O Getafe encarou o jogo como um caminho para a salvação. Para o Real Madrid, era um dia de oportunidades. Hazard, a contratação de 100 milhões, o jogador que chegou como uma superestrela de Inglaterra e acabou por ser pouco mais do que um ornamento no banco, era titular. Era como dar um guisado a um homem esfomeado. O belga só tinha jogado 164 minutos em toda a época. Alguns adeptos mais rancorosos questionavam-se se ele entraria directamente em campo ao sair do túnel ou se faria um desvio para se sentar ao lado de Ancelotti. Não houve margem para erros, porque todos entraram no relvado, incluindo os suplentes, para oferecer a taça aos adeptos.

Bordalás, amigo de Carletto, não contou com Enes Unal, que é como ir à caça sem caçadeira. Também não contava com Damián Suárez, uma peça do escudo defensivos. Com estas condições, previa-se uma missão complicada. Felizmente para os azuis, Vinicius estava no banco. Rodrygo e Benzema, não convocados, também não seriam uma ameaça.

Mendy regressou à equipa e estava mais desorientado do que um pinguim no deserto. Camavinga, a descoberta de Ancelotti para lateral-esquerdo, dedicou-se a outras tarefas no meio-campo, o habitat de que mais gosta.

Habituado às suas exibições permanentes, um jogo do Madrid sem Vinicius é como uma festa sem música. E sem música não há dança. Faltou o brilho. Hazard precisou de ver alguns vídeos dos seus tempos no Chelsea antes do jogo para se lembrar de como se joga aquilo a que chamam futebol. Tinha algumas noções, mas não as via com clareza.

A primeira meia hora foi uma ode ao bocejo. O Getafe tinha a marca de Bordalás, uma rocha defensiva com o reforço de Djené, o seu braço direito, no meio-campo. O Madrid não tinha alegria e Carletto olhava de lado para Vini no banco. Quando o árbitro assinalou o intervalo, estava quase a agradecer.

Após o intervalo, Mendy ficou no balneário, Camavinga ocupou o seu lugar na esquerda e Kroos assumiu o lugar no meio-campo, para dar mais ritmo ao jogo da sua equipa. A seu tempo, Vinicius entrou para aquecer e o público acordou.

Borja Mayoral podia ter marcado o primeiro golo na sequência de um canto, mas o seu cabeceamento saiu por cima. Asensio tentou a sua sorte aos 58 minutos, mas não conseguiu marcar. O público do Bernabéu estava quase mais interessado no aquecimento de Vinicius do que no que se passava no relvado. Ancelotti decidiu, aos 60 minutos, que era altura de fazer um mambo no estádio. Vini entrou ao lado de Modric e Mariano, um elemento estranho neste grupo de jogadores.

Reveja aqui as principais incidências da partida

A mudança animou mais o Getafe do que um Madrid adormecido. O míssil terra-ar de Juan Iglesias, de fora da área, obrigou Courtois a uma bela defesa. Dois minutos depois, Marco Asensio tentou o mesmo, mas com mais sorte: a bola tocou em Maksimovic, desviou e David Soria nada pôde fazer. O público estava finalmente a acordar. Os golos também contam e somam-se aos de Asensio, que aumenta o seu número de golos. Desde o Mundial, o maiorquino esteve envolvido em 14 jogadas decisivas, quer com um golo, quer com uma assistência. Com Modric, Kroos e Vinicius em campo, o Madrid mudou de cara.

Vini, fiel ao seu compromisso com a baliza, marcou aos 76 minutos, a passe de Mariano, mas em fora de jogo. Asensio podia ter feito o dobro com um remate de cabeça aos 77 minutos, mas Soria evitou-o com uma excelente defesa. Camavinga saiu com uma pancada no joelho, mas não parecia ser grave. Máscara de gelo e repouso. Na quarta-feira, Camavinga volta a Manchester.