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Tal como Karim Benzema em 2022, Vinícius Júnior quer ganhar a primeira Bola de Ouro da sua carreira. Criticado e ridicularizado durante muito tempo, insultado e vilipendiado por uma certa parte dos adeptos em Espanha, o brasileiro está prestes a poder gritar pelo prémio tão esperado pelos melhores jogadores do planeta.

Desde o famoso bis em 2021 contra o Liverpool (3-1), o natural de São Gonçalo transformou-se na estrela há muito esperada pelo ecossistema madrileno. Os dois golos na Allianz Arena são apenas um exemplo daquilo em que se tornou o jogador de 23 anos: o homem da 14.ª Liga dos Campeões dos madrilenos, ao ser o herói na final com um golo aos 59 minutos.

Durante muito tempo, muitos viram-no apenas como um jogador capaz de fazer a diferença a partir do drible, mas incapaz de finalizar. Com trabalho e sacrifício, o brasileiro tornou-se esse goleador em série tão eficaz, além de ter provado nos últimos três anos que é um jogador de impacto. Mas Vini Jr. não faz apenas a diferença com golos, mas também com passes e jogo criativo.

O novo sistema de Ancelotti

Se, nas duas últimas épocas, Vini se tinha afirmado como um jogador-chave no flanco esquerdo do Real Madrid, a saída de Karim Benzem e a chegada de Bellingham obrigaram Carlo Ancelotti a rever o seu plano de jogo e, sobretudo, a repensar a posição e o papel do seu número 7.

Para trás ficou o 4-3-3 e o Real passou a combiná-lo num 4-4-2 em losango, com o extremo esquerdo um pouco mais avançado. Um novo desafio aguardava-o: aprender a ser um ponta de lança, e fazê-lo muito rapidamente, já que Vinícius Júnior não teria um período de adaptação.

Os primeiros meses foram difíceis, pois o brasileiro sofreu lesões musculares nas duas coxas, deixando a equipa sem o seu talento durante dois meses e meio. Foi a primeira vez na sua carreira que sofreu uma lesão tão prolongada, mais um revés a caminho de se tornar um dos grandes nomes da modalidade. O jovem confiava nos que o rodeavam e nunca perdeu a fé em si próprio: em breve voltaria aos relvados, recuperaria a forma e aceitaria o desafio de Carlo Ancelotti.

Para ser ainda melhor, Vinícius precisava de alargar o leque técnico e os pontos fortes. Jogar numa posição mais central do campo e ser um verdadeiro número 9 era o objetivo do italiano. Sem o talento e a vontade do seu jogador, isso não teria sido possível. Mas o brasileiro voltaria a provar mais uma vez que era capaz de transformar tudo o que toca em ouro. Quando o treinador de 64 anos lhe pediu, no verão de 2021, para marcar mais golos, Vini respondeu em campo com 22 golos numa época em todas as competições.

Pois bem, hoje em dia provou que pode ser esse avançado, o falso 9, de que o Real Madrid precisa. A transição e a experiência têm corrido tão bem que Ancelotti decidiu, desde o duplo confronto com o City, colocar o seu jogador como único avançado, num 4-2-3-1.

O italiano fez o mesmo em Munique e Vini marcou dois golos. Além disso, o primeiro, em particular, foi impressionante: a construção/contra-ataque e a finalização foram dignas dos grandes. A desmarcação que fez e o passe de Kroos desmontram a sua tremenda adaptação ao golo. Quem mais, senão Ancelotti, poderia ter tornado Vinícius Júnior ainda melhor? Um treinador cujo trabalho é muitas vezes tão pouco elogiado...

Impacto e números de um futuro Bola de Ouro?

E um treinador que sabe gerir da melhor forma a raiva do seu jogador quando este sofre todo o tipo de injustiças. Vini é o ponto a ser anulado pelos adversários do Real Madrid. Inevitavelmente, é o jogador que mais faltas sofre a cada jogo do campeonato. Mas isso não o impediu de ter o mesmo impacto esta época, apesar das lesões que sofreu no início do ano.

Em 34 jogos, o brasileiro marcou 21 golos e fez nove assistências em todas as competições, o que significa que esteve envolvido em 30 golos e marcou a cada 128 minutos. O rácio melhorou em relação à época passada, quando o número 7 do Real marcava a cada 206 minutos. Uma melhoria dos números que está associada ao seu reposicionamento em campo.

Mais uma prova do impacto do jogador no Real Madrid? A média de golos na fase final da Liga dos Campeões. Teve contribuição direta em 24 golos nos 23 jogos da fase a eliminar da Liga dos Campeões. Nenhum jogador marcou mais golos nesta competição nos últimos três anos. É por isso que, na passada terça-feira, se sentou à mesa com um grupo especial de jogadores: ao lado de Cristiano Ronaldo e Litmanen, é apenas o terceiro jogador na história a marcar em três meias-finais da Liga dos Campeões em três épocas consecutivas.

A isto há que acrescentar o resto: na LaLiga e na Liga dos Campeões, completou todos os dribles (62 e 22), o que faz dele o jogador mais desequilibrador da Europa. Por fim, o aspeto defensivo é outro ponto importante a destacar, pois Vini está a fazer esforços que não fazia antes. Com duelos ganhos, desarmes bem sucedidos e mais recuperações, o brasileiro contribui também neste aspeto, crucial, por exemplo, num duplo confronto contra o Manchester City.

"É uma honra para mim. Como costumo dizer, de onde eu venho foi complicado chegar onde estou. Costumo dizer que sou um vencedor, só porque estou a jogar no Real com os melhores do mundo. Estou bem rodeado e, claro, estou muito contente por poder marcar golos no Real Madrid, como o (Cristiano) Ronaldo, que é o meu ídolo", disse à TNT Sports Brasil após a partida na Allianz Arena.

"É um jogador que vi na televisão e que agora me dá conselhos. Estou a evoluir e a avançar para escrever a minha própria história, que espero que seja grande. A 15.ª (Liga dos Campeões)? É sempre possível com o Real Madrid e, no Bernabéu, 90 minutos é sempre muito tempo", atirou. 

Esta frase dos 90 minutos é uma referência a outra lenda blanca com o 7 nas costas, Juan Gómez "Juanito", que agrada aos adeptos do Real Madrid. A data está marcada: esta quarta-feira, o Real Madrid e Vinícius Júnior voltam a defrontar-se na Liga dos Campeões, aquela que o brasileiro, e os seus companheiros de equipa, esperam vencer - depois de terem conquistado a 36.ª Liga este fim de semana - para aspirar à Bola de Ouro 2024.