Carl Lewis é, sem dúvida, um dos maiores atletas da história. Mas, para o grande público, é muitas vezes visto como o especialista dos 100 metros que perdeu para Mike Powell no salto em comprimento em Tóquio. Um erro clássico, porque é mais fácil ser conhecido quando se triunfa na maior prova do atletismo.

Porque se há uma disciplina em que"King Carl" é um verdadeiro especialista, é o salto em comprimento. Uma disciplina em que ele é simplesmente tetracampeão olímpico, onde estabeleceu um recorde de 65 competições consecutivas sem derrota. Até 30 de agosto de 1991.

Apesar do seu domínio indiscutível - foi a Tóquio como bicampeão olímpico e bicampeão do mundo -, era de perguntar se Lewis é capaz de levar a sua lenda para o próximo nível. Isso significava ir atrás de um dos recordes mais inatingíveis da história do atletismo: o de Bob Beamon.

Aqueles 8,90 metros estavam na sua órbita Ele queria-o, para estabelecer definitivamente o seu estatuto como o melhor saltador em comprimento da história. O que, no final, ele é sem dúvida. Mas é irónico que o melhor saltador da história não detenha o recorde mundial.

No entanto, nessa noite, ele conseguiu ultrapassar a fasquia. 8,91 metros, sim, mas havia demasiado vento e a certificação era impossível. Ironicamente, não foi suficiente para vencer a competição e não contará para o seu recorde pessoal.

Então, o que é que torna esta competição tão especial?

O facto de Mike Powell, um outsider declarado mas que ainda não tinha atingido o nível de Lewis, ter conseguido o inatingível. Quem não gosta de uma boa história em que o favorito é derrotado, mas não sem mostrar porque é que é o favorito? Porque neste ponto, Carl Lewis tentou tudo.

As suas duas primeiras tentativas foram medianas, mas depois deixou os cavalos correrem à solta. 8.83, 8.91, 8.87, 8.84. Uma consistência que raia a insolência. 4 saltos acima de 8,80 metros na mesma competição, isso nunca tinha acontecido antes, e provavelmente nunca mais vai acontecer. O público foi ao rubro com cada salto. O recorde é para já?

Bem, não, é para Mike Powell. Na quinta tentativa, quando parecia que ele era demasiado baixo para ser o Rei, tomou a coroa. Ao descolar para a eternidade, parecia que ia tocar nos 9 metros, mas foi com 8,95 metros que Michael Anthony Powell fez história. O Rei está morto, viva o Rei!

Mas o que também torna esta competição lendária é o facto de o recorde ainda se manter. E o que dizer de Ivan Pedroso? Bem, se olharmos para a lista dos recordes mundiais, Mike Powell é o detentor com aquele salto incrível. Não devias ter brincado com o medidor de vento, Ivan!

Uma competição incrível em termos de desempenho, um recorde do mundo, a única vez na sua carreira em que Mike Powell bateu Carl Lewis, um público delirante à procura de ídolos para adorar, um lado dramático que se encontra frequentemente no atletismo. Que competição pode rivalizar com esta em termos de ser a mais lendária? Nenhuma.