Reformado desde 2015, há quem diga que demasiado cedo, o "Coelho" Saviola continua a viver para o futebol. Com o diploma de treinador debaixo do braço, vive em Andorra há oito anos e aguarda uma oportunidade para regressar ao banco.

- O que se passa na sua vida?

- Atualmente trabalho em comunicação, como comentador dos jogos do Barça na Liga dos Campeões. No ano passado estive na equipa de Juvenis A do Barça como treinador adjunto, ao lado de Óscar López. Foi uma experiência única e espetacular. Quando terminei de jogar em 2015 no River, fui fazer o curso de treinador na RFEF e estava à espera de uma oportunidade. A passagem pelo Barça foi espetacular porque adoro a formação de jogadores, dos 15 aos 19 anos, com o que significa estar em La Masia, com uma filosofia tão grande e que de lá saíram tantos grandes jogadores. A responsabilidade era muito grande, de continuar a procurar novos desafios com jogadores que realmente acrescentaram.

-Houve alguém especial que se destacou dos demais?

- Tivemos a oportunidade de contar com Lamine Yamal e com três ou quatro jogadores que hoje estão na primeira divisão e que estão a subir para o futebol profissional.

- É justificado tudo o que se diz sobre Yamal? 

- Sim, sim. Ele é um desses jogadores diferentes, que não aparecem com frequência em tão pouco tempo. Ficámos muito surpreendidos em todos os aspetos com a sua maturidade, a sua forma de ver o futebol, quando tinha 15 anos na altura. Já víamos algo especial nele.

- Você também foi companheiro de equipa de Messi quando este era muito jovem. Vê semelhanças entre eles? 

- É improvável que algo semelhante ao Leo volte a acontecer, mas vimos algo parecido na maneira como tudo estava a acontecer. Quando cheguei ao Barça, aos 19 anos, fui vê-lo (Messi) no treino e acontece a mesma coisa, ver algo que certamente será incomparável. E com Lamine aconteceu a mesma coisa. É algo diferente, algo que não estamos habituados a ver, com tanta personalidade, um futebol de drible exímio, de colocar a equipa às suas costas aos 15 anos, quando havia companheiros de 18 e 19, e vimos coisas diferentes. O Leo é um dos melhores jogadores da história e o Lamine, se se dedicar a isso, estará a um nível muito, muito elevado.

Um espinho no meio do caminho

- Olhando para trás, Pékerman e Rijkaard afastaram-no, deixaram-no sem jogar um Campeonato do Mundo e perdeu a semente do melhor Barça, o Barça de Guardiola. Há ressentimentos?

- Com José, o assunto foi muito discutido. À partida, todos queremos jogar e somos ambiciosos, ainda para mais depois de termos tido o desempenho que tivemos no Campeonato do Mundo. Essa seleção estava preparada para grandes coisas, é o espinho de todos os membros dessa geração, que era espetacular, jovem. Era uma mistura dos melhores jogadores dos últimos 20 anos. Tenho uma relação diferente com Rijkaard. Ele falou no meu último ano que tinha outros jogadores, foi muito honesto comigo.

- O seu coração está no Barça, mas jogou no Real Madrid, que é outro clube enorme no mundo?

- O Barça foi o meu primeiro clube europeu, tenho muito carinho por ele, pela sua gente, por tudo o que me deram. Mas depois o Real Madrid é fantástico, estará entre os três maiores do mundo, pela sua história, pelo que é. Estar nos corredores do Bernabéu, a história do escudo, tantos jogadores que passaram pela sua história.... Não é novidade dizer, e ainda mais tendo estado lá dentro e visto o que se passa, que o Real Madrid é algo de fantástico.

Admirador de Guardiola... e de Julián Álvarez.

-Qual a equipa que considera ser a melhor do mundo neste momento?

- O Manchester City é a que mais me agrada, pela forma como Guardiola joga, pela ambição dos jogadores em ver a baliza adversária. Sempre que os vemos sabemos que algo de bom vai acontecer, enche-nos os olhos ver uma equipa tão competitiva a toda a hora.

- E quem é o melhor jogador do mundo? 

- Leo Messi. É algo único.

- Um futebolista atual que se assemelhe ao jogador Saviola?

- Se eu tivesse que escolher outro jogador, Julián (Álvarez). Acho que é mais parecido, para além de ser um goleador impressionante. Vi o último golo que marcou e fiquei surpreendido com o pouco espaço que tem para marcar o golo que marcou. É um jogador que não precisa de muito espaço nem de uma perna comprida para marcar e isso é muito difícil de parar pelos defesas.