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Opinião: A equipa de 2023 do Manchester City é a melhor a nunca ser celebrada

Jogadores do Manchester City festejam a conquista do Campeonato do Mundo de Clubes
Jogadores do Manchester City festejam a conquista do Campeonato do Mundo de ClubesAFP
Era típico. Até simbólico. O discreto e subestimado Julián Álvarez dominou o marcador em Jeddah, quando o Manchester City varreu o Fluminense na final do Mundial de Clubes.

Só podia ser o argentino. Na ausência de Haaland, nenhum outro jogador representa melhor o Manchester City nesta fase da sua história. Pouco falado. Sob o radar. Seja qual for a descrição que se queira dar. Ninguém pode acusar o City de ser um caçador de publicidade. É o mesmo que se pode dizer de Álvarez.

Dentro do futebol, é claro, o vencedor do Mundial-2022 é muito respeitado. De facto, durante a semana do City na Arábia Saudita, os jornalistas espanhóis disseram a Álvarez que o Real Madrid e o Barcelona estavam de olho nele.

"Real Madrid ou Barcelona? A verdade é que estou muito feliz no Manchester City", respondeu. "Estou no clube há pouco mais de um ano. Sinto-me muito feliz com tudo o que alcançámos", acrescentou.

Mais uma vez, discreto. Sem querer fazer manchetes. Não está a tentar chamar a atenção para si próprio. Álvarez é típico do Manchester City. Como dizemos, há o Erling Haaland. Mas é só isso. A cultura do jogador é mais marcada por pessoas como Bernardo Silva do que pelo tipo do pijama de seda.

Pep Guardiola, treinador do Manchester City, e Erling Haaland
Pep Guardiola, treinador do Manchester City, e Erling HaalandAFP

Talvez por isso o City não esteja a ser celebrado hoje. Assistimos a uma história. Vimos talvez a melhor equipa dos tempos modernos, certamente a melhor que a Inglaterra já viu, a terminar o ano com cinco troféus. É histórico. Inovador. Algo que talvez nunca mais voltemos a ver. As exigências físicas. O desafio mental. Semana após semana. E na liga mais competitiva do mundo. O City conseguiu-o. E fê-lo com êxito.

No entanto, este último troféu de 23, o Mundial de Clubes, foi recebido com um gemido na imprensa local.

"Acho que não há crédito suficiente", disse Phil Foden após a vitória sobre o Flu.

"É incrivelmente difícil e exigente, a cada três dias jogando o jogo e, de todo esse esforço, dizer que fizemos isso é muito bom", sublinhou o inglês.

Será que o adepto inglês médio aprecia o que tem à sua frente? Pense no Real Madrid de Puskas e Di Stefano. Ou o AC Milan de Gullit, Rijkaard e Van Basten. Grandes equipas. Grandes momentos... Sobretudo para aqueles que tiveram a sorte de ter um bilhete de época para o Bernabéu ou para San Siro durante esses períodos. Experiências. Memórias para toda a vida. Testemunhar grandes momentos à sua frente.

É o que os adeptos do City estão agora a viver. Talvez o melhor treinador que o futebol já viu. À frente da melhor equipa de sempre. Certamente uma oportunidade a não perder.

Pep Guardiola, treinador do Manchester City
Pep Guardiola, treinador do Manchester CityAFP

Mas, como diz Foden, o City parece estar a ser subestimado. Pelo menos por aqueles que estão à margem do jogo. Pelos treinadores rivais. Para os adversários. Eles sabem o que estão a enfrentar. "A melhor equipa do mundo", é uma descrição comum dos seus pares. Mas isso não se estende à imprensa e ao público em geral.

Basta pensar na forma como a antiga equipa do Barcelona de Guardiola era vista nos seus dias. Ou o Real Madrid de Zinedine Zidane. No entanto, em termos de troféus, nenhum dos dois gigantes espanhóis conseguiu igualar o City.

Talvez a Liga dos Campeões seja a resposta? Depois do sucesso deste ano, talvez a opinião pública mude se o City conseguir mais uma vitória em Istambul. Mas a reação moderada da própria imprensa local ainda é desconcertante. Especialmente quando se considera o entusiasmo e a ousadia que acompanham a Inglaterra em todos os torneios internacionais. Aqui está uma equipa que a imprensa inglesa pode legitimamente celebrar e defender. Mas, além da bebedeira de Jack Grealish, faltou a análise de fim de época sobre a grandeza desta equipa do City.

Jack Grealish, médio do Manchester City
Jack Grealish, médio do Manchester CityReuters

E, mais uma vez, não pode ser por falta de ligação. Foden, Grealish, John Stones, Kyle Walker... há uma clara influência inglesa que percorre esta equipa. Para a imprensa local, isso deve ser celebrado.

Mas, para já, não é. É simplesmente a vida como sempre. Acabado de ser coroado campeão do mundo, o City estava de volta a solo inglês. Em Merseyside. E a encontrar uma forma de ganhar em Goodison Park. Foden e Álvarez entre os autores dos golos.

Pouca agitação. Nada de alarido. O Everton nem sequer conseguiu reunir uma guarda de honra para os campeões do mundo. Embora tenham estendido o tapete vermelho a Tommy Fleetwood e à Ryder Cup.

Uma oportunidade perdida pelo Everton? Talvez. Mas é um tema que está a atravessar o futebol inglês. Subestimado. Subestimada. Esta equipa do Manchester City merece muito mais por ter conseguido o impossível.