Análise de Leonel Pontes: "Esperemos que este jogo sirva de aviso e de vergonha para a nossa seleção"

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Análise de Leonel Pontes: "Esperemos que este jogo sirva de aviso e de vergonha para a nossa seleção"
Análise de Leonel Pontes: "Esperemos que este jogo sirva de aviso e de vergonha para a nossa seleção"
Análise de Leonel Pontes: "Esperemos que este jogo sirva de aviso e de vergonha para a nossa seleção"
Profimedia
O treinador Flashscore, Leonel Pontes, mostrou-se pouco impressionado com a falta de nível competitivo da seleção portuguesa na derrota diante da Coreia do Sul (2-1), na terceira e última jornada do Grupo H do Campeonato do Mundo do Catar.

A seleção portuguesa já estava apurada para os oitavos de final e ficaria em primeiro lugar se ganhasse ou empatasse com a Coreia do Sul, ou se a seleção do Gana perdesse ou empatasse com o Uruguai.

Além dos jogadores lesionados (Nuno Mendes, Danilo e Otávio), a seleção tinha quatro jogadores amarelados (João Félix, Rúben Neves, Bruno Fernandes e Rúben Dias), e se recebessem outro cartão falhariam o jogo seguinte, dos oitavos.

Reveja aqui as incidências do encontro

Por esta ordem de ideias, era expectável que o selecionador fizesse algumas alterações em relação aos jogos anteriores, não só para proteger estes jogadores do segundo amarelo, como para dar “jogo” a outros que podem ser importantes nesta competição.

Outro aspeto também importante, apesar de não ser relevante para a análise, é que os sul-coreanos são liderados por Paulo Bento e uma equipa técnica na sua maioria portuguesa. 

As equipas

A seleção nacional apresentou-se num sistema de 1:4:3:3:, mas com muitas alterações em relação ao último jogo com o Uruguai.  Eram alterações expectáveis e que podem ser criticadas em função da alteração significativa do 11 inicial, justificadas pelos argumentos anteriormente mencionados. 

No setor defensivo, Diogo Costa manteve-se na baliza e, face a ter só um defesa esquerdo, Cancelo ocupou a lateral esquerda com a direita para Diogo Dalot. Rúben Dias deu o seu lugar a António Silva, que jogou a central pela esquerda, mantendo o Pepe a central pela direita. 

No setor médio, a surpresa foi manter Rúben Neves a médio defensivo, que também tinha um amarelo e corria riscos. Como médios interiores, entrou Vitinha para o lugar de William Carvalho, como jogador de ligação, e saiu Bernardo Silva por Matheus Nunes, que jogou mais perto do ponta de lança, como médio ofensivo ou de transição.

No setor ofensivo, Ronaldo mante-se como o jogador mais posicional a ponta de lança. Na ala direita, João Mário jogou no lugar de João Félix e Ricardo Horta no de Bruno Fernandes. 

Com estas alterações, e apesar da qualidade individual dos jogadores, o jogo nunca seria o mesmo porque mudando os intervenientes mudam as características do jogo. Como podemos verificar no quadro de posicionamento médio, observamos os alas muito dentro, os laterais não muito subidos e Ronaldo demasiado baixo, o que reflete a necessidade de vir buscar a bola porque esta não chegava a zonas mais profundas.

Posicionamento médio dos jogadores portugueses
AFP/Opta by Stats Perform

A seleção da Coreia do Sul, após a derrota com o Gana (3-2), fez poucas alterações. Manteve o sistema de jogo no 1:4:2:3:1.

No setor defensivo, manteve o guarda redes, Kim Seung-Gyu (número 1), na linha defensiva manteve o lateral direito Kim Moon-hwan (15), o lateral esquerdo Kim Jin-su (3) e o central pela esquerda Kim Young-gwon (19), mas em relação ao jogo anterior trocou o central pela direita Kim Min-jae por Kwon Kyung-won (20).

No setor médio manteve Hwang In-beom (6) e Jung Woo-yuong (5), como médio mais ofensivo Lee Kang-in (18).

No setor ofensivo e na esquerda Son Heung-Min (7), a ponta de lança Cho Gue-Sung (9) e na ala direita Lee Jae-Sung (10).

É uma seleção com grande qualidade coletiva, com capacidade para jogar em todo o campo e com variabilidade no seu jogo. Todos os jogadores têm uma boa qualidade técnica, o que lhes permite ter um ataque apoiado muito consistente, sabendo jogar sob pressão e entrando dentro das linhas adversárias.

Em função também das características físicas, com jogadores muito rápidos e com níveis de agressividade ofensiva elevados, são muito fortes em contra-ataque. Têm jogadores de grande qualidade e que podem fazer a diferença individualmente, nomeadamente Son Heung-min (7) e o ponta de lança o Cho Gue-Sung (9).

Posicionamento dos sul-coreanos
Opta by Stats Perform

Confronto de sistemas

No confronto de sistemas e nos dois momentos do jogo, defensivo e ofensivo, verificaram-se alguns comportamentos padrão.

Na fase ofensiva e na primeira fase de construção da seleção portuguesa, os nossos centrais foram sempre pressionados pelo ponta de lança e médio de ataque. Era uma pressão num posicionamento médio, tendo o Diogo Costa defesas centrais e médios com liberdade para passar a bola.

A partir da zona média e na ligação entre médios e avançados, os espaços eram reduzidos, o que provocou muitas perdas de bola da seleção portuguesa nessa zona. A equipa da Coreia do Sul teve muita dificuldade em defender os nossos laterais, os alas não acompanhavam e houve desequilíbrios provocados nessas zonas.

No meio campo, perdemos essa batalha no 3 contra 3. Os médios defensivos foram anulando todas as iniciativas nessa zona. Jung Woo-young e Hwang In-beom foram muito pressionantes sobre Vitinha e Matheus. Só conseguimos sair dessa pressão quando começamos a construir a 3, com o Rúben Neves a baixar para o meio dos centrais.

No ataque, Ronaldo raramente foi solicitado em profundidade ou em situações de cruzamento. Foi marcado muito bem, mas à zona. Os nossos alas tiveram sempre a marcação dos laterais e só se soltaram dessas “amarras” quando os nossos laterais ganhavam vantagem numérica nesse corredor. 

Na fase defensiva de Portugal e em bloco alto, a equipa pressionava com os 3 avançados contra os centrais e os laterais, com a pressão no meio-campo a encaixar nos 3 médios adversários. O Rúben Neves ligava-se à linha de defesas formando algumas vezes, e principalmente em momento de cruzamento, uma linha de cinco defesas. Os nossos laterais acabavam por marcar e pressionar os laterais adversários.

Organização tática coletiva e momentos distintos do jogo

O jogo tem vários momentos-chave que determinam o desfecho.

1.º Momento: Golo da seleção portuguesa e reação da Coreia do Sul

Portugal entrou a dominar o jogo com posse de bola na primeira fase de construção, mas com dificuldade em ultrapassar as linhas de pressão da Coreia do Sul. Aos quatro minutos, numa saída de Pepe pela lateral direita e para a profundidade de Diogo Dalot, este ultrapassou o lateral adversário no 1x1 e cruzou atrasado para o movimento do ala por dentro, com Ricardo Horta a finalizar.

Jogada do golo português
AFP/Opta by Stats Perform

A partir deste momento, a Coreia do Sul passou a dominar o jogo, a chegar a zonas de finalização quer através de jogo interior, quer através de jogo exterior e foi ganhando bolas paradas. Aos 17 minutos, após pontapé de marcaram um golo que acabou por ser anulado. O lance foi muito mal defendido por Portugal, ao permitir o cruzamento numa marcação de canto em 2 contra 1. Neste período a pressão sul-coreana era intensa e adivinhava-se que pudéssemos sofrer golo.

2.º Momento: Golo da Coreia do Sul de bola parada e reação portuguesa

O golo acabou por surgir ,aos 27 minutos, e, novamente, numa execução de bola parada, em rotação externa, ao primeiro poste. Vários jogadores saltaram e induziram em erro Ronaldo, com a bola a bater-lhe nas costas e a isolar um jogador da Coreia do Sul que acaba por fazer o golo, pelo central Kim Young-Gwon (19). A partir deste momento, foram os asiáticos a acreditar que podiam ganhar o jogo.

Portugal tem uma boa reação e assistiu-se ao melhor período da seleção a jogar mais no meio campo adversário, a subir os médios e os laterais e a bola a chegar às zonas da área. Aos 35 minutos, Dalot progride para dentro e perto da área remata ao canto inferior, para uma boa defesa do guarda-redes e, aos 42 minutos, um bom remate de Vitinha obrigou o guardião a defender para a frente e, na recarga, Ronaldo já desenquadrado e em esforço remata ao lado.

3.º momento: Substituições de Portugal e Coreia do Sul

Do intervalo até aos 65 minutos, assistiu-se a um jogo equilibrado com domínio repartido, jogado mais no meio-campo e com muitas perdas de bola de parte a parte, onde a organização defensiva era mais forte que a ofensiva.

Foi nessse minuto que Fernando Santos trocou Matheus por Palhinha, Rúben Neves por Rafael Leão e Ronaldo por André Silva. A equipa passou a jogar com Palhinha como médio defensivo, dois médios interiores (João Mário e Vitinha) e os três da frente: Rafael Leão na esquerda, André Silva a ponta de lança e Ricardo Horta, mais à direita.

A seleção sul-coreana, retirou do jogo Lee Jae Sung (10), a jogar pela direita, e colocou Hwang Hee-Chan (11), avançado do Wolverhptam.

A partir destas alterações, a seleção portuguesa foi perdendo o domínio do jogo, enquanto os sul-coreanos acreditaram e aceleraram constantemente o jogo no sentido de ganhar o jogo e poder sonhar com os oitavos de final.

Portugal jogava num ritmo lento, sem ligação coletiva e com dificuldade em levar a bola até zonas de finalização. Era um jogo previsível, sem rasgos individuais e incapacidade de ganhar vantagem ou criá-la em momentos de superioridade numérica em zonas do campo. Seguiram-se várias situações de perigo para a baliza de Portugal, que Diogo Costa foi resolvendo.

Aos 81 minutos, Vitinha foi substituído por Bernardo Silva e João Mário por William Carvalho. Numa perspetiva de ter mais posse de bola, através do jogo combinado e da criatividade de Bernardo, mas o figurino não mudou, apesar de duas aproximações perigosas de Rafael Leão.

4.º momento: Golo da Coreia do Sul, aos 90+1 minutos.

O arbitro deu 6 minutos de desconto e num canto a nosso favor, aproximaram-se dois jogadores da bola: Ricardo Horta e Cancelo. E aproximou-se um jogador sul-coreano, Son, a tentar evitar o canto curto. Nesse momento, temos William Carvalho à saída da área em equilíbrio defensivo. A bola vai para o primeiro poste, é cortada por um defesa e vai ter aos pés de Son(7).

Este jogador, muito rápido em condução de bola, vai direito ao espaço e em direção à baliza, Dalot recua a espera de ajuda, Palhinha aproxima-se, e vem em apoio um segundo jogador, Hwang Hee-Chan (11), que tinha entrado aos 62 minutos, que numa desmarcação para o espaço vazio e já dentro de área acaba por fazer o golo, após o passe de rutura de Son. 

O momento tem mérito do jogador sul-coreano, mas há muito demérito dos joadores da seleção, que numa situação de 2 contra 4 não conseguiram parar a jogada ou fechar o espaço central. Wiliam Carvalho não olhou em seu redor para acompanhar o movimento do atacante e este acaba por receber a bola sem pressão e finalizar.

A partir deste momento foi a seleção sul-coreana a controlar o jogo perante uma formação portuguesa sem argumentos para mudar o rumo dos acontecimentos.

Destaques da seleção nacional

Diogo Dalot – Dentro da média de nível baixo, Dalot foi o que mostrou mais coragem e capacidade de desequilíbrio, podendo ter ganho um lugar no onze inicial.

Diogo Dalot foi o melhor jogador da equipa portuguesa
AFP/Opta by Stats Perform

Conclusão

Jogo muito equilibrado, até pelas estatísticas, mas justificando a vitória da Coreia do Sul pela consistência enquanto equipa e pela organização coletiva. A seleção portuguesa foi uma equipa que mostrou falta de ligação entre jogadores e setores e uma grande incapacidade para desequilibrar o adversário. Alguma falta de competitividade, talvez fruto de saberem que o primeiro lugar estava praticamente assegurado. 

Estatísticas do final do encontro
AFP/Opta by Stats Perform

Esperemos que este jogo sirva de aviso e de vergonha para a nossa seleção tendo em conta o que ainda falta jogar. Os sul-coreanos valeram-se da sua organização coletiva e da qualidade individual dos jogadores. Têm vindo a mostrar muita competência e muita personalidade em vários momentos do jogo. Com a derrota do Gana e a vitória do Uruguai, apurou-se a Coreia do Sul que, em igualdade pontual com o Uruguai, beneficiou de um saldo positivo entre o número de golos marcados em relação aos sofridos.