- Como vê Ancelotti como técnico da seleção brasileira?
- Pela primeira vez na história, o Brasil optou por um técnico estrangeiro. Bem, acho que é preciso contratar pessoas pelas suas capacidades, não pela sua nacionalidade. A preocupação é que Ancelotti está no Real Madrid, tem contrato, ainda não está no Brasil e vamos para o Campeonato do Mundo nos Estados Unidos, México e Canadá para acabar com um jejum de 24 anos sem ganhar um Mundial. É uma pressão muito grande dos adeptos e da imprensa, vamos ver o que acontece e se vai dar certo, mas a ansiedade é muito grande.
- O que falta ao Brasil para conquistar a sexta estrela?
- Como diz Jorge Valdano, os astros têm que se alinhar, é muito difícil ganhar o Mundial. Tem que se adaptar à competição, que é especial e curta, e tem que ter uma equipa compacta. Jogar bem é muito bonito, mas acima de tudo trata-se de ganhar. Veja-se o caso da França, no Mundial da Rússia, com um meio-campo muito forte e compacto... No Campeonato do Mundo, se cometermos um erro e perdermos um dia, vamos para casa. Por isso, há que ser mais pragmático.
- Que memórias tem do Deportivo da Corunha?
- Foi uma experiência incrível passar 13 anos no Deportivo. Como brasileiro, ter uma rua com o meu nome é bom. Não me arrependo de nada, foram 13 anos maravilhosos e inesquecíveis. Estive sete anos com o Scaloni. As lembranças são as melhores possíveis. A pena é vê-la na 2.ªB (agora chamada 1.ª RFEF). Espero que a equipa possa regressar à LaLiga. É uma loucura estar com 25.000 nas bancadas. Os adeptos ainda lá estão, a apoiar, com um belo estádio. É uma equipa da primeira, tem de regressar o mais rapidamente possível.
Um carinho especial por Lionel Scaloni
- Imaginou-o como treinador?
- Ele é muito trabalhador, muito determinado, um lutador. Não imaginava que ele pudesse ter sucesso tão cedo. Mas desde o momento em que assumiu a seleção nacional, disse a amigos argentinos que ia fazer um grande trabalho. Ganhar o Campeonato do Mundo é outra coisa, mas eu estava convencido de que ele ia fazer um grande trabalho. Gosto das pessoas que, na vida, se esforçam e trabalham muito. Ele é um tipo que sofreu no início, com muitas críticas, e no final triunfou porque fez muito bem. Estou muito feliz por ele, pelo seu pai e pela sua mãe, pelo seu irmão (Mauro), que também conheço do Deportivo.
- Tinha uma boa relação com ele?
- Muito boa. Chegou com 19 anos. Há muitas histórias que não podem ser contadas. É um tipo porreiro, gosto muito dele.
- O que pensa da Arábia Saudita. Pode ofuscar o futebol europeu?
- Penso que seria difícil ter uma competição de alto nível, seria necessário contratar muitos jogadores e treinadores. É uma opção em que se opta pelo dinheiro, para ganhar muito. Em termos desportivos, para mim, a impressão que fica é que não se vai desfrutar porque se tem um projeto desportivo maravilhoso, não que se vá ganhar a Liga dos Campeões. É respeitável, mas é preciso ter cuidado, sobretudo os jogadores mais jovens que têm aspirações a jogar nas selecções nacionais, porque quando se vai para uma competição que exige menos de nós, é preciso baixar o nível, é preciso ter isso em conta.
Racismo, fora do futebol e fora do desporto
- Discriminação e racismo contra brasileiros?
- O desporto é para juntar pessoas, para unir povos e países, e não para irmos aos estádios ver comportamentos desses. É isso que não queremos ver. Esperemos que todos possamos trabalhar em conjunto, instituições e entidades, para que não voltemos a ver esse tipo de comportamento e que as pessoas que vão ao estádio vão para se divertirem, para se divertirem e que não vejamos isso porque não faz parte dos valores do desporto.
- A Argentina está a duas estrelas de igualar o Brasil em Campeonatos do Mundo.
-(risos) Vocês ganharam agora e nós vamos ganhar mais tarde, espero. Ele (o entrevistador) pressiona-me. É bom para o futebol sul-americano. Eu disse outro dia que não foi a Argentina que ganhou, foi a América do Sul. Há 20 anos que não ganhava um Campeonato do Mundo e digo sempre que, como brasileiros, argentinos ou uruguaios, competimos em campo. Uma vez terminada a competição, fora do campo, quanto mais desenvolvido for o futebol sul-americano, melhor para todos. Não acho que seja inteligente as equipas lutarem dentro de campo e depois continuarem a lutar fora dele. Somos parceiros para desenvolver o futebol e, quanto mais a indústria cresce, mais renda e dinheiro ela gera, e isso é bom para todos. Todos nós temos que trabalhar juntos para desenvolver e fortalecer o futebol na América do Sul.