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Análise Canadá: No país do gelo, o fim da seca de um Mundial

Análise Canadá: No país do gelo, o fim da seca de um Mundial
Análise Canadá: No país do gelo, o fim da seca de um MundialProfimedia
O Canadá está de regresso a um Campeonato do Mundo. É apenas a segunda vez, depois de na estreia, em 1986, ter terminado a sua participação sem um único ponto. Agora, 36 anos depois, o Canadá é diferente, bem diferente, apresentando-se no Catar com jogadores que estão a dar nas vistas na Europa e com um vasto leque de craques da MLS, a cada vez mais competitiva liga norte-americana.

Introdução

O caminho do Canadá até este Mundial foi tudo menos fácil e curto. Ao todo, 14 jogos de qualificação, contra outros adversários de todo da CONCACAF, num percurso de quase sete meses. A verdade é que o Canadá terminou invicto, sem perder contra os dois maiores rivais, Estados Unidos e México, terminando no topo do grupo, com 28 pontos, algo histórico ainda antes da presença no Catar.

No comando técnico da seleção canadiana está John Herdman, de 46 anos. Um inglês com um percurso bem longe do habitual até chegar a este cargo: passou pela liderança da seleção feminina do Canadá, durante sete anos, tornando-se no primeiro treinador a liderar um país, na fase final de um Mundial, como selecionador masculino e feminino. John Herdman não tem qualquer experiência como técnico de clubes mas o seu trabalho como selecionador merece, para já, aprovação geral de uma nação inteira.

No Catar o Canadá terá pela frente, no grupo F, uma tarefa árdua. Marrocos, representante africano, e depois duas formações europeias, Croácia e Bélgica, finalistas do Mundial de 2018. Qualificar-se neste grupo seria desde logo um feito histórico e megalómano para o Canadá mas, olhando para o elenco, há armas suficientes para causar surpresas.

Pontos fortes

Os maiores trunfos do Canadá estão no ataque. Alphonso Davies, o esquerdino do Bayern Munique, e Jonathan David, figura de proa do Lille, são a dupla de ataque dos canadianos.

A principal preocupação está, como em tantas outras seleções, na forma física dos craques. Alphonso Davies regressou à competição apenas no início deste mês, depois de uma lesão no tendão, existindo dúvidas sobre a sua condição atual. Foi, porém, convocado, sinal de que John Herdman terá a garantia que o avançado pode dar o seu contributo no imediato. Estando bem, desempenhará um papel mais ofensivo do que costuma fazer no Bayern Munique, tendo a seu lado Jonathan David, figura do Lille, onde leva já nove golos e três assistências em 15 jogos. Pela seleção a média não se fica atrás: 24 golos em 34 jogos.

Depois, atrás da dupla atacante, há Stephen Eustaquio. O médio do FC Porto é um dos jogadores em melhor forma no panorama europeu, tendo marcado cinco golos nos últimos quatro jogos dos dragões. E o craque dos azuis e brancos é o cérebro deste onze canadiano.

"No centro está a virtude, a confiança e a fraternidade. Penso que vai ser pelo meio que o Canadá terá o fator X para este Mundial", confessou Herdman , que coloca no coletivo a chave para o sucesso.

Pontos fracos

Se no ataque o Canadá tem classe mundial, na defesa há essa insuficiência. Apenas Richie Laryea tenha experiência numa das cinco principais ligas, sendo que a maioria está a competir na MLS. Herdman tem optado ora por uma linha de três, ora pela defesa a quatro no último ano, não se tendo a certeza sobre que sistema tático apostará neste Mundial. A verdade é que na qualificação o Canadá terminou com a melhor defesa da CONCACAF: apenas sete golos sofridos.

O grau de dificuldade no Mundial, porém, será consideravelmente superior e a defesa pode ser o fator mais preocupante para os canadianos. Daí que a estratégia deva passar por um trio de centrais, incluindo Steven Vitória, do Chaves, formando uma linha de cinco para os duelos mais complicados.

XI ideal

Borjan - Johnston, Steven Vitória, Cornelius, Adekugbe, Laryea - Hutchinson, Eustaquio - Liam Millar, Alphonso Davies, Jonathan David.

Herdman tem talento ofensivo suficiente no elenco para causar surpresa, se defensivamente o Canadá cumprir com os serviços mínimos. O selecionador tem testado alternativas nos últimos jogos, havendo várias dúvidas no onze inicial, começando desde logo pelo sistema tático a utilizar na estreia, diante da Bélgica.

Quase certo é o trio atacante, tal como o meio-campo, com Eustaquio como figura de proa.

Principal dúvida

Atiba Hutchinson pode bater um recorde neste Campeonato do Mundo, confirmando-se a sua utilização, tornando-se no jogador mais velho, aos 39 anos, a jogar por uma seleção americana, superando o argentino Angel Labruna, em 1958. Hutchinson tem, porém, o lugar ameaçado por jogadores como Samuel Piette, que jogou no meio-campo durante a qualificação e tem sido titular indiscutível na MLS, ao serviço do Montreal.

Previsão

O Canadá é, a par do País de Gales, as duas seleções que jogam pela primeira vez um Campeonato do Mundo este século. Esta espera de 36 anos torna a presença numa fase final, só por si, um sucesso, mas o Canadá também pretende fazer história, conquistando os primeiros pontos num Mundial.

Para passar este grupo o Canadá terá obrigatoriamente de vencer Marrocos e depois pontuar nos duelos com os rivais europeus.

O entusiasmo no Canadá é crescente e a seleção tem já a garantia que, em 2026, repetirá a presença num Mundial, aí como co-organizador. Este será, portanto, a competição ideal para ganhar experiência.