A condenação em Berna foi anulada devido à prescrição do crime e à impossibilidade da realização de um novo julgamento, mas o tema voltou à tona assim que Cuca foi anunciado pelo Furacão, na semana passada.
Na conferência de imprensa após vitória por 6-0 diante do Londrina, o técnico leu um pronunciamento feito com a "ajuda" da sua esposa e filhas, motivado, segundo ele, pela coluna opinião de Milly Lacombe, comentador do UOL e ativista dos direitos das mulheres.
"Confesso para vocês que estou nervoso. É um tema muito sério, muito importante. Escrevi para não correr o risco de errar, porque não sou bom com palavras", começou por dizer Cuca.
"Não adianta eu ser um grande treinador, esposo, pai, avô, irmão, se eu não entender que o mundo é mais do que o futebol e que eu faço parte dessas coisas. Eu enxergava os problemas, mas calei-me porque a sociedade permitia que eu, como homem, me calasse. Hoje, entendo que o silêncio soa como cobardia", afirmou, lendo a sua nota.
"O mundo do futebol e o mundo dos homens nunca me tinha cobrado nada, mas o mundo está a mudar e eu acho que é para melhor", disse Cuca.
"A realidade tem de ser transformada para que o mundo seja um lugar mais seguro para as mulheres. O mundo do futebol ainda é um mundo de muito preconceito. Entendi que quando me cobram não é só sobre mim, é sobre a forma como tratamos as mulheres", acrescentou.
"Muitos perdem-se pelo caminho com fama e dinheiro. Somos levados a acreditar que podemos tudo, inclusive desrespeitar as mulheres", explicou Cuca.
"Eu pensei que estava livre da minha angústia quando solucionei o meu problema com a anulação do processo e a indemnização. Mas entendi que não acabou porque não dependia apenas da decisão judicial, mas que eu precisava entender o que a sociedade esperava de mim. O que vocês vão ver de mim daqui para frente não serão palavras, serão atitudes", revelou o treinador brasileiro.