Entrevista Flashscore a Mauro Silva: "Há uma pressão muito grande dos adeptos sobre Ancelotti"

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Entrevista Flashscore a Mauro Silva: "Há uma pressão muito grande dos adeptos sobre Ancelotti"

Mauro Silva, durante a entrevista ao Flashscore
Mauro Silva, durante a entrevista ao FlashscoreFlashscore
Mauro Silva, campeão do mundo com o Brasil e ídolo do Deportivo La Coruña, falou ao Flashscore no Sports Summit que decorreu esta semana em Buenos Aires, Argentina. As memórias na liga espanhola, os episódios de racismo vividos pelos seus compatriotas como Vinicius e a possível chegada de Ancelotti à seleção brasileira foram alguns dos temas abordados na conversa.

- Como vê Ancelotti como técnico da seleção brasileira?

- Pela primeira vez na história, o Brasil optou por um técnico estrangeiro. Bem, acho que é preciso contratar pessoas pelas suas capacidades, não pela sua nacionalidade. A preocupação é que Ancelotti está no Real Madrid, tem contrato, ainda não está no Brasil e vamos para o Campeonato do Mundo nos Estados Unidos, México e Canadá para acabar com um jejum de 24 anos sem ganhar um Mundial. É uma pressão muito grande dos adeptos e da imprensa, vamos ver o que acontece e se vai dar certo, mas a ansiedade é muito grande.

- O que falta ao Brasil para conquistar a sexta estrela?

- Como diz Jorge Valdano, os astros têm que se alinhar, é muito difícil ganhar o Mundial. Tem que se adaptar à competição, que é especial e curta, e tem que ter uma equipa compacta. Jogar bem é muito bonito, mas acima de tudo trata-se de ganhar. Veja-se o caso da França, no Mundial da Rússia, com um meio-campo muito forte e compacto... No Campeonato do Mundo, se cometermos um erro e perdermos um dia, vamos para casa. Por isso, há que ser mais pragmático.

- Que memórias tem do Deportivo da Corunha?

- Foi uma experiência incrível passar 13 anos no Deportivo. Como brasileiro, ter uma rua com o meu nome é bom. Não me arrependo de nada, foram 13 anos maravilhosos e inesquecíveis. Estive sete anos com o Scaloni. As lembranças são as melhores possíveis. A pena é vê-la na 2.ªB (agora chamada 1.ª RFEF). Espero que a equipa possa regressar à LaLiga. É uma loucura estar com 25.000 nas bancadas. Os adeptos ainda lá estão, a apoiar, com um belo estádio. É uma equipa da primeira, tem de regressar o mais rapidamente possível.

Um carinho especial por Lionel Scaloni

- Imaginou-o como treinador? 

- Ele é muito trabalhador, muito determinado, um lutador. Não imaginava que ele pudesse ter sucesso tão cedo. Mas desde o momento em que assumiu a seleção nacional, disse a amigos argentinos que ia fazer um grande trabalho. Ganhar o Campeonato do Mundo é outra coisa, mas eu estava convencido de que ele ia fazer um grande trabalho. Gosto das pessoas que, na vida, se esforçam e trabalham muito. Ele é um tipo que sofreu no início, com muitas críticas, e no final triunfou porque fez muito bem. Estou muito feliz por ele, pelo seu pai e pela sua mãe, pelo seu irmão (Mauro), que também conheço do Deportivo.

- Tinha uma boa relação com ele?

- Muito boa. Chegou com 19 anos. Há muitas histórias que não podem ser contadas. É um tipo porreiro, gosto muito dele.

- O que pensa da Arábia Saudita. Pode ofuscar o futebol europeu?

- Penso que seria difícil ter uma competição de alto nível, seria necessário contratar muitos jogadores e treinadores. É uma opção em que se opta pelo dinheiro, para ganhar muito. Em termos desportivos, para mim, a impressão que fica é que não se vai desfrutar porque se tem um projeto desportivo maravilhoso, não que se vá ganhar a Liga dos Campeões. É respeitável, mas é preciso ter cuidado, sobretudo os jogadores mais jovens que têm aspirações a jogar nas selecções nacionais, porque quando se vai para uma competição que exige menos de nós, é preciso baixar o nível, é preciso ter isso em conta.

Racismo, fora do futebol e fora do desporto

- Discriminação e racismo contra brasileiros?

- O desporto é para juntar pessoas, para unir povos e países, e não para irmos aos estádios ver comportamentos desses. É isso que não queremos ver. Esperemos que todos possamos trabalhar em conjunto, instituições e entidades, para que não voltemos a ver esse tipo de comportamento e que as pessoas que vão ao estádio vão para se divertirem, para se divertirem e que não vejamos isso porque não faz parte dos valores do desporto.

- A Argentina está a duas estrelas de igualar o Brasil em Campeonatos do Mundo.

-(risos) Vocês ganharam agora e nós vamos ganhar mais tarde, espero. Ele (o entrevistador) pressiona-me. É bom para o futebol sul-americano. Eu disse outro dia que não foi a Argentina que ganhou, foi a América do Sul. Há 20 anos que não ganhava um Campeonato do Mundo e digo sempre que, como brasileiros, argentinos ou uruguaios, competimos em campo. Uma vez terminada a competição, fora do campo, quanto mais desenvolvido for o futebol sul-americano, melhor para todos. Não acho que seja inteligente as equipas lutarem dentro de campo e depois continuarem a lutar fora dele. Somos parceiros para desenvolver o futebol e, quanto mais a indústria cresce, mais renda e dinheiro ela gera, e isso é bom para todos. Todos nós temos que trabalhar juntos para desenvolver e fortalecer o futebol na América do Sul.