Olímpicos (Tóquio-2020), fiz uma final no ATP (Buenos Aires-2020), ganhei oito challengers e estou orgulhoso com isso”, enumera.
A “única coisa” que “fica encravada” nesta pré-anunciada despedida é, segundo Pedro Sousa, “o Grupo Mundial da Taça Davis e ter perdido uma final no CIF (Club Internacional de Foot-Ball), que seria, sem dúvida, a mais especial de ganhar”.
É ali, naquela que define como a sua “casa”, que o lisboeta se vê no futuro, ainda que “sinceramente” não saiba o que vai acontecer quando arrumar as raquetes.
“Acho que eventualmente, não sei se agora ou mais tarde, (o futuro) vai ser ligado (ao CIF), porque foi um clube que me deu tudo, é um clube que não só é a minha casa como é a casa da minha família, por isso acho que mais tarde ou mais cedo vou lá parar”, diz, ressalvando, contudo, que ainda vai “jogar um ou dois torneios mais, por isso ainda faltam um ou dois mesinhos” para perceber o que fará a seguir.