Opinião: O que falhou com o Brasil no Campeonato do Mundo feminino?

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Opinião: O que falhou com o Brasil no Campeonato do Mundo feminino?

O Brasil, de Marta (foto), ficou pelo caminho na Copa do Mundo Feminina
O Brasil, de Marta (foto), ficou pelo caminho na Copa do Mundo FemininaThais Magalhães/CBF
Não foi o resultado que o Brasil esperava. Antes de a bola rolar na Austrália e Nova Zelândia para o Campeonato do Mundo feminino, a seleção "canarinha" não era apontada como favorita à conquista. Mas esperava-se mais da equipa, recheada de peças com bastante talento.

A expetativa era, pelo menos, os oitavos de final, como aconteceu nos dois últimos Mundiais. Mas o Brasil não foi eficiente e deixou evidente que apenas o talento não basta num futebol extremamente competitivo e nivelado. Vamos aos factos.

Não faltou incentivo - pela primeira vez, a CBF deu bastante atenção à delegação feminina (não fez mais que a sua obrigação, apesar de ter vindo com muito atraso), inclusive fretando um avião e antecipando a preparação da seleção feminina na Oceânia, devido à adaptação ao fuso horário.

Voo da delegação brasileira para a Austrália
Voo da delegação brasileira para a AustráliaThais Magalhães/CBF

Subestimou-se o nível - olhanda a tabela do Campeonato do Mundo, imaginava-se que o Brasil seria segundo classificado (pelo menos) com tranquilidade. A vitória sobre o Panamá por 4-0 foi um oásis no meio de um poço de falta de criatividade que se mostrou ainda mais fundo contra francesas e jamaicanas.

E o que este Mundial nos ensina é que as seleções cresceram bastante em termos de qualidade técnica. Até mesmo aquelas que são consideradas frágeis estão a ser capazes de "ferir" as gigantes. Todo o cuidado é pouco.

Thais Magalhães/CBF

Teimosia, demora e pouca ousadia da selecionadora - contra França, na derrota dolorosa por 2-1, Pia já tinha tido uma decisão questionável ao colocar a veterana Mónica em campo. Aliás, a convocatória da atleta já era bastante questionável, assim como de alguns outros nomes.

Contra a Jamaica, as alterações propostas não surtiram efeito, justamente porque Pia não abria mão do 4-4-2 ortodoxo, sempre com duas linhas de quatro e duas atacantes na frente, sendo uma mais fixa e outra mais móvel.

Pia era previsível nas alterações e não abria mão do seu estilo de jogo. A treinadora ainda tentou colocar Marta no derradeiro jogo, o empate com as Reggae Girlz, mas a camisola 10 não é a mesma de outrora e perdeu-se no ataque. Ficou no meio do caminho e presa entre a defesa jamaicana.

Pia após a partida contra a França, em Melbourne
Pia após a partida contra a França, em MelbourneThais Magalhães/CBF

Ary Borges, que ainda deixou o campo para a entrada de Bia Zaneratto, atuava aberta com Adriana. Luana, com pouca criatividade, esforçava-se para marcar e quebrar linhas (vimos que ela não conseguiu executar a dupla função), e Kerolin foi totalmente sacrificada como médio defensiva (o que fazia ali?).

Agora a dúvida que vamos manter após a eliminação é: quem era a companheira de Debinha no ataque do Brasil? Para completar, além de ser previsível, Pia demorou muito a entender a urgência do jogo contra a Jamaica. Mexer com pouco mais de dez minutos para o fim não foi, definitivamente, uma boa escolha. E nem vou falar de outras improvisações bem pecualiares.

Preciosismo - o futebol brasileiro é conhecido pelo talento, o drible, o improviso e blá, blá, blá. Todos sabem disso. Mas talvez esteja na hora do Brasil deixar o "joga bonito" e apostar no "joga o suficiente". E isso vale tanto para o feminino como para o masculino.

Seleção brasileira na partida contra a França
Seleção brasileira na partida contra a FrançaThais Magalhães/CBF

Percebo a falta de aplicação tática da equipa em determinados momentos, uma desorganização que fica clara quando a situação engrossa, a marcação fica mais alta e o talento, por si só, não resolve. Para piorar, não ficar na posição é lastimável. O erro de marcação na gigante Renard contra França mostrou uma ingenuidade gigantesca.

Agressividade - por vezes, faltou, a meu ver, o Brasil ser mais agressivo, entregar-se totalmente ao compromisso de busca pelos resultados. Vimos essa entrega na Colômbia, por exemplo. Pode ter tido a individualidade em alguns momentos, mas quando se está com a confiança em oscilação, qualquer lance de efeito não se torna, de facto, produtivo.

A última partida de Marta em Mundiais
A última partida de Marta em MundiaisThais Magalhães/CBF

O futebol feminino não vai parar - apesar do desempenho ruim no Mundial, o futebol feminino está aí e tem uma margem enorme de crescimento. O retrocesso é um temor com que as atletas convivem, justamente por sabermos que o Brasil cultiva os vencedores e não o trabalho.

Mas o que já foi conquistado até hoje tende a crescer, especialmente se o trabalho nas camadas jovens for ampliado. O Brasil precisa de formar jogadoras. Novas Martas, novas Formigas, novas Cristianes. É preciso olhar para o presente e manter os olhos no futuro. Ainda há muito para conquistar.