Entrevista Flashscore a Luiz Gustavo: da especialidade em subidas à experiência no Arsenal

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Entrevista Flashscore a Luiz Gustavo: da especialidade em subidas à experiência no Arsenal

Luiz Gustavo conta quatro subidas de divisão na carreira e recorda a experiência no Arsenal quando representava a formação do Mirassol
Luiz Gustavo conta quatro subidas de divisão na carreira e recorda a experiência no Arsenal quando representava a formação do MirassolDivulgação - Palmeiras
Aos 28 anos, o defesa Luiz Gustavo, do Mirassol, tem diferentes tipos de experiências na carreira, todas elas válidas na procura da melhoria contínua no futebol. Recentemente, ajudou a formação de São Paulo a subir da Série C para a Série B do Brasil, acrescentando uma nova promoção ao seu currículo pessoal, a quarta depois de três conseguidas da Série B pra Série A ao serviço de Vitória, Avaí e Cuiabá.

No Campeonato Paulista de 2022, Luiz Gustavo defendeu as cores do Santo André, foi capitão e um dos destaques da equipa. Mas uma das experiências mais enriquecedoras da sua trajetória aconteceu no início da carreira de futebolista, quando integrava os escalões de formação do Mirassol

Aos 14 anos, jogava nos sub-15 e chamou atenção dos representantes do Arsenal, de Inglaterra, que o convidaram a permanecer durante um mês no clube de Londres, período em que esteve sob avaliação. O objetivo passava por tentar aproveitar ao máximo a experiência e conhecer de perto a realidade de um clube de alto nível, incluindo a vivência próxima com os escalões profissionais. 

Mas foi em Londres, também, que Luiz Gustavo se deparou com um dos momentos mais inusitados da sua vida, tendo despertado a desconfiança da direção do Arsenal, que acreditava estar diante de um "gato", termo utilizado na gíria brasileira para definir jogadores que jogam irregularmente em escalões abaixo daquele em que deveriam estar. Tudo por causa do bom desempenho que apresentava ao lado de atletas mais velhos. 

Depois de começar a carreira no Mirassol, o defesa foi para o Palmeiras, tendo passou posteriormente por Ferroviária, Oeste, Guarani e Santo André. No Rio de Janeiro, representou o Vasco, onde criou uma forte relação com os adeptos.

Numa entrevista exclusiva ao Flashscore, Luiz Gustavo lembra a desconfiança dos responsáveis do Arsenal, o breve contacto com Arsène Weger e com jogadores que, à altura, tinha como ídolos e de como essa experiência continua a manter importância até os dias de hoje.

- O que aconteceu durante a passagem que teve por Inglaterra?

- Eu estava a treinar muito bem no Arsenal e eles desconfiaram que eu era "gato", porque na altura em que fui não existia formação. O clube tinha a equipa A, que jogava a Liga dos Campeões e a Premier League, e a equipa B, composta por jogadores com 16 anos ou mais. Como eu tinha 14 anos e estava a treinar bem com os atletas de 16, eles desconfiaram que alguma coisa estava errada e disseram aos meus empresários que queriam fazer um exame para comprovar a minha idade.

Antes de fazer o exame, liguei ao meu pai, a chorar, a perguntar se tinha mesmo a idade que pensava ter. Disse-lhe: “Pai, as pessoas querem fazer-me um exame, porque dizem que tenho idade superior. Se eu for "gato", diz-me já e nem faço o exame, saio daqui”. E ele disse-me pelo telefone: “Achas? Podes fazer o exame, claro que tens 14 anos".

Promoção com o Mirassol foi a primeira de Luiz Gustavo da 3.ª para a 2.ª divisão do Brasil
Promoção com o Mirassol foi a primeira de Luiz Gustavo da 3.ª para a 2.ª divisão do BrasilDivulgação

Só que eu já estava a chorar, não é? (Risos) Disse: “Pai, não me mintas, pelo amor de Deus, porque isso vai-me queimar no futebol.” O pai tranquilizou-me e disse: “Podes fazer esse exame!”. Foi algo que me marcou. Desliguei o telefone, fiz o exame e não deu em nada.

- Ficou surpreendido com a oportunidade de passar esses dias em Inglaterra?

- Sim, fiquei bastante surpreendido, porque naquela idade passar um período em Inglaterra era uma coisa gigantesca, muito maior do que é hoje, principalmente num grande clube como é o Arsenal. Eu era muito novo, não tinha experiência nenhuma, não sabia exatamente o tamanho daquela oportunidade, mas fiquei muito feliz.

Luiz Gustavo, com 14 anos, na altura em que teve a experiência no Arsenal
Luiz Gustavo, com 14 anos, na altura em que teve a experiência no ArsenalArquivo pessoal

- O que motivou essa oportunidade?- Eu estava a jogar num escalão acima no Mirassol, nos sub-15, e fiz um campeonato muito bom, como capitão, destaquei-me e estive muito bem. Acho que foi isso, fiz um campeonato disputadíssimo acima da média para a minha idade.

O defesa conseguiu uma nova promoção pelo Mirassol, clube no qual se formou
O defesa conseguiu uma nova promoção pelo Mirassol, clube no qual se formouDivulgação

- Tem mais alguma lembrança importante ou curiosa dos dias passados lá?- Uma lembrança curiosa é que dividíamos o balneário com todos os jogadores que estavam lá nessa altura. Adebayor, Fàbregas, Eduardo Silva, Denilson… e também o treinador Arsène Wenger, que foi lá cumprimentar-nos. Eu não sabia nem entendia inglês, mas ele falou um bocado connosco. Tinha um tradutor, e ele passou-nos palavras de motivação e deu-nos bastante força. Essa foi a parte mais curiosa, dividir o balneário com jogadores com os quais só jogávamos nos jogos eletrónicos. Foi uma experiência única.

Luiz Gustavo esteve com vários ídolos do futebol mundial durante um mês
Luiz Gustavo esteve com vários ídolos do futebol mundial durante um mêsArquivo pessoal

- Que grandes aprendizagens trouxe de Inglaterra?

- As maiores aprendizagens são a disciplina, o foco, saber onde quero chegar e a determinação. Acho que isso é fundamental na carreira de qualquer atleta, de qualquer jogador. Isso é o que torna os jogadores diferentes e capazes de alcançar voos maiores. São as aprendizagens que levo para a minha vida e carreira, a persistência para alcançar os objetivos.

- Teria feito alguma coisa de diferente para ficar mais tempo em Inglaterra e aproveitado mais esta oportunidade?- Com certeza. Na época não tinha noção da importância que era estar lá, num clube como o Arsenal, mas com a cabeça de hoje, teria feito as coisas de forma diferente. Teria aproveitado a oportunidade, teria ficado lá e aproveitado tudo o que fosse possível, que com certeza iria ser parte fundamental para a minha carreira na Europa. Infelizmente não aconteceu, e há que levantar a cabeça, trabalhar de novo e procurar chegar lá. É a vida que segue e, se um dia não chegar, serviu de aprendizagem e a experiência valeu muito a pena.

O Palmeiras foi o clube de maior expressão que Luiz Gustavo representou
O Palmeiras foi o clube de maior expressão que Luiz Gustavo representouDivulgação - Palmeiras

- Acredita que essa é uma oportunidade que aparece para poucos jovens?

- É uma oportunidade que aparece para poucas pessoas. O futebol hoje mudou muito, existe uma preparação física e também mental para os atletas desde cedo, e até por isso os jovens hoje em dia estão a saber aproveitar melhor as oportunidades. Como eu disse, infelizmente na altura não tinha noção dessa oportunidade, que acabou por passar. Se eu tivesse essa perceção, teria ficado lá e a minha carreira com certeza teria sido feita na Europa.