Opinião: Rúben Neves, Newcastle e a multipropriedade no futebol mundial

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Opinião: Rúben Neves, Newcastle e a multipropriedade no futebol mundial

Ruben Neves, do Al-Hilal, comemora o golo marcado contra o Al Hazm
Ruben Neves, do Al-Hilal, comemora o golo marcado contra o Al HazmProfimedia
No final, a sanidade - e um pouco de interesse próprio - prevaleceu. A tentativa da Premier League de impedir a circulação de jogadores dentro da rede de um clube foi rejeitada. Embora a votação final não tenha sido esmagadora...

Oito clubes foram suficientes para bloquear a moção, com uma maioria de 14 a precisar de votar num dos lados para que tais leis fossem alteradas. Para já. Os clubes com redes multi-equipas podem continuar a contratar jogadores dentro da sua pirâmide, a título de empréstimo.

Toda esta tentativa não faz sentido e a aprovação de uma lei deste tipo - a meio da época - levantaria certamente mais dúvidas sobre a integridade da competição do que qualquer acordo celebrado entre o Newcastle e um clube da Saudi Pro League detido pelo PIF.

É claro que Rúben Neves foi o jogador-propaganda de tudo isso.

Até ao momento, o antigo capitão do Wolves, tem sido mencionado como uma opção de empréstimo para o Newcastle.

Os números de Rúben Neves
Os números de Rúben NevesFlashscore

Com Sandro Tonali banido por dez meses depois de ter apostado em jogos enquanto era jogador do AC Milan, o Newcastle vê Neves como um potencial substituto. Tal como o Arsenal.

Assim, se as coisas tivessem corrido como a Premier League desejaria, teríamos a situação ridícula de o Newcastle estar impedido de contratar o médio português, mas este ter autorização para se juntar ao Arsenal. Onde é que este cenário se enquadra em termos de integridade da Liga?

Além disso, o que é que se passa com o jogador? Não tem uma palavra a dizer nesta matéria?

A Liga impede-o de escolher um clube em vez de outro? Mais uma vez, toda esta tentativa foi mal pensada. De facto, no que se refere a Neves, pode dizer-se que, neste momento, tudo é hipotético.

É difícil imaginar que o Al Hilal - e em particular o treinador Jorge Jesus - dê um passo atrás e aprove uma transferência deste género.

Com a necessidade de encontrar um substituto para Neymar em janeiro, Jorge Jesus não vai querer perder também o seu compatriota.

Neymar está a reagir bem ao tratamento, segundo o médico da seleção brasileira
Neymar está a reagir bem ao tratamento, segundo o médico da seleção brasileiraProfimedia

Mas as motivações por trás dos "oito rebeldes", como foram apelidados, vão além do sucesso instantâneo de uma contratação de um veterano em janeiro. A moção vai contra um ponto fundamental na construção dessas redes multiclubes.

Um dos seus pontos fortes é o trabalho realizado abaixo do nível sénior.

Muitos destes clubes, situados no topo da pirâmide, trazem jovens jogadores da sua rede para treinar e jogar na academia.

Levam-nos a título temporário. Registam-nos numa equipa de menores. E dão ao jovem um gostinho do futebol e da experiência profissional a um nível mais elevado. Tudo isto faz parte do processo de desenvolvimento. Se beneficia o clube da Premier League em questão é discutível, mas acelera o jogo do jogador individual.

Para esta coluna, tal como já afirmámos no passado, continuamos cépticos quanto aos benefícios que estas redes de várias equipas trazem para o clube de topo - em especial para aqueles que são regulares na Liga dos Campeões. A passagem para o Manchester City, o Arsenal ou o Chelsea (sim, mesmo o Chelsea de hoje) continua a ser um passo demasiado longo para os talentos das respetivas redes.

Até mesmo no Girona, onde Yan Couto e Savinho têm feito muito bem ao líder da LaLiga, não há nenhum jogador capaz de melhorar o XI do City. Savinho, que tem contrato com outro clube do City Football Group, o Troyes, foi mencionado como um possível jogador do City.

Yan Couto, defesa brasileiro do Girona, corre com a bola durante o jogo entre o Girona e o Celta de Vigo, da liga espanhola de futebol
Yan Couto, defesa brasileiro do Girona, corre com a bola durante o jogo entre o Girona e o Celta de Vigo, da liga espanhola de futebolAFP

Mas é só isso, potencial. A possibilidade de o brasileiro interromper o seu empréstimo e juntar-se ao City em janeiro é uma fantasia.

O City investiu muito nesta rede. A ciência por detrás do processo de desenvolvimento é tão exata. Não faria sentido arrastar um brasileiro de 19 anos após apenas seis meses de LaLiga para ter a oportunidade de se sentar no banco do City. E isso sem falar na repercussão que teria entre os locais - outro aspeto dessas redes que merece ser analisado.

Mas para os clubes abaixo do City e do Arsenal, estas parcerias dão frutos. Brighton, Union SG e Kaoru Mitoma. Nottingham Forest, Olympiakos e os 11 acordos entre eles. A esse nível, pode funcionar. De facto, funciona.

O que, mais uma vez, levanta a questão de saber até que ponto esta moção original da Premier League foi descuidada.

Para o Brighton. Para o Forest. A criação destas redes tornou estes clubes mais fortes. Mais competitivos. E, ao fazê-lo, elevou ainda mais o nível da Premier League. Felizmente, esta semana, a sanidade - e um pouco de interesse próprio - prevaleceu.