Lesionado na coxa, o vencedor da Bola de Ouro 2022 foi forçado a retirar-se do Mundial no Catar a três dias do primeiro jogo inaugural da França com a Austrália e deixou com pressa o hotel da equipa em Doha. No entanto, retomou os treinos com o Real Madrid em 10 de dezembro, quatro dias antes da meia-final com Marrocos.
"O próprio Karim disse-me que não estaria pronto", sublinhou o selecionador vice-campeão do mundo ao jornal.
"Quando Karim se lesionou, o nosso médico acompanhou à clínica para fazer uma ressonância magnética. Karim passou os resultados a alguém que o acompanhava em Madrid e também lhe deu uma opinião. Quando voltou ao hotel, já era depois da meia-noite. Juntei-me a Karim no quarto com o nosso médico que me tinha vindo dar o relatório da ressonância... Karim estava devastado porque este Campeonato do Mundo representava muito para ele. Ele disse-me 'Está morto'", contou Deschamps.
"Ficamos juntos cerca de 20 minutos. Ao sair disse-lhe 'Karim, não há urgência. Organizas o regresso com o team manager'. Quando acordei soube que ele tinha ido embora. A decisão é dele, ele não lhe vai dizer o contrário, eu compreendo e respeito", acrescentou.
Relação conturbada
Estas declarações de Deschamps foram recebidas com ironia por Benzema, que desde então anunciou a retirada do futebol internacional.
O avançado do Real Madrid colocou uma captura de ecrã na rede social Instagram com a frase "Mais quelle audace" ("Mas que audácia"), juntando a um emoji de palhaço. Também partilhou um vídeo de um criador de conteúdos francês, Ritchie, que repete a frase "mentiroso, tu és um mentiroso". Acima desse vídeo também escreveu: "Santo Didier... Boa noite".
Este é mais um episódio de uma longa e tortuosa relação entre Deschamps e Benzema e também do jogador com a seleção francesa.
Benzema, que ganhou apenas uma competição com os Bleus (a Liga das Nações, em 2021), foi banido da equipa entre 2015 e 2021 devido ao envolvimento num caso de chantagem sexual contra o companheiro de equipa Mathieu Valbuena, o que levou a uma pena suspensa de um ano de prisão e uma multa de 75.000 euros.
Não foi escolhido para o Euro-2016, mas retorquiu através das páginas do jornal desportivo espanhol Marca, dizendo: "Deschamps cedeu à pressão de uma parte racista de França".
Após a sua saída do estágio no Catar pouco antes do arranque do Mundial-2022, alternou entre mensagens de encorajamento aos franceses e outras mais enigmáticas como uma publicação pouco antes da final Argentina-França, em que escreveu: "Não estou interessado".
O avançado anunciou o fim da sua carreira internacional no dia 19 de dezembro de 2022, um dia depois da final do Campeonato do Mundo.