- Primeiro Campeonato do Mundo na carreira, aos 35 anos. Presumo que seja uma felicidade imensa...
- Sim, é isso mesmo. Uma felicidade pura, que vem de dentro do corpo. Mas também quero deixar bem claro que não é só um momento meu, de forma nenhuma. Muita gente contribuiu para que isto pudesse acontecer. Mas é uma felicidade enorme poder estar a viver este momento.
- O Canadá não é uma seleção habitual em fases finais de Mundiais. Consideras que pode ser um ponto de partida para estar presente mais vezes?
- Acredito que sim. Senti tudo isso na última qualificação, na forma como o país juntou-se e transformou-se à volta do futebol. É o segundo Mundial na história do Canadá, depois de 1986, e agora serão dois seguidos. Depois do Catar vamos organizar o próximo Campeonato do Mundo, com os Estados Unidos e o México. Isto pode mudar o país para sempre. É muito gratificante fazer parte deste crescimento e deste processo. É fantástico ver a qualidade com o que o Canadá se apresenta hoje o futebol. Podemos estar a assistir ao início de uma coisa muito gira para o nosso país.
- O Canadá ficou no grupo F, com Bélgica, Croácia e Marrocos. Um sorteio complicado...
- Sim. Mas eu lembro-me de ver o sorteio e não valia a pena estar à espera de fragilidades aqui ou ali. Há seleções realmente muito poderosas, o nosso grupo tem duas seleções fortíssimas, uma vez que tem finais e outra no top 3 do Mundo. Mas é um Mundial, a realidade é essa. Estou super feliz, de uma forma ou de outra. O Canadá não vai ao Mundial só para desfrutar ou participar. Vamos querer ter uma palavra a dizer. Respeitando e sabendo das dificuldades mas estamos cá por alguma razão. Estou feliz, sabendo que temos uma responsabilidade muito grande, mas sinto a seleção do Canadá com cada vez mais mentalidade e atitude vencedora. Estou ansioso para ver o que podemos fazer no Mundial.
"Não devemos temer o momento mas aceitar a responsabilidade"
- O primeiro adversário é a Bélgica. Interessa começar bem, não há grande margem em Mundiais...
- Não vou mentir, não tenho experiência nenhuma em Mundiais, mas sei que em torneios o início é fundamental, ainda para mais num Mundial, que não te dá segundas oportunidades. Começar bem é fundamental, sabendo do poderio da Bélgica. Mas custou muito chegar aqui, não devemos temer o momento mas aceitar a responsabilidade. Se pudermos começar com uma vitória seria fantástico e é isso que vamos tentar fazer.
- Este é um Mundial específico, pela data em que se realiza e por ser num país com uma especificidade muito própria. Isso mexe com os jogadores ou poder estar numa competição destas ultrapassa todas essas questões?
- De certeza que as outras seleções têm mais experiência em outros Mundiais do que nós. Para todos será uma novidade grande mas para nós é uma novidade em todos os sentidos, não só na altura do ano ou no país organizador. Mas creio que há benefícios nisso. No final da época é mais normal os jogadores chegarem desgastados e a meio de uma temporada vamos poder ver os atletas a apresentarem-se de outra forma. É uma novidade mas creio que a vontade e a importânca do momento vão ultrapassar todas as dificuldades que possam surgir, sendo que as novidades até podem criar aqui algumas incógnitas. Mas não deixa de ser um Mundial e esse simples facto ultrapassa tudo.
- Nos possíveis cruzamentos da competição existe uma possibilidade do Canadá defrontar Portugal. Era algo que te agradaria?
- Claro que sim, era sinal de que tínhamos passado o nosso grupo. E se for numa fase adiantada, melhor ainda. Canadá e Portugal são os meus países, da minha família. Vou defender o Canadá com toda a minha força mas querendo também ver Portugal a ter sucesso. Mas claro que seria um momento especial, são dois países que me dizem muito, bem como à minha família.
- Coates disse ao Flashscore que num Mundial não há favoritos. Raphinha disse ao Flashscore que acredita no título do Brasil mas que Portugal também tem possibilidades. Acha que é possível ver Portugal campeão do Mundo?
- Claro que sim. Se virmos a qualidade à volta a nossa - e digo nossa porque é o país em que vivo, a minha casa - Seleção, está recheada de talentos que atuam nos melhores clubes do Mundo. Pode até não entrar no Mundial no melhor momento mas quando começar vai dar o clique. Não quero dizer que Portugal é favorito mas não ficaria surpreendido se for muito longe. Foi campeão europeu há pouco tempo e Portugal é sempre Portugal. Não há favoritos, como disse o Coates, porque toda a gente se transforma num Mundial. É uma competição diferente de todas as outras, toda a gente tem direito a sonhar e sinto isso mesmo com a seleção do Canadá. Merecemos esse direito, queremos também trabalhar e correr atrás do sucesso que sei ser possível.
- Nestas alturas qualquer jogador que participa no Mundial tem ambições, tem sonhos com certas situações. O Steven Vitória já sonhou com a possibilidade de jogar uma final de um Mundial e marcar um golo?
- Sonhar faz bem. Eu não sou diferente dos outros jogadores. Todos queremos sempre mais, fazer os nossos sonhos crescer. Agora, estou também ciente do momento. É importante levarmos tudo isto no dia a dia. Mas claro que visualizo isso e sonho com o sucesso do Canadá. E se eu puder ajudar, melhor ainda. É preciso trabalhar muito para que o sucesso chegue. Assumimos essa responsabilidade, sonhar faz bem mas também é preciso trabalhar muito. Temos de juntar as duas coisas.
- Que mensagem queres deixar aos leitores canadianos do Flashscore, aos milhares de adeptos do teu país que também falam português?
- Primeiro deixar uma palavra de agradecimeto por todo o apoio que deram, toda a energia que criaram na fase de qualificação. Isto está a mexer muito com o país, é fantástico e lindo ver isso. Só peço que continuemos assim, só juntos, com esta sintonia, é que o sucesso fica mais próximo. Queremos é que o Canadá fique orgulhoso de nós e que puxemos todos juntos. Não são só 11 ou 26, somos milhões a torcer pela mesma coisa e, quando juntamos essa energia toda, somos mais fortes.