"Tem sido desvalorizado o trabalho desenvolvido pelo Varandas"
- Vamos começar por olhar para a realidade nacional e para uma liga portuguesa que está quase a chegar ao fim, com o Sporting, um clube que lhe diz muito, como todos sabemos, a ter as coisas muito bem encaminhadas para conseguir ser campeão nacional.
- Naturalmente, a cultura leva-nos a agir com prudência, mas com a naturalidade de quem anda nisto há alguns anos, perceber que, sem dúvida alguma, está bem encaminhado. Matematicamente ainda não está garantido, mas tendo em conta o nível exibicional apresentado pela equipa da Rúben Amorim, a confiança que a equipa respira faz-nos acreditar claramente que mais jornada, menos jornada poderão sagrar-se campeões.
- Pensa que a figura do treinador Rúben Amorim é de facto fundamental para o Sporting ser hoje completamente diferente daquele que era antes da sua chegada?
- Parece-me que tem sido desvalorizado o trabalho desenvolvido pelo presidente Frederico Varandas. Aliás, o Rúben Amorim só encontra essa estabilidade porque as guerras têm sido travadas pelo presidente. Nós sabemos o quão complicado é gerir a questão das claques, a pressão exercida sobre o presidente e algumas tomadas de decisão difíceis e complicadas que foram fundamentais para que essa estabilidade existisse hoje. Evidentemente, é impossível dissociar Rúben Amorim daquilo que tem sido o sucesso desportivo do Sporting nos últimos anos, mas não teria sido possível se de facto Frederico Varandas não fosse um presidente com pulso de ferro, capaz de não dobrar perante a pressão da massa associativa, e nomeadamente das claques. Valeu a pena, de facto, levar avante aquilo que eram as suas ideias e, felizmente, hoje, o Sporting goza dessa estabilidade, também evidente pela qualidade que o Rúben Amorim tem apresentado.
- A contratação foi muito questionada, até pelo valor, e o risco foi grande. Mas parece ter sido compensador...
- Eu creio que foi, sem dúvida alguma, talvez o ato mais arriscado desde que assumiu a presidência do Sporting. Frederico Varandas, por mais informação que tivesse relativamente aquilo que era o potencial do Rúben Amorim naquelas circunstâncias, acredito que não lhe terá passado pela cabeça que o êxito fosse aquele que hoje se verifica. Ok, título conquistado de campeão nacional e está prestes a conquistar mais um, coisa que não acontece há bastantes anos. Mas concordo quando dizes que, na altura, foi um salto no escuro.
- Hoje, reconheço que Rúben Amorim é, provavelmente, dos treinadores jovens, o mais talentoso. E não é porque treina em Portugal. E não é porque treina o Sporting. É porque de facto encontro nele características, não apenas do ponto de vista técnico, tático, mas, sobretudo nesta dimensão, da capacidade de comunicar, de ser ele a dar o peito às balas, mas de forma elegante e inteligente, retirando essa pressão e esse peso da estrutura do clube. Isso está ao alcance de poucos. Na altura, toda a gente pôs as mãos na cabeça, principalmente os adeptos sócios do Sporting, mas hoje, evidentemente, são os primeiros a reconhecer que com certeza foi o melhor ato de gestão que Frederico Varandas teve até hoje.
- O Rúben é um treinador que vem sendo cobiçado por alguns clubes internacionais. Acredita que o passo seguinte será assinar por um clube que lute por títulos a nível europeu? Ou ainda haverá alguns degraus para subir, como por exemplo a questão do West Ham? Ou então ficar no Sporting?
- Após a viagem de Rúben Amorim, eu tive a oportunidade de falar um pouco sobre aquilo que na verdade continua a ser um ponto de interrogação. Já terá sido criticado relativamente à quebra de palavra quando assumiu que não haveria reuniões e que não se falaria sobre o futuro enquanto não tivesse resolvida a questão do campeonato, mas é importante nós darmos o benefício da dúvida e tentar perceber o que significou esta viagem a Londres. Eu olho para o Rúben Amorim e encontro muita coerência naquilo que diz e naquilo que faz e estou na expectativa de perceber que justificação trará.
- Agora esse cenário, o último em particular, sobre a possibilidade de continuar no Sporting. Esse é um cenário que parece ganhar cada vez mais força. Aquele sorriso que ele trazia era um sorriso de alívio. Na minha opinião, isto é uma avaliação pessoal, era um sorriso de alívio porque em momento algum vi o Rúben Amorim entusiasmado com a possibilidade de sair do Sporting. Quando se diz que as oportunidades ou se agarram ou então não voltam a acontecer, no caso do Rúben Amorim estamos a falar de um treinador super jovem que, vamos imaginar o cenário de ganhar dois ou três campeonatos consecutivos com o Sporting, isso pode dar-lhe muito mais força e, portanto, a possibilidade de sair com o estatuto reforçado. Portanto, é esperar. É esperar por essa conferência e perceber que justificação dará para esta viagem relâmpago.
"Benfica? Qualidade de jogo muito aquém do investimento"
- Falamos de estabilidade de Amorim e parece existir falta de estabilidade aos rivais do Sporting, que ainda não acertaram o passo e estamos na reta final do campeonato.
- Após conquista do título, o Benfica teve um encaixe financeiro muito grande e isso permitiu a construção de um plantel mais forte, individual e coletivamente, e a expectativa aumentou não só a nível interno, como também externo. Creio que, principalmente a má campanha europeia em termos de Champions e depois a queda aos pés do Marselha, já numa fase muito adiantada da Liga Europa, acaba a castigar um pouco aquilo que eram os objetivos. Tudo isso é reforçado com uma época a nível nacional onde não consegue ser consistente, onde a qualidade de jogo apresentado está muito aquém daquilo que foi o investimento e, portanto concordar quando dizes que os rivais diretos estão bem longe daquilo que é o nível de confiança e de qualidade de jogo apresentado pelo Sporting.
- O FC Porto, numa época também diferente com esta confusão gerada pela concorrência forte de André Villas-Boas relativamente à liderança do clube, que trouxe aqui muita perturbação, mostra que de facto o clube está a precisar de se reestruturar de novas ideias. Tudo isso foi bem aproveitado pelo Sporting, que acaba por ganhar uma vantagem confortável e que, como disse anteriormente, mais jornada, menos jornada, poderá sagrar-se campeão.
"É possível Portugal conquistar o Europeu"
- O que é que espera da Seleção Nacional para o Euro? É natural que haja uma grande crença quando olhamos para a qualidade que tem o grupo, seja ele qual for o escolhido por Roberto Martínez, concorda?
- Sem dúvida alguma e é interessante olhar para aquele que foi o último resultado. Uma derrota que poderá ter abanado aqui algumas mentes menos concentradas, naquilo que de facto é o futebol quando se facilita. Independentemente do adversário que se tem pela frente, podem surgir resultados desta natureza. Agora é concentrar novamente naquilo que é a essência e não naquilo que são os números, porque os números estavam a fazer-nos voar muito alto e bem distantes daquilo que era sentir a terra. Porque quando deixamos de sentir os pés no chão, podemos ter algumas quedas, como aquela que aconteceu.
- Os portugueses devem confiar naquilo que que tem sido uma campanha extraordinária, confiar na qualidade dos jogadores, na vontade dos mesmos em querer continuar a surpreender e reconhecer que talento e qualidade, como tem a seleção portuguesa, de facto existem poucas. E a partir daqui acreditar que é possível, até porque já se conquistou uma vez o Europeu. É verdade que outras seleções da mesma dimensão estarão em competição, mas eu acredito, sinceramente, que esta é uma geração que merece a pena ser olhada desta forma.
- Não existem seleções com a qualidade e quantidade de jogadores que nós temos que joguem nas melhores ligas europeias. Portanto, estarão ao mesmo nível, não a nível superior, e a partir daqui é acreditar que é possível conquistar mais um Europeu. Basta olhar para os jogadores que ficarão de fora, que poderiam, naturalmente, preencher algumas lacunas de outras seleções do mesmo nível.