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Análise 11Hacks: A defesa sofisticada e impenetrável de Marrocos

Análise 11Hacks: A defesa sofisticada e impenetrável de Marrocos
Análise 11Hacks: A defesa sofisticada e impenetrável de MarrocosAFP
Foram precisos 92 anos, e um total de 49 tentativas, para uma equipa africana conseguir alcançar as meias-finais de um Campeonato do Mundo. A primeira nação a abrir os portões dos quatro melhores foi Marrocos, que era já uma das quatro seleções africanas a alcançar os quartos de final de um Mundial. O sonho continua.

A forma como Marrocos alcançou este histórico sucesso é óbvio logo à primeira vista: nos cinco jogos já realizados no Campeonato do Mundo, sofreram apenas um golo, e esse foi marcado por Nayef Aguerd, na própria baliza.

A excelente performance defensiva da seleção orientada por Walid Regragui não é obra do acaso. É, sobretudo, motivada pelo facto de Marrocos não permitir aos adversários oportunidades de golo.

Até agora, Marrocos concedeu uma média de apenas 0,93 golos esperados (xG) por jogo. E já mediu forças com Croácia, Bélgica, Espanha e Portugal.

Nos últimos dois jogos, o guarda-redes Bono só teve de intervir por quatro ocasiões. As outras 24 tentativas dos adversários foram bloqueadas ora pela defesa, ora em remates desenquadrados - e a maioria a partir de zonas do terreno nas quais a hipótese de ter sucesso, ou seja, de fazer golo, era muitíssimo baixa.

Sem bola, Marrocos assenta num esquema tático em 4x1x4x1, com Amrabat à frente do quarteto defensivo, uma das mais baixas neste Mundial. Enquanto a média das ações defensivas das seleções presentes no Mundial são feitas a 46 metros da sua baliza, a de Marrocos surge a 42 metros. Só o Catar, Camarões e Costa Rica jogaram num bloco inferior.

O plano de jogo é permanecer compacto, limitar o espaço onde o adversário jogar e, mal ganhe a posse de bola, explorar o contra-ataque rápido. Marrocos tem uma média de posse de bola, no Mundial, de 34,71%, a terceira mais baixa, depois de Japão e Costa Rica.

Só Catar e Costa Rica têm pior média de ataque por número de passes
Só Catar e Costa Rica têm pior média de ataque por número de passes11Hacks

Os marroquinos pressionam com uma intensidade baixa. Olhando aos dados, Marrocos só ataca a uma média de cada 18 passes, novamente o terceiro valor mais baixo, apenas atrás de Catar e Costa Rica. Normalmente, isso acontece porque Marrocos tenta manipular o adversário para os espaços exteriores. Nesta estratégia, o avançado marroquino, En-Nesyri, bloqueia um possível passe do central para o médio defensivo, tornando impossível progredir pelo miolo.

Nas alas, o trabalho defensivo dos extremos, Hakim Ziyech e Sofian Boufal é crucial na estratégia. O papel de ambos é ajudar os laterais para que nunca surjam situações de 1 para 1 em zonas exteriores.

Dos extremos presentes no Mundial que jogaram pelo menos 270 minutos, Ziyech é o terceiro com maior número de ações defensivas, apenas atrás de Bukayo Saka (Inglaterra) e Mathew Leckie (Austrália). Já Boufal surje no sétimo lugar.

Além disso, Marrocos ultrapassa em número os seus adversários nessas zonas do terreno, mesmo em situações em que um maior número de jogadores está envolvido no ataque. Porque nessas situações, além dea defesa, o médio defensivo Amrabat entra em processo defensivo, encostando ou mesmo fixando-se mais atrás do que a linha de quatro defensiva.

Deste modo, o adversário não tem outra escolha que não seja voltar atrás com a transição ou optar pelos cruzamentos largos para a área, onde a defesa de Marrocos não tem permitido qualquer veleidade.

Ao mesmo tempo, Marrocos tenta limitar o mais possível as situações em que pode enfrentar perdas de bola em zonas defensivas. Mesmo na fase de ataque, os dois defesas centrais, bem como Amrabat, permanecem muito baixos no terreno.

A missão de Amrabat é cumprida à risca. Dos médios defensivos que jogaram, pelo menos, 270 minutos no Mundial, só Adrien Rabiot (França) parou mais ações perigosas com as suas intervenções defensivas. E, no que diz respeito à percentagem de duelos ganhos no meio-campo, Amrabat está no pódio deste Campeonato do Mundo.

Em defesa que ganha... tem de se mexer

A preparação de Regragui para esta meia-final com França está dificultada e, muito, pelas lesões no setor defensivo marroquino. Aguerd e Mazraoui, que falharam o jogo dos quartos de final, com Portugal, têm agora a companhia do capitão, Romaind Saiss, que está em dúvida para a meia-final. É, por isso, muito provável que a dupla de centrais para o duelo com França seja diferente daquele que se apresentou no início do Mundial.

Vários favoritos partiram os dentes contra a muralha marroquina no Mundial. Será que Marrocos ultrapassa, agora, o teste mais difícil?