Será que esta edição do Grand Slam parisiense marcou a passagem simbólica do testemunho? Rafa Nadal, de 38 anos e à beira da reforma, poderia ter dito adeus ao "seu" torneio ao perder na primeira ronda com Alexander Zverev, precisamente o adversário que o jovem de 21 anos de Múrcia derrotou este domingo na final.
"Parabéns, Carlos Alcaraz, por esta imensa vitória!!!! Fantástico! Muito feliz pelo teu sucesso!!!", escreveu o próprio Nadal na rede social X, após a final deste domingo.
Desde os seus primeiros dias, Alcaraz foi elevado ao estatuto de herdeiro natural de Nadal. Os seus perfis têm semelhanças, mas também outras características que os fazem seguir caminhos divergentes.
Sucessos precoces
Ambos se distinguem pela sua precocidade, embora Alcaraz tenha atingido alguns objetivos mais cedo do que Nadal.
O primeiro Grand Slam que ganharam foi aos 19 anos, no caso do maiorquino acabado de fazer 19 anos e no caso de Alcaraz quatro meses depois, mas este último foi utilizado para bater um recorde, o de se tornar o número um mundial mais jovem da história. Nadal teve de esperar até aos 22 anos, em 2008, para alcançar essa honra.
Aos 21 anos e um mês, Alcaraz tem três títulos de Grand Slam e Nadal tinha o mesmo nessa idade. Mas há algo que os diferencia claramente: os três do maiorquino tinham sido dados em Roland Garros (2005, 2006, 2007), enquanto o seu jovem sucessor obteve o primeiro nos Estados Unidos em 2022, o segundo em Wimbledon em 2023 e agora coroado no encontro parisiense.
Alcaraz é o tenista mais jovem da história a ser campeão em três Grand Slams diferentes em superfícies diferentes.
Não tão "terra a terra"
É aí que reside um dos pontos que separam os seus perfis: enquanto Nadal foi primeiro o rei absoluto da terra batida, e a partir daí foi conquistando novas superfícies, Alcaraz alcançou os seus primeiros grandes triunfos noutros tipos de courts.
"Se quero continuar a estar entre os melhores, tenho de ser bom em todas as superfícies, acho que respondo bem em todas elas. Cresci a jogar na terra batida mas, por exemplo, sinto-me mais confortável no campo duro", explicou na sexta-feira, após a sua vitória sobre o italiano Jannik Sinner, o próximo número 1 da ATP, nas meias-finais.
A vitória deste domingo é o 14.º título da curta carreira de Alcaraz no circuito profissional.
Oito foram em terra batida, dois em relva e quatro em piso duro. Neste último caso, não se tratou de um torneio qualquer, já que, para além do sucesso no Open dos Estados Unidos em 2022, ganhou duas vezes o torneio de Indian Wells e uma vez o de Miami.
Nadal, por outro lado, tem um claro predomínio na terra batida nos seus primeiros 14 títulos: dez foram nessa superfície e quatro em campo duro, em eventos muito menos importantes.
Juntos em Paris-2024?
Nos últimos dias, tornou-se viral um vídeo de um pequeno Carlitos Alcaraz, em criança, a apontar Roger Federer como o seu ídolo, mas a sua admiração por Nadal também é evidente e foi vê-lo como espectador no seu jogo da primeira ronda contra Zverev, no segundo dia deste Roland Garros.
"Não tinha tido a oportunidade de ver o Rafa em Roland Garros e era o primeiro jogo que podia, era algo que queria experimentar", explicou depois.
O primeiro Nadal-Alcaraz foi em Madrid, em 2021, com um triunfo por 6-1 e 6-2 para o primeiro. O duelo seguinte (Indian Wells 2022) teve o mesmo vencedor, mas num jogo muito mais renhido.
Alcaraz venceu-o algumas semanas depois, nos quartos de final em Madrid. E este ano também o derrotou num jogo de exibição organizado pela Netflix em Las Vegas.
Mas se há um sonho que Alcaraz repete nos últimos meses é o de jogar em pares com Nadal nos Jogos Olímpicos de Paris-2024.
"Se tudo correr bem, vamos jogar em pares", disse o jovem de El Palmar em maio, em Madrid. Nadal e a sua forma física terão a última palavra.