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Rúben Amorim: Do 3x4x3 sólido defensivamente para a máquina de fazer golos

Rúben Amorim tem sido cogitado para o Liverpool
Rúben Amorim tem sido cogitado para o LiverpoolAFP

Na liderança da Liga e de olho no segundo campeonato nacional em quatro épocas completas em Alvalade, Rúben Amorim começou a despertar a atenção europeia. O Liverpool surge como a hipótese mais provável e a chegada a Anfield pode significar uma mudança de sistema.

Antigo internacional português, com presença em dois Mundiais (2010 e 2014, sendo que jogou em ambos) e uma vasta carreira no futebol nacional (representou Benfica, Belenenses e SC Braga), Rúben Amorim tornou-se no treinador do momento em Portugal.

Aposta de risco do Sporting em 2020, quando pagou 10 milhões de euros por um técnico que tinha 13 jogos no SC Braga (e uma Taça da Liga), o ribatejano de 39 anos quebrou o jejum de 19 anos sem títulos em Alvalade (2020/21) e voltou a fazer sonhar os leões esta época.

Tudo assente num sistema tático bem definido, com dinâmicas a crescer.

Inegociável? Já não

Se há coisa que marcou as quatro épocas e meia que Rúben Amorim leva no Sporting é o sistema tático. A equipa apresenta-se sempre com três centrais, dois alas, dois médios-centro, dois avançados interiores e um ponta-de-lança. Um esquema que inicialmente serviu para proteger uma equipa onde a solidez defensiva era a palavra de ordem.

Depois de uma época (2020/21) onde ganhou o título com apenas 20 golos sofridos, Rúben Amorim evoluiu nas dinâmicas e o que antes parecia uma ideia defensiva transformou-se numa máquina de fazer golos. Chegados a abril, os leões já ultrapassaram a barreira da centena de golos (119) e têm, de longe, o melhor ataque da Liga (77 contra 61 do Benfica).

Prova do arrojo introduzido num Sporting cada vez mais convidado a assumir o jogo perante blocos mais baixos, o 3x4x3 com que a equipa transforma-se muitas vezes num sistema com quatro defesas, em que o central pela direita, agora Eduardo Quaresma, avança para o corredor, Geny Catamo, o ala, sobe no terreno e permite ao avançado interior tomar posições mais perto do ponta de lança.

Diomande (26) foi o central pela direita
Diomande (26) foi o central pela direitaOpta by Stats Perform, Sporting

Defesa

Com os três centrais, Rúben Amorim privilegia a capacidade com bola neste momento, sobretudo pelo domínio que o Sporting tem das partidas. Gonçalo Inácio é o central com melhores ferramentas para construir, enquanto Eduardo Quaresma ou Diomande conseguem sair a jogar desde trás mais em condução. 

Gonçalo Inácio é o principal organizador
Gonçalo Inácio é o principal organizadorOpta by Stats Perform, Sporting

O mais experiente, Coates costuma ser o central do meio para orientar a linha defensiva. É o homem que vai aos duelos, uma vez que é o menos veloz do trio, e na altura de construir costuma dar uns passos em frente para servir de apoio.

No lado esquerdo, Rúben Amorim costuma ter algumas variações. Enquanto Inácio é um central mais hábil na hora de passar, Matheus Reis, que também pode fazer a posição, acrescenta as valências de um lateral convertido a central. Muitas vezes sobe pelo corredor, sobretudo em situações em que os leões precisam de marcar.

Matheus Reis partiu como central diante do Boavista
Matheus Reis partiu como central diante do BoavistaOpta by Stats Perform, Sporting

Nas faixas também Rúben Amorim viu-se obrigado a mudar o perfil. Na esquerda a aposta é relativamente semelhante, porque Nuno Santos (com rotina de extremo) e Matheus Reis (mais lateral) são canhotos que têm facilidade a fazer a faixa completa e conseguem chegar à linha com facilidade.

Na direita surge a novidade. Os primeiros anos de Rúben Amorim foram marcados por um Pedro Porro muito forte, que desequilibrava em condução. A saída do espanhol para o Tottenham deixou o Sporting com Ricardo Esgaio, um estilo de jogador mais seguro, que não consegue arriscar tanto em termos ofensivos. Com Fresneda ainda por confirmar o potencial, o técnico leonino tem apostado em Geny Catamo, um canhoto capaz de fazer a faixa, mas que procurar maioritariamente o pé esquerdo e as combinações interiores.

Geny Catamo não é tanto um lateral de linha de fundo
Geny Catamo não é tanto um lateral de linha de fundoOpta by Stats Perform, Sporting

Meio-campo

O meio-campo de Rúben Amorim é talvez o setor mais estável nesta passagem do técnico leonino pelo Sporting. Um dos elementos é de cariz mais defensivo e por norma capaz de percorrer um vasto terreno, sempre ativo na pressão. Passou de João Palhinha para Ugarte e agora é Morten Hjulmand.

As recuperações de bola de Morten Hjulmand diante do FC Porto
As recuperações de bola de Morten Hjulmand diante do FC PortoOpta by Stats Perform, Sporting

Ao seu lado, o perfil tem sido por um médio capaz de romper linhas. João Mário (2020/21) é talvez o nome que mais se afasta desse molde, mas desde Matheus Nunes que existe uma ideia clara sobre o segundo elemento do duplo pivô leonino.

Morita tem sido o que mais ocupa a posição, alternando muitas vezes com Pedro Gonçalves. Normalmente posicionados à esquerda, ambos apresentam capacidade de surgir mais à frente para baralhar marcações e fazer combinações quer com o ponta-de-lança, quer com o avançado interior. Seguros de que estão protegidos por Hjulmand.

Pedro Gonçalves foi médio diante do Casa Pia
Pedro Gonçalves foi médio diante do Casa PiaOpta by Stats Perform, Sporting

Ataque

Esta é a grande mudança do Sporting de Rúben Amorim. Pela primeira vez o treinador apresenta duas soluções completamente diferentes, sendo que ambas tiveram resultados a espaços.

A frente de ataque leonina normalmente é composta por dois avançados interiores canhotos (Marcus Edwards e Francisco Trincão) com um ponta-de-lança (Viktor Gyökeres ou Paulinho). Esporadicamente, Amorim testou um trio mais móvel, mas mais por falta de opções, do que por ideia tática.

A capacidade de Gyökeres no ataque à profundidade
A capacidade de Gyökeres no ataque à profundidadeOpta by Stats Perform, Sporting

Com Viktor Gyökeres, o Sporting adicionou uma nova arma. Muito forte no ataque à profundidade, o sueco é a válvula de escape dos leões perante a pressão. É para ele que a bola sai dos centrais para segurar o esférico e esperar a aproximação dos colegas, ou então atacar o espaço nas costas da defesa e permitir que a equipa avance metros rapidamente.

Com Paulinho na frente, os leões ganham uma solução de jogo apoiado. O avançado é inteligente a jogar e por norma combina melhor com quem está à volta, criando espaços para as entradas dos avançados interiores nas costas, ou para a chegada do médio vindo de trás.

Os dois têm sido testados em conjunto também, com Paulinho a sair da esquerda (é canhoto), mas sempre com a intenção de se juntar ao meio e aproveitar os espaços deixados por Gyökeres, que se desloca para as faixas.

O Sporting com Paulinho (20) e Gyökeres em conjunto
O Sporting com Paulinho (20) e Gyökeres em conjuntoOpta by Stats Perform, Sporting

Com um Liverpool habituado a vários anos de um 4x3x3 bem definido por Klopp, fica por saber como o plantel dos reds e os próprios jogadores se adaptariam às ideias de um 3x4x3 que Rúben Amorim está a evoluir de ano para ano.