Não foi uma final espetacular, mas pegando numa frase muitas vezes utilizada por José Mourinho – um dos némesis de Pep Guardiola – as finais “não são para se jogar, são para se ganhar”. E foi isso que o Manchester City fez ao vencer o Inter (1-0).
Ao contrário do que aconteceu em 2005, Istambul não voltou a acolher um jogo marcado por reviravoltas mágicas, drama até ao fim e penáltis para decidir o trono europeu, mas ainda assim a partida entre aquele que é considerado um dos melhores treinadores do futebol mundial e um Inter muito bem montado teve alguns pontos interessantes que o Flashscore lhe traz.
O falso central passou a falso lateral
É uma nuance que Pep Guardiola introduziu na reta final da temporada. Habitualmente usado no centro da defesa com Rúben Dias, John Stones tem autorização para, sempre que a equipa tem posse de bola, se adiantar no terreno e juntar-se a Rodri numa espécie duplo pivô no meio-campo do Manchester City.
Depois do falso nove que destruiu o Real Madrid em 2012, Guardiola trouxe o falso central que passou a… falso lateral. Com o regresso de Aké ao onze e as dificuldades físicas de Kyle Walker, John Stones derivou para a direita da defesa, com Akanji a formar a dupla de centrais com Rúben Dias. Ainda assim, o internacional inglês adiantou-se sempre no meio-campo, entregando a missão de dar largura à faixa da direita a Bernardo Silva.

Inter não se acanhou
Antes da bola começar a rolar em Istambul existia um claro favorito à vitória. Dominador na Premier League (cinco títulos nas últimas seis edições), acabado de vencer o rival Manchester United na final da Taça de Inglaterra, e de ter dominado o Real Madrid nas meias-finais da Liga dos Campeões, o Manchester City parecia fadado a vencer o troféu.
Por seu lado, o Inter tinha conquistado a Taça de Itália, mas vinha de uma época aquém das expectativas e de uma fase a eliminar da Liga dos Campeões em que eliminou FC Porto, Benfica e o rival AC Milan com uma base defensiva sólida (só os encarnados conseguiram marcar a Onana nos seis jogos até à final). Poder-se-ia esperar uma equipa italiana com um bloco baixo, fortificado, para fechar a porta ao poderio inglês, mas nada disso.

O Inter apresentou-se em Istambul a pressionar alto e, sobretudo no primeiro tempo, conseguiu forçar erros do Manchester City na primeira fase da construção de jogo. Um dos quais deixou mesmo Pep Guardiola de gatas no relvado, enquanto Ederson defendia o remate de Lautaro Martínez.
O homem extra
Começa a tornar-se um dos clichês do futebol mundial. Atualmente, o guarda-redes mais do que defender a baliza também ajuda a construir o jogo. E em Istambul estiveram dois perfeitos exemplos dessa filosofia.
Ederson e André Onana são reconhecidos pela capacidade de jogar com os pés e ambos colocam muitas dificuldades ao adversário com essa qualidade. Os dois foram amplamente solicitados pelos colegas e em muitas situações conseguiram ajudar a ultrapassar uma primeira barreira de pressão do adversário.

Com isto não se julgue que os dois guardiões também não foram decisivos na arte de defender. Onana mostrou-se seguro contra a ameaça de Haaland, enquanto Ederson fez um par de defesas absoultamente incríveis na parte final da partida que impediram um eventual empate do Inter.
A filosofia de Guardiola
O golo de Rodri, que decidiu a final, foi um exemplo de muitos dos tentos marcados pelo Manchester City esta época. A equipa consegue ganhar a linha de fundo e finaliza à entrada da área. Existe muito mérito do médio espanhol, pela forma como consegue fazer a bola passar por Darmian e Çalhanoglu, ao mesmo tempo que coloca fora do alcance de Onana, mas também fica bem espelhado uma das ideias fundamentais de Guardiola.
Por altura do Mundial-2022, Juanma Lillo, antigo adjunto do catalão e um dos gurus futebolísticos, concedeu uma entrevista ao the Athletic em que deixou à vista de todos um dos mandamentos do treinador do Manchester City.
“O último jogador a chegar à área é o primeiro a ter a oportunidade de rematar. Todas as equipas estão tão concentradas a defender e a controlar os espaços ao pé da baliza que as ameaças agora começam a estar mais longe”, escreveu.

O robô sem bateria
Falar do Manchester City esta época é falar de Erling Haaland. O avançado de 22 anos teve uma daquelas temporadas que parece saída de um qualquer simulador de futebol com 52 golos em 53 jogos.
Parecia ser nele que recaiam muitas das esperanças do Manchester City para vencer a orelhuda (não tivesse ele marcado cinco golos ao RB Leipzig, nos oitavos de final), mas acabou por ter uma primeira final da Liga dos Campeões discreta. Sempre vigiado de perto pelo experiente Acerbi, Haaland sentiu dificuldades para ter bola e combinar com os colegas.
Sai de Istambul com uma medalha – e isso não é feito menor – mas com o sinal de uma época que foi de menos a mais. Foi o quinto jogo consecutivo sem fazer o gosto ao pé, algo estranho para uma máquina goleadora.

