Bem-vindos ao Inferno do Norte: vem aí a Paris-Roubaix

Raffaele R. Riverso

Wout van Aert durante a edição de 2021 do Paris-RoubaixProfimedia

O terceiro Monumento do calendário será realizado no dia de Páscoa. 256,6 quilómetros e 29 setores de pavet: do lendário bosque de Arenberg ao terrível Carrefour de l'Arbre.

Esqueça a ressurreição! Este ano, na Páscoa, os ciclistas vão para o Inferno. Todos de forma voluntária para tentarem ganhar a Clássica das Clássicas, a corrida que vale uma carreira. Vem aí o terceiro Monumento da época: a Rainha do Pavet.

A lutar pelo mais original dos troféus estarão 175 atletas que chegaram a França com a ambição de domar as chamas e as pedras do Inferno do Norte. De líderes a gregários. E sim, porque Roubaix não faz prisioneiros e não conhece nem respeita hierarquias. Para vencer, não será suficiente ser o mais forte, mas também o mais corajoso e por vezes o mais imprudente. Sem esquecer o fator sorte. Estar no lado errado de um acidente pode ser um erro imperdoável, mesmo a 200 quilómetros da linha de chegada.

Não está prevista chuva para este ano, embora na Páscoa o tempo seja muitas vezes instável e imprevisível. E é por esta razão que, mesmo em caso de sprint no final, seremos capazes de reconhecer os rostos dos protagonistas sem termos de nos aproximar da televisão com a tentação de limpar a lama dos pobres corredores. Como em 2021, quando Sonny Colbrelli bateu Florian Vermeersch e Mathieu van der Poel no mítico Vélodrome André-Pétrieux, em Roubaix.

Percurso

O facto de nem Wout van Aert nem Mathieu van der Poel terem, pelo menos até ao momento, conseguido vencer em Roubaix confirma como é complicado e imprevisível prever quem sairá em primeiro do Inferno do Norte. Uma queda, a chuva, uma fuga impossível (que afinal não era assim tão impossível...), um erro de avaliação ou de planeamento inicial, ficar sozinho demasiado cedo, etc... Há tantos fatores que podem decidir de uma forma ou de outra a mais imprevisível e mais difícil das corridas do calendário.

Para ganhar, porém, todos, absolutamente todos, desde o herói do dia ao campeão, terão de ser capazes de domar os paralelepípedos. De facto, os paralelepípedos tentarão tomar o controlo da bicicleta, privando o ciclista da energia física e mental necessária para cruzar primeiro a meta. Dos 256,6 quilómetros programados entre a partida em Compiègne e o Velódromo de Roubaix, 54,5 serão percorridos sobre os tradicionais tradicionais paralelepípedos cúbicos.

O primeiro dos 29 setores de pavet chegará em Troisvilles, após pouco menos de 100 quilómetros de corrida. O percurso deste ano inclui também o regresso, após 19 anos de ausência, a Haspres (1,7 quilómetros). A partir daí não haverá descanso para os corredores, que terão de domar as suas bicicletas como se fossem mustangs .

Uma tarefa que será particularmente difícil nos setores de cinco estrelas. Começando pelo mítico bosque de Arenberg que chegará a 160 quilómetros do final: dois mil e trezentos metros de paralelepípedos, onde além de se preocuparem em permanecer no selim, os ciclistas terão de evitar os furos. Aqui, como na Flandres, as bermas da estrada tornam-se num bom refúgio para os ciclistas, a menos que a chuva as tenha transformado em poças perigosas.

Os outros dois sectores de cinco estrelas vêm ao quilómetro 208 em Mons-en Pévèle e pouco antes do final com o terrível Carrefour de l'Arbre, tornado ainda mais dramático pelos quatro setores de quatro estrelas que o precedem.

Favoritos

Sonny Colbrelli venceu em 2021Profimedia

Ao contrário de há dois anos, quando Colbrelli ganhou num sprint, no ano passado foi Dylan Van Baarle que conseguiu surpreender todos os favoritos ao entrar no André-Pétrieux sozinho. O que vai acontecer a partir de domingo é demonstrado pela ausência do melhor ciclista do circuito: "Sim, vou tentar ganhá-lo um dia, mas tenho de ganhar alguns quilos e as minhas mãos tornarem-se mais resistentes para sobreviver aos paralelepípedos", assegurou Tadej Pogacar imediatamente após vencer a Volta à Flandres.

E é por isso que a sua predileção pelo ciclocrosse faz de Wout van Aert e Mathieu van der Poel os dois principais favoritos para domar as chamas do Inferno do Norte. O neerlandês vem de um início de temporada emocionante com a vitória em San Remo e o segundo lugar na Flandres. E foi precisamente esta última corrida que levantou algumas dúvidas sobre a condição do belga que, ao contrário do seu rival, nunca foi capaz de responder aos ataques de Pogacar. Mas com Wout, nunca se sabe.