De Montreal a Marrocos: O imbatível Bono que leva os Leões do Atlas a outros voos

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De Montreal a Marrocos: O imbatível Bono que leva os Leões do Atlas a outros voos

De Montreal a Marrocos: O imbatível Bono que leva os Leões do Atlas a outros voos
De Montreal a Marrocos: O imbatível Bono que leva os Leões do Atlas a outros voosProfimedia
A seleção mais improvável de entre aquelas que se apuraram para os quartos de final do Mundial-2022 será, certamente, Marrocos. Depois de bater a Bélgica, medalha de bronze da última edição da prova, e de ter terminado a fase de grupos no primeiro lugar, o conjunto africano causou ainda mais choque ao deixar para trás a Espanha, campeã mundial de 2010, nos oitavos de final, resultado para o qual muito contribuiu a heróica prestação de Yassine Bounou.

A seleção espanhola sofreu às mãos do guarda-redes, que "traiu" o país onde faz carreira há uma década, com passagens pelo Atlético de Madrid, Zaragoza, Girona e Sevilha, clube que representa.

Bono tem sido praticamente intransponível no Catar e nem mesmo de penálti os jogadores da Espanha conseguiram festejar, já que falharam os três batidos no desempate diante de Marrocos.

Montreal, um viveiro de talento para as balizas

Montreal, no Canadá, é a escola de um largo número de excelentes guarda-redes. Lorne Chabot, bi-campeão da Stanley Cup com os New York Rangers e os Toronto Maple Leafs, tornou-se no primeiro jogador de hóquei no gelo a aparecer na capa da prestigiada revista TIME, em 1935, e participou nos dois jogos mais longos da história da NHL, ambos decididos no sexto prolongamento, tendo sofrido apenas um golo nas quase seis horas de jogo entre os dois encontros.

Mais tarde, Bernie Parent liderou os Philadelphia Flyers à conquista da Stanley Cup em 1974 e 1975. Venceu ainda o Troféu de Veneza e o Troféu Conn Smythe nessas duas épocas, consideradas ainda hoje, por varios especialistas, como as melhores consecutivas de um guarda-redes na história da NHL. Para além disso, Parent estabeleceu, na altura, o recorde de maior número de vitórias numa temporada regular, ajudando a equipa a alcançar 47 triunfos.

Durante largos anos, a época recorde de Parent foi considerada como a melhor de todos os tempos, até que outro nativo de Montreal, Martin Brodeur, um dos pilares dos New Jersey Devils, o ultrapassou por uma vitória em 2007. Para este registo contribuiu também a inovação nos tempos extra e dos penátis, que não eram disputados na década de 1970, bem como o facto de a época regular ter sido aumentada em quatro jogos. Brodeur estabeleceu uma longa lista de recordes na NHL, vencendo a Taça Stanley por três vezes e ajudando o Canadá a conquistar duas medalhas de ouro em Jogos Olímpicos.

Bono nasceu em Montreal e tornou-se também um guarda-redes extraordinário, alcançando o sucesso em vários pontos do globo, mas não no seu país natal. Contudo, ao contrário dos restantes, a baliza que defende não é de hóquei no gelo, mas sim de futebol, e a bandeira que defende é a de Marrocos, a milhares de quilómetros do local onde cresceu.

Bono no momento em que defendeu um dos penáltis contra a Espanha
Bono no momento em que defendeu um dos penáltis contra a EspanhaFIFA World Cup

Conquistou o lugar a Vaclik e apontou às estrelas

Quando tinha oito anos, os pais de Bono mudaram-se para Casablanca, em Marrocos. O jovem Yassine deixou os Montreal Impact (agora CF Montreal) e passou a treinar na academia do Wydad, clube pelo qual se estrou como sénior aos 20 anos sob as ordens de Bada Zaki, curiosamente um antigo guarda-redes da seleção nacional marroquina.

Com a braçadeira de capitão no braço, Zaki defendeu a baliza de Marrocos no Mundial-1986, no qual os Leões do Atlas venceram o grupo de forma sensacional, deixando para trás Inglaterra, Polónia e Portugal, antes de serem travados nos oitavos de final pela Alemanha Ocidental com um golo marcado aos 88 minutos.

Bono apenas esteve um ano na equipa sénior do Wydad, tendo rapidamente captado a atenção dos representantes do Atlético de Madrid no prestigiado torneio de futebol jovem de Toulon. Contudo, na capital espanhola, encontrou a concorrência de Thibaut Courtois e apenas jogou pela equipa de reservas dos colchoneros, seguindo depois por empréstimo para o Zaragoza aquando da chegada de Jan Oblak ao Vicente Calderón.

Daí, seguiu para Sevilha, já depois de passar pelo Girona, clube que ajudou a garantir a promoção à LaLiga. Inicialmente visto como concorrência Tomas Vaclik, Bono rapidamente se superiorizou ao número um da baliza checa, que acabou por deixar o clube e rumar ao Olympiakos, da Grécia.

A Liga Europa estava pensada como a montra de Yassine, que libertaria Vaclik dos compromissos a meio da semana, mas as suas prestações levaram-no a segurar um lugar no onze.

Anos mais tarde, em 2020, Bono acabou mesmo por vencer a competição ao serviço do Sevilha e nos quartos de final, diante do Wolverhampton, defendeu um penálti de Raul Jimenez. Na meia-final, frente ao Manchester United, foi considerado o melhor em campo e na final ajudou a formação espanhola a bater o Inter de Milão.

Na temporada seguinte, estabeleceu um novo recorde no clube, passando 557 minutos (mais de seis jogos) sem sofrer golos, tornando-se no primeiro jogador do Sevilha a conquistar o Troféu Zamora, que premeia o melhor guarda-redes da LaLiga, tendo ficado à frente de Thibaut Courtois, do Real Madrid.

Com isto, intensificou-se o interesse e falou-se seriamente de uma transferência de Bono para o Barcelona, algo que nunca se materializou.

O orgulho nas raízes árabes

Ainda jovem, Bono pôde escolher entre representar o país natal dos seus pais, Marrocos, ou o país em que nasceu, o Canadá. A seleção africana ganhou à concorrência e o guarda-redes seguiu para os Jogos Olímpicos de Londres, no verão de 2012, para representar as suas cores.

"Quando ainda não tinha jogado por Marrocos, o Benito Floro (treinador do Canadá, na altura) contactou-me. Mas sempre sonhei jogar pelos Leões do Atlas", admitiu, ele que voltou a demonstrar o orgulho e compromisso pelas raízes árabes na CAN deste ano, nos Camarões, onde recusou responder noutro idioma que não o árabe nas entrevistas e conferências de imprensa depois dos jogos. Contra as ordens dos organizadores, o guarda-redes alegou que estes deviam ter providenciado tradutores para os jornalistas ingleses e franceses.

A baliza (praticamente) inviolada no Catar

Durante o Mundial-2022, tem sido curta a capacidade dos avançados adversários para desfeitearem Bono, que sofreu um único golo contra o Canadá, mantendo a sua baliza inviolada diante da Croácia, vice-campeã de 2018, e da Espanha, campeã em 2010.

Contra a seleção belga, porém, o guarda-redes não jogou por razões que não foram divulgadas. Estava escolhido para o onze inicial, entrou em campo para a cerimónia que antecede cada encontro, cantou o hino, mas mostrou-se indisposto, tendo mesmo sido substituido antes do início da partida.

Apesar da ausência inesperada, regressou para ajudar a seleção de Marrocos a chegar aos quartos de final do Campeonato do Mundo e tornou-se no primeiro guarda-redes africano da história dos Mundiais a defender dois penáltis num desempate do género. "Foi um pouco de sorte a um pouco de intuição", explicou, humildemente, depois da prestação heróica.

Marrocos é apenas a quarta seleção africana a alcançar os quartos de final do Mundial, depois de Camarões (1990), Senegal (2002) e Gana (2010).

Já o Gana foi o conjunto que mais perto esteve de atingir as meias-finais da prova, mas perdeu contra o Uruguai no desempate por grandes penalidades, em 2010. Com Bono na baliza, não parece que os Leões do Atlas tenham de se preocupar em demasia com esse cenário.