Tornar-se um dos melhores jogadores da Ligue 1 e ser regularmente convocado para a seleção francesa implica uma mudança de estatuto, de reputação e de imagem. Jean-Clair Todibo, que vive atualmente esta situação, é agora um homem cujas atitudes são alvo de escrutínio.
Na sexta-feira, na véspera do jogo com o Le Havre, teve lugar no tribunal de Nice o julgamento do seu antigo treinador, Christophe Galtier, que está a ser julgado por assédio e discriminação, principalmente contra jogadores muçulmanos. O nome de Todibo foi inevitavelmente associado ao processo, uma vez que se trata de um muçulmano praticante, cuja relação com o antigo treinador do PSG se deteriorou fortemente no final da sua colaboração.
Mas Todibo não esteve presente na audiência, tal como nenhum dos outros jogadores envolvidos no caso. E embora os jogadores do Nice tenham "discutido o processo", como contou o médio Morgan Sanson. " Se começarmos a poluir as nossas cabeças com todos esses problemas, não vai dar certo", afirmou.
Segundo o técnico do Nice, Francesco Farioli, Todibo também adotou essa linha.
"Em campo, vejo-o muito concentrado. Temos dois jogos pela frente (Le Havre e Lens na quarta-feira), então não há tempo para pensar em outra coisa. Para ele, esse é um bom motivo para se concentrar. Depois disso, qualquer coisa extra-desportiva é uma conversa privada".
O jogador, que foi entrevistado pelos investigadores, tem o cuidado de não tornar públicos os seus sentimentos. O momento é muito diferente daquele em que "riu nervosamente", em outubro passado, durante um minuto de silêncio em homenagem às vítimas do conflito entre o Hamas e Israel e do atentado em Arras, antes da vitória da França na Holanda.
"Pressão e responsabilidade"
No dia seguinte, compareceu perante os meios de comunicação social para pedir desculpa e exprimir a sua opinião "em relação à magnitude da situação e à sua (...) interpretação um pouco louca".
Todibo teve de revelar parte da sua vida privada e enviou uma mensagem cheia de respeito. O seu clube também o apoiou. Didier Deschamps, que não simpatizou muito com a sua atitude inicial, apreciou o pedido de desculpas de um jogador que o selecionador francês pôs em campo contra Gibraltar (14-0) e cuja evolução elogia.
O companheiro de equipa de Todibo no clube, Gaëtan Laborde, confirma que "é difícil enfrentá-lo" todos os dias nos treinos.
"O Todibo deu mais um passo em frente. Está mais rápido, melhorou os lançamentos. Mentalmente, está bem. Está a falar mais alto e a tornar-se um líder. Isso tem um impacto em todos. As chamadas para a seleção francesa ajudaram-o a amadurecer. Ele tem mais ambição e isso é benéfico".
Farioli, treinador do Nice, tem o mesmo pensamento do avançado.
"Vejo-o crescer diariamente. Entende melhor as nossas exigências e é o primeiro a reconhecer onde pode melhorar (...). Ele só precisa de crescer em maturidade, manter a concentração. O desempenho dele influencia o desempenho da equipa e vice-versa".
"Ele tem grandes objetivos pessoais - disputar o Euro com a França - e coletivos com o Nice. Estamos a juntar as nossas energias para que todos possamos ter sucesso. Pressão e responsabilidade são duas faces da mesma moeda. No futuro, a pressão tornar-se-á a sua rotina diária, porque as suas responsabilidades serão sempre maiores, connosco ou com a seleção francesa".