Entrevista Flashscore a Fabrício: "Trouxemos a mística do Farense do passado para este ano"

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Entrevista Flashscore a Fabrício: "Trouxemos a mística do Farense do passado para este ano"

Fabrício Isidoro cumpre a sétima temporada no Farense
Fabrício Isidoro cumpre a sétima temporada no FarenseLUSA
O Farense é uma das duas equipas que chegou à paragem internacional numa série de três vitórias. A outra é o Moreirense, curiosamente a formação que acompanhou os leões de Faro na subida ao principal escalão do futebol português. Não há quem tenha melhor registo nesta fase.

Fabrício Isidoro não esconde a felicidade pelo momento que se vive em Faro. Depois do regresso à Liga, o 8.ª lugar à 11.ª jornada só pode deixar orgulhoso quem já viveu de tudo no clube algarvio. Do Campeonato de Portugal à Liga, o médio brasileiro tem nas veias aquilo que é "ser Farense".

"Via o meu pai (Paulo Isidoro) ser adorado pelos adeptos do Atlético-MG e eu imaginava chegar a um clube e ter essa identidade com ele". Aconteceu no Farense. A cumprir a sétima temporada com o símbolo dos leões de Faro ao peito, Fabrício revela em entrevista ao Flashscore o que ninguém vê.

Objetivos, sonhos... Sempre com os pés bem assentes na terra, mas sempre, sempre, de sorriso rasgado. Afinal, o Farense é a "sua" casa.

Fabrício Isidoro em entrevista ao Flashscore
Fabrício Isidoro em entrevista ao FlashscoreLUSA/Opta by Stats Perform

"Acreditamos sempre até ao último minuto"

- O Farense apresenta-se no final da 11.ª jornada no 8.º lugar da Liga. Parece-lhe justo?

- Eu acho que para um Farense que veio da Liga 2 é um bom lugar no campeonato. Claro que queremos e pensamos em mais, pois queremos terminar o mais acima possível. Mas por aquilo que temos demonstrado, creio que o 8.º lugar é totalmente justo. Temos feito bons jogos, sobretudo contra grandes equipas, numa liga muito difícil. 

A posição do Farense na Liga
A posição do Farense na LigaFlashscore

- Perderam contra Sporting (2-3) e FC Porto (2-1) nos descontos, mas em duas das últimas três vitórias consecutivas acabaram por marcar também nos descontos. Podemos dizer que este é o melhor momento do Farense?

- Sem dúvida! Três vitórias consecutivas neste campeonato para qualquer equipa é muito difícil de acontecer. É mais comum com os grandes, mas para uma equipa do nível do Farense é um feito muito bom. Em relação aos jogos contra os grandes, foram derrotas duras, em que saímos com sentimento de frustração, mas agora essa sequência também apareceu para nós, com golos no fim... Não desistimos nunca, acreditamos sempre até ao último minuto.

- O Fabrício conhece bem o clube, o que justifica este bom momento?

- Essa é uma das místicas do Farense: acreditar mesmo até ao fim. É um clube que joga com raça, essa é a identidade do clube. Eu penso sempre em transmitir isso para os jogadores que chegam ou que estão cá há menos tempo. Sofremos tarde com o Boavista (1-3), mas conseguimos marcar dois golos nos descontos. Ainda bem que aconteceu para nós.

- Como carateriza o vosso grupo de trabalho? 

- Uma coisa importante é a continuidade. Alterámos pouco o nosso plantel em relação ao ano passado e quem chegou veio para nos ajudar muito. O nosso balneário foi sempre muito bom. Continuamos com a mesma mentalidade e tentamos levar essa boa energia para os jogos.

- O que viveram no passado, quando subiram à Liga e voltaram a descer na época seguinte, serviu de ensinamento para este regresso ao principal escalão do futebol português?

- Exatamente. Foi um ponto-chave. Essa descida foi muito triste, sobretudo para mim. Subimos sem adeptos (n.d.r.: devido à COVID não houve adeptos nas bancadas no final da época 2019/20 e época 20/21), jogámos a Liga sem adeptos, depois de 18 anos de ausência, e isso foi duro para nós, para os adeptos e para a cidade. Acabou por ser um ano de muita aprendizagem, em que tivemos de aprender da maneira mais difícil. E a vontade de voltar e permanecer ficou ainda maior. Acho que isso ajudou muito o Farense.

Os últimos jogos do Farense
Os últimos jogos do FarenseFlashscore

- Neste regresso já têm os adeptos convosco nas bancadas do São Luís e o vosso registo em casa é muito positivo, com vitória sobre o SC Braga, por exemplo. Qual a importância desse apoio?

- Acredito que naquela altura tenha sido um fator importante para a nossa descida. Não é por acaso que o Estádio é conhecido como o inferno de São Luís. Acho que trouxemos essa mística do Farense de há muitos anos para este ano, sobretudo nos jogos em casa. A cidade é apaixonada por futebol e isso reflete-se nas bancadas. Eles sabem que têm um papel muito importante.

- Perante estes últimos resultados, é provável que os adeptos continuem a pedir mais e mais. Será mais difícil a partir de agora?

- Nunca foi fácil. Desde o primeiro jogo, em que perdemos em casa (frente ao Casa Pia). Estas três vitórias seguidas foram boas, mas sabemos que não foram vitórias tranquilas. Daqui para a frente vai continuar a ser difícil, porque temos equipas competitivas e de muita qualidade no campeonato. Os adeptos fazem o papel deles, de querer sempre mais, mas nós sabemos que vai ser difícil. Pensamos jogo a jogo.

- Sente que a cobrança consigo é maior por estar há mais tempo no clube?

- Eu conheço muita gente e eles sabem das dificuldades que o Farense vai ter depois da subida.

- Falámos de adeptos e jogadores... A continuidade do mister José Mota também foi importante?

- É sempre importante a continuidade de um trabalho. As ideias acabam por ser as mesmas, sabemos o que ele quer, os movimentos, e isso torna tudo mais fácil. Não tenho dúvidas de que isso tambem é importante para conseguirmos os êxitos.

Fabrício marcou um golo decisivo no último jogo
Fabrício marcou um golo decisivo no último jogoLUSA

"Pretendo chegar com o Farense onde nunca esteve"

- Algum dia imaginava que ia chegar ao Farense (em 2017) e ter este trajeto?

- É uma história bonita. Sempre pensei em chegar à Liga. Lembro-me de dar uma entrevista no meu primeiro ano e dizer que queria chegar à Liga com o Farense e aconteceu. Fico muito feliz e orgulhoso por ter acompanhado o Farense nesta trajetória. O clube cresce, a estrutura cresce, a academia acontece e eu fico muito feliz por fazer parte disto. Muitos jogadores já passaram pelo clube e eu fico feliz em continuar aqui. Pretendo chegar com o Farense onde nunca esteve. É um clube que passei a admirar.

- Quando chega ao clube percebe que tinha potencial para atingir estes patamares?

- Para ser sincero, no primeiro ano queríamos mostrar qualidade e subir de divisão. Com a chegada do presidente João Rodrigues, ele falou sobre o projeto e ambição de chegar à Liga e eu fui vendo que era um clube com uma projeção muito boa. Não fazia sentido sair do Farense. 

Fabrício apresentado em Faro no verão de 2017
Fabrício apresentado em Faro no verão de 2017SC Farense

- 186 jogos. Algum especial?

- O primeiro dérbi com o Olhanense, em que vencemos 4-1 e eu marquei um dos golos. Foi um jogo emocionante, com muita gente nas bancadas, mesmo sendo um jogo para o Campeonato de Portugal. Depois recordo um jogo em que marquei um golo contra Praiaense e passámos aos quartos de final da Taça de Portugal. E tem ainda a subida no jogo contra o Vilafranquense... Felizmente, são muitos.

- Como se diz no futebol, podemos dizer que o Fabrício já faz parte da mobília?

- Seis anos e meio... Já podemos dizer que sim (risos). Eu sempre gostei disso. Cresci a ver o meu pai, que jogou nove anos no Atlético-MG, a ter esse carinho dos adeptos de um clube. Muitas pessoas pediam para tirar fotos com ele e eu imaginava chegar a um clube e ter também essa identidade com ele. Era uma coisa que eu pensava para a minha vida e consegui isso no Farense. Acho que o meu nome vai ficar marcado na história e espero fazer ainda mais história. Quero fazer ainda muitos jogos e chegar a competições que o Farense se vai orgulhar.

Fabrício é filho de Paulo Isidoro, antigo internacional brasileiro
Fabrício é filho de Paulo Isidoro, antigo internacional brasileiroOpta by Stats Perform

"Tenho a sorte de ter um ídolo como pai"

- Por falar no seu pai (Paulo Isidoro, antigo internacional brasileiro), qual a importância dele para o seu trajeto no mundo do futebol?

- Quase 100%! Quando eu era criança, ele construiu uma escola de futebol, até hoje eu penso que foi por minha causa (risos). Eu tinha 7-8 anos e ele ensinou-me tudo nos primeiros passos no futebol. Portanto, todo o bichinho foi por culpa dele.

- Muitos conselhos?

- Os conselhos ajudaram muito, até hoje dá alguns toques. Mais para dizer o que eu não deveria fazer no jogo (risos). Sempre que me diz o que devo fazer, tento escutar por ser uma pessoa que teve a carreira que teve. Tenho essa sorte de ter um ídolo como pai.

- Um ídolo e um adepto do Farense...

- (risos) Ele não gosta muito de assistir, porque fica muito nervoso. Depois assiste ao resumo e à repetição para me dar conselhos do que não deveria ter feito. Mas sem dúvida, virou um adepto do Farense.

- Ele esteve no Mundial de 82, ao lado de nomes como Sócrates, Zico e Falcão. Certamente terá ouvido muitas histórias sobre eles.

- Ele contava muitas histórias desse Campeonato do Mundo de 1982 e eram muitos jogadores de muita qualidade, uma das melhores seleções que já teve o Brasil. Sinto um pouco de tristeza, porque a expetativa era muito grande e eles não conseguiram ser campeões do Mundo. Lembro-me de ele contar que o Zico treinava mais de 50 livres em cada treino, da qualidade que tinha o Sócrates... Ele tinha muita admiração por eles. Quando ele conta, ele sente muito orgulho por ter participado numa das melhores seleções do Brasil. E eu também fico muito orgulhoso.

Paulo Isidoro, aqui ao lado de Ronaldinho, é uma lenda do Atlético-MG
Paulo Isidoro, aqui ao lado de Ronaldinho, é uma lenda do Atlético-MGArquivo Pessoal

- Voltamos ao Farense. Em 2017 era um sonho chegar à Liga, agora é um sonho chegar às competições europeias?

- Quem sabe? Ninguém sabe o que vai acontecer no futuro. Agora o mais importante é a manutenção na Liga, depois podemos pensar em algo maior. Pensamos nisso em primeiro e o que vai acontecer depois vai ser consequência do que fizermos no Campeonato. Tenho a ideia de que o Farense vai tornar-se num clube ainda maior daqui a uns anos. 

- Esta pausa (internacional) chegou em má altura, uma vez que vinham de três vitórias consecutivas?

- É verdade, vínhamos de uma sequência boa, mas também precisávamos de descanso. Tivemos uma sequência grande de jogos, em que corremos muito, e acho que esta pausa veio em boa hora. Não faz mal a ninguém e vai ser bom para prepararmos a sequência difícil que vamos ter agora. Jogamos contra o Vitória (de Guimarães) e depois Benfica. Temos de aproveitar para recarregar as baterias.

- Vão defrontar dois adversários que estão acima de vocês na tabela. Isso pesa muito no vosso subconsciente?

- Cada jogo tem a sua estratégia e o momento do adversário também conta. Recebemos o Vitória em casa, nós somos fortes em casa e pensamos em continuar a ser. O Vitória é uma boa equipa, mas o nosso pensamento está sempre na vitória.

Fabrício atravessa bom momento com o seu Farense
Fabrício atravessa bom momento com o seu FarenseLUSA

"Campeonato português é um bom produto"

- O Fabrício está há vários anos em Portugal e, por isso, conhece bem o futebol português. Qual avaliação?

- Acho que é um ótimo produto, principalmente para os brasileiros que têm aqui uma porta aberta em Portugal, num campeonato bom, difícil e com muita qualidade. Podemos ver a quantidade de jogadores que saem daqui para outros campeonatos.

- O que gostaria de dizer aos adeptos nesta fase?

- Isso é muito fácil. Que continuem a apoiar. Na verdade, não preciso de chamar os adeptos, porque eles já estão sempre lá. Seja em casa ou fora, ouvimos sempre a voz deles e isso é muito bom para nós. Queremos que esse apoio continue. Vamos lutar para fazer o clube crescer e precisamos do apoio deles.

Os próximos jogos do Farense
Os próximos jogos do FarenseFlashscore

- E quais são as suas ambições pessoais?

- Essa parte é a mais difícil. Eu penso sempre no agora. Penso em estar bem, em estar em boas condições para jogar... O que vai acontecer no futuro vai depender do que fizer no agora.

- Aos 31 anos, como se sente? É um Fabrício muito diferente daquele que chegou a Portugal, em 2016, para o Louletano?

- Mais experiente. Sinto-me muito melhor do que quando cheguei - fisicamente e psicologicamente -, sinto-me muito bem. Estou muito feliz e espero ajudar o Farense até quando eles quiserem. 

- Faro já é a sua casa?

- Verdade. Aqui é a minha casa, tenho a minha família aqui e ela já está habituada. Os meus filhos são farenses, a minha esposa gosta muito e o clima é espetacular. Estamos muito bem. Tenho a família feliz, eu feliz e isso é o mais importante.