Entrevista Flashscore: João Freitas Pinto, o treinador por trás do sucesso do Eléctrico

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Entrevista Flashscore: João Freitas Pinto, o treinador por trás do sucesso do Eléctrico
João Freitas Pinto levou o Eléctrico ao terceiro lugar do campeonato na época passada
João Freitas Pinto levou o Eléctrico ao terceiro lugar do campeonato na época passadaFPF
Treinador, selecionador, professor e ex-jogador. João Freitas Pinto é um "faz-tudo" no que toca ao futsal, profissão à qual está ligado há mais de duas décadas. O Flashscore esteve à conversa com o técnico de 53 anos de modo a tentar conhecer toda a sua história na modalidade que mais cresceu e teve sucesso em Portugal nos últimos anos.

A ligação começou no início da década de 1990 e tem perdurado até ao dia de hoje. AMSAC e Recordação de Apolo fazem parte da história de João Freitas Pinto enquanto jogador. Curiosamente foi neste último que conheceu Alípio Matos, com quem viria a trabalhar uns anos mais tarde.

Passou pelo futebol, futebol de salão e futsal, mas foi aos 30 anos que decidiu ser treinador. Integrou os juniores do Sporting, antes de rumar ao Benfica, os emblemas que mais têm dominado a modalidade em Portugal no século XXI. Na segunda época nas águias, decidiu concluir a licenciatura e mestrado em Ciências Farmacêuticas e ausentou-se do futsal.

No regresso, em 2006, ingressou n'Os Belenenses, rumando, seis anos depois, novamente aos encarnados. A seleção da África do Sul também faz parte de uma história dourada que, atualmente, passa por Ponte de Sor, Suíça e Rio Maior - é professor especialista em futsal na Escola Superior.

- Enquanto treinador, como analisa o seu crescimento desde 1999?

- Como os jogadores evoluem, os treinadores também evoluem. Tive um período em que treinei ao lado de grandes treinadores, como o Orlando Duarte e o Alípio Matos, com visões totalmente distintas do jogo, mas dois grandes treinadores. Acabei por estar mais ligado ao Alípio. Sempre tivemos uma grande relação, que já dura há muitos anos e que começou quando fui jogador da Recordação Apolo, em 1993. Quando temos a felicidade de trabalhar e partilhar conhecimentos com treinadores de topo é natural conseguirmos crescer e evoluir. A vertente académica permite-me ter um leque de perspetivas do treino muito mais alargado e deu-me abertura para olhar para o jogo de um modo distinto e mais amplo. Ainda assim, as formações que organizei e as que dei durante alguns anos, ajudaram-me a crescer imenso. Ouvi muitas opiniões, de muita gente e de muitos treinadores de renome, e isso também ajudou no meu crescimento. O treinador que sou hoje é o somatório de todos esses anos e de todas as experiências que passámos.

João Freitas Pinto com Alípio Matos
João Freitas Pinto com Alípio MatosBelenenses

- Está ligado à seleção da Suíça desde 2018. Como analisa o futsal helvético?

- O futsal suíço está em crescimento. O processo começou antes da minha chegada e ao nível dos clubes. O Minerva, por exemplo, fez uma aposta forte no Pedro Santos - um treinador português com muita qualidade - e desde então tem crescido bastante. A federação está a fazer o mesmo forcing e estamos a dar passos sustentados para o desenvolvimento da modalidade no país. Os resultados já estão a aparecer: a Liga está melhor, os femininos e a formação também estão em desenvolvimento.

Quanto à minha entrada, a mesma deveu-se ao facto de as pessoas ligadas à Federação terem gostado da minha forma de olhar para o treino e para a modalidade e haver uma convergência de visões do jogo, do treino e da modalidade. Fui contratado com o objetivo de ajudar no processo de construção de todo um modelo de crescimento sustentado do futsal suíço. Obviamente estamos longe do profissionalismo. O futuro passa essencialmente pelo desenvolvimento dos treinadores, dos árbitros, dos quadros competitivos adequados, do futsal feminino e do futsal jovem. A seleção também tem de criar uma estrutura. Estamos em renovação e temos a ambição de crescer com o tempo.

João Freitas Pinto é o atual selecionador da Suíça
João Freitas Pinto é o atual selecionador da SuíçaSuíça

- Como consegue conciliar o trabalho no Eléctrico com o trabalho na Suíça?

- Quando a Liga para, temos as janelas das seleções e organizamos estágios. Quando não há estágios, faço o trabalho pelo computador. Passo muito tempo a ver jogos, muito tempo a observar e a planear. Tenho boas equipas técnicas no Eléctrico e na Suíça que me ajudam quando tenho estas situações em paralelo, mas é uma dedicação total ao futsal. Trabalhamos todos os dias. Mesmo nos dias de descanso para os jogadores temos de fazer as observações. Quando se trabalha com gosto consegue-se fazer tudo.

- Em 2018, o Eléctrico estava na segunda divisão. Atualmente ocupa os lugares cimeiros e intromete-se na luta pelo pódio. Como vê este crescimento?

- O Eléctrico é uma equipa que tem um projeto e o projeto está acima dos treinadores - e ainda bem que assim é. Quando isso acontece, os passos vão-se dando de forma sustentada. É um clube que pretende consolidar a sua posição como uma equipa de topo do futsal português, estava na segunda divisão e arranjou um treinador (José Feijão, ndr) com competência para subir. Chegou à Liga e viu que tinha de ajustar o treino e o treinador (Kitó Ferreira, ndr) para uma nova realidade. Chegaram à conclusão que, para subir um novo patamar, necessitavam de ter uma estrutura técnica distinta, já com outra experiência, que permitisse uma abordagem aos lugares cimeiros. Convidaram-me e esclareceram o que pretendiam, eu disse aquilo que era fundamental melhorar e falei com ambas as partes. Tanto o Eléctrico como a Suíça aceitaram as condições de acumular funções e o acordo concluiu-se. Gosto muito de estar em ambos os lados, de tal modo que o projeto da Suíça é de longo prazo e no Eléctrico já renovei o contrato.

O treinador chegou ao Alto Alentejo em 2021
O treinador chegou ao Alto Alentejo em 2021Eléctrico

- Falou na recente renovação de contrato até 2024. Como é que analisa essa continuidade da aposta?

- Os resultados têm sido muito bons. O ano passado fizemos uma época excelente, neste momento também estamos muito bem. Aliás, até estamos melhor porque o ano passado terminámos a primeira volta em sexto e este ano terminámos em quarto. Estamos mais consolidados, o futsal está mais consolidado e a equipa está mais estruturada. O objetivo é continuar a crescer e cimentar o Eléctrico como um clube de topo nacional.

- O objetivo para esta temporada passa por repetir os feitos da época passada?

- Passa, claro. Infelizmente perdemos um jogador pelo caminho (John Lennon, ndr), que era um jogador influente no processo, mas continuamos ligados naquilo que é o objetivo da época: estar presentes nas alturas das decisões. O nosso presidente sonha com um título numa das disputas em que estamos inseridos e nós também sonhamos e vamos fazer tudo para o conseguir. Não é uma tarefa fácil, mas não é impossível. Não temos medo de gerir expetativas. As competições são para se ganhar, os jogos são todos para se ganhar. Temos essa ambição, a frontalidade e o à-vontade de assumir que somos uma equipa que pode ganhar a qualquer adversário e que pode lutar por títulos.

- O Eléctrico apresenta-se com um estilo de jogo bem definido, não tem medo de nenhum adversário e, como acabou de dizer, “pode ganhar a qualquer equipa”. Como avalia a forma de jogar da sua equipa?

- A equipa joga um futsal positivo e é uma equipa que gosta de ter bola. Jogamos um futsal criativo. Não sou treinador de fechar as opções aos jogadores, gosto de criatividade e de uma equipa com mobilidade, que saiba atacar bem e tenha profundidade no jogo de 3-1, mas também saiba jogar em 4-0 com dinâmica e assertividade. Quando procuramos jogadores para a equipa, procuramos jogadores que estejam confortáveis com a bola e gostem de jogar com a bola nos pés. A nossa equipa tem essa particularidade. O ano passado foi raro o jogo em que não tivemos mais posse de bola que o adversário. Este ano também, apesar de nos termos tornado mais pragmáticos porque temos de ser inteligentes. Gostamos muito de ter a bola, mas isso não significa que não tenhamos de saber sofrer. Esta época já tivemos alguns jogos em que ganhámos por um golo, o que revela que foram jogos divididos em que não deixámos que o adversário marcasse, marcámos poucos golos, soubemos sofrer e olhámos para o jogo com pragmatismo. Isso é preponderante para aumentar a qualidade e consistência do nosso jogo. Este ano reforçámo-nos com dois ou três jogadores muito bons, acima da média e que têm estado a crescer a olhos vistos. Queremos que os jogadores apresentem um nível superior em relação ao ano anterior. Felizmente isso está a acontecer e estou muito agradado com todos os jogadores do Eléctrico.

- O ano passado contava com o terceiro plantel mais jovem da Liga, com uma média de cerca de 23 anos. Este ano a média subiu para os 26 anos. Um plantel mais maduro é a chave para o sucesso?

- Sim, mas isto também são questões de oportunidades. O ano passado tínhamos mais jogadores emprestados pelo Sporting e pelo Benfica. Quando vamos para o mercado temos de nos agarrar a miúdos dessa idade que aparecem como bons negócios ou a jogadores experientes que tenham margem de crescimento. O Rúben (Freire) é um jovem. Não está ligado ao Sporting ou ao Benfica, mas é um jogador jovem de muita qualidade. O Tiago (Cruz) ainda é um jogador com grande potencial de crescimento. O que pretendemos fazer é olhar para o mercado e ver que jogadores é que podem encaixar na nossa forma de jogar e aumentem a qualidade da equipa, tal como o Simi (Saiotti), que trouxe muita qualidade e maturidade à equipa.

- A ligação das gentes de Ponte de Sor ao Eléctrico é essencial para a consistência da equipa no principal escalão do futsal português?

- Sim, claro que sim. Não se esconde de ninguém - as contas são públicas - que o município apoia o clube e também temos alguns patrocinadores. Para uma equipa do interior e que tem várias empresas na zona, acho que podíamos ter mais apoios. Ainda há muita gente que se retrai em relação ao Eléctrico. A economia também não está fácil, compreendo, mas o clube merecia mais apoio das empresas locais. Já tem algum, mas há grandes empresas que podiam dar mais apoio ao clube e isso não se concretiza. Temos a noção que somos o porta-estandarte de Ponte de Sor em termos de visibilidade no país. O município apoia-nos muito e não temos nada a apontar, só a agradecer. Tenho a noção que andamos a fazer muito, mas não temos assim tantos (recursos) para fazer o que estamos a fazer. A alavanca disto tudo tem sido a excelente qualidade dos jogadores que temos contratado, das infraestruturas que nos põem à disposição, de todo o staff envolvido à volta da equipa e dos adeptos do Eléctrico, que são sempre inexcedíveis no apoio à equipa.

Os adeptos e a equipa caminham em sintonia
Os adeptos e a equipa caminham em sintoniaEléctrico

- Como analisa a competitividade do campeonato na presente temporada?

- Já era esperado que fosse uma edição das mais difíceis de sempre porque os jogadores estão concentrados em menos equipas, só 12. Uma delas (Futsal Azeméis, ndr) investiu muito pouco e é o que estamos a ver em relação ao campeonato. As equipas que não se reforçarem bem vão ter muitas dificuldades porque o campeonato é muito curto. No futuro será sempre assim porque 22 jogos passam num ápice. Tem de se entrar bem, ter equipas fortes e com qualidade para jogar a Liga com uma estrutura sólida. Todos os jogos nesta Liga são muito competitivos. Todos, sem exceção.

- E o que tem a dizer do crescimento do futsal português nos últimos anos?

- Desde que tomou posse este presidente da FPF (Fernando Gomes, ndr) e o Pedro Dias tomou conta do futsal português com abertura para poder fazer as alterações e as apostas que eram necessárias, tem-se visto esse crescimento. Para além disso, também se deve muito à qualidade do trabalho que é executado dentro dos clubes. É um processo que demora anos, mas é um exemplo para todas as outras Federações. O crescimento da FPF ao nível do futsal, futebol e futebol de praia é uma visão macro e muito boa. Já devia de ter sido implementada há mais anos, mas o presidente Fernando Gomes só entrou naquela altura. O processo agora deve ser consolidado com a participação ativa de todos os clubes nos próximos passos. A FPF ainda tem muita margem para ajudar os clubes. Isso é um fator positivo de crescimento que se espera que venha a ocorrer.