Entrevista Flashscore a Tomané: "Podia escrever um livro com o que aconteceu na Turquia"

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Mais
Publicidade
Publicidade
Publicidade

Entrevista Flashscore a Tomané: "Podia escrever um livro com o que aconteceu na Turquia"

Tomané atravessou período complicado na Turquia
Tomané atravessou período complicado na TurquiaInstagram Tomané
Uma montanha-russa de emoções. De altos e baixos. Assim se resume a carreira de Tomané até ao momento. Aos 30 anos, o avançado encontra-se no Chipre à procura de recuperar a confiança de outros tempos, depois de uma passagem "difícil" pela Turquia, onde passou de capitão de equipa a afastado por um presidente bilionário. Em entrevista ao Flashscore, Tomané abre o livro. Sem medo das palavras.
Tomané passou 13 anos no Vitória de Guimarães
Tomané passou 13 anos no Vitória de GuimarãesLUSA

"O Vitória é um clube especial"

- Como foi o início no futebol?

- Sempre gostei muito de jogar futebol em miúdo e a minha madrinha inscreveu-me numa escolinha que tinha ligação ao Fafe. Começou como uma brincadeira. Acabámos por ir à final de um torneio onde estava um olheiro do Boavista e vou para o Boavista. O clube tinha um protocolo com uma equipa de Amarante, portanto treinava a meio da semana em Amarante e depois ia jogar ao Porto ao fim de semana. Nessa altura mudei-me para o colégio de São Gonçalo (Amarante) para continuar os meus estudos.

- Uma passagem de apenas dois anos...

- Verdade. Entretanto tinha de ir viver para o Porto, pois não dava para continuar em Amarante e o meu pai não aceitou. Foi muito difícil... Depois apareceu o Vitória (de Guimarães) e a partir daí foi até à minha estreia como profissional.

- Podemos assumir que o Vitória é o seu primeiro grande amor no futebol?

- Sim. É a equipa que eu gosto, não tenho problema de dizê-lo. Estive 13 anos no Vitória e foi a equipa que me deu a oportunidade, onde cresci com muitos colegas que hoje são profissionais. É normal ter um carinho. Tenho a certeza que irei ver muitos jogos quando terminar eu terminar a minha carreira no futebol. É um clube especial.

Os números de Tomané
Os números de TomanéFlashscore

- Durante esse percurso na formação do Vitória, alguns amigos ficaram pelo caminho, pois nem todos conseguiram atingir o patamar profissional. Como foi lidar com essas dispensas ao longo do tempo?

- É a parte mais difícil do futebol de formação. Diziam-nos que era uma pirâmide, que ia encurtar e ficar cada mais mais difícil. Não é fácil ver amigos a perder o sonho. Não é fácil ver jogadores que até têm mais qualidade do que nós a ir embora. Mas as decisões não eram nossas e tínhamos de respeitar.

- Pensava que um dia podia ser o Tomané a sair?

- Eu olhava para o futebol como a minha única saída. Não gostava de estudar e o meu sonho era ser jogador profissional. Não tinha outra alternativa. Não pensava em ir embora, apenas em conseguir conquistar mais e mais. Depois eram tempos diferentes. Não sentia pressão nenhuma por parte dos meus pais, como hoje vemos em muitos miúdos. Por exemplo, a minha mãe nunca foi ver um jogo meu, por não se identificar com o futebol, e não tinha mal nenhum. Hoje em dia há muita pressão em casa e isso causa ainda mais frustração nos miúdos quando são dispensados.

- A verdade é que acaba por estrear-se na equipa principal do Vitória aos 17 anos, ainda com idade de júnior...

- A chamada foi do nada. Nunca tinha treinado na equipa principal e vou direto ao jogo, quase sem saber o que se passava, ao lado de jogadores muito experientes como o Flávio Meireles, o Custódio, que me deixaram à vontade. Lá vou eu a Olhão e do nada o professor Manuel Machado chama-me para ir aquecer. Joguei 25 minutos.

- Depois é o passar do sonho ao pesadelo: a lesão.

- Ainda vou ao segundo jogo e tenho uma fratura de stress no pé direito. Foi de estar no céu a passar para uma lesão. Diziam-me que não podia ser operado por estar em crescimento e que a recuperação ia para dois meses e meio. O que é certo é que foi quase um ano em que não conseguia recuperar e começou a aparecer alguma desconfiança. Pensava muitas vezes em desistir do futebol e acabar tudo. Quando recupero e como não havia equipas "bês" na altura, acabo por ir para o Limianos, uma realidade completamente diferente, com o Kaká que estava comigo nos juniores. Não joguei muito, mas foi uma aprendizagem muito grande. Depois tive a sorte de aparecer a equipa B do Vitória. Se não tivesse aparecido, possivelmente, não teria chegado ao futebol profissional.

Tomané não esconde carinho pelo Vitória
Tomané não esconde carinho pelo VitóriaInstagram Tomané

- Antes de irmos aí, o Limianos foi importante para perceber que o futebol era muito mais do que a realidade que tinha em Guimarães?

- Foi um choque de realidade. Tinha jogadores mais velhos, que trabalhavam, e que não tinham qualquer problema em dar-te um cachaço ou dar-te uma porrada e dizer: 'Acorda, miúdo... Não estás no Vitória'. Jogadores que se sentavam à mesa e bebiam um copo de vinho. Para mim era algo diferente (risos). Hoje em dia ainda falo muito com o Kaká sobre esses tempos.

- Dá-se então o regresso ao Vitória, primeiro pela equipa B e, depois, novo jogo na Primeira Liga, três anos depois da estreia.

- O mister Rui Vitória foi a pessoa que apostou em mim. Tínhamos uma equipa muito jovem. O Vitória passava por algumas dificuldades financeiras e foi a nossa sorte. Cinco ou seis dessa equipa (B) acabaram por chegar a profissional.

Tomané viveu em Tondela alguns dos melhores momentos da carreira
Tomané viveu em Tondela alguns dos melhores momentos da carreiraLUSA

"Cheguei ao ponto de dizer que isto não era para mim"

- De Guimarães para a primeira experiência no estrangeiro (Duisburgo, na Alemanha). Era algo que ambicionava?

- O Vitória passava por um momento difícil. Depois, acertado ou não, somos jovens e vemos alguns jogadores a receberem salários que não são os mesmos e também tomas a decisão de querer ganhar mais dinheiro. Foi um choque grande. A Alemanha é um país espetacular, mas era um miúdo e nem falava inglês. Caí numa realidade em que lutava para não descer, na minha primeira vez fora do país. Mas cresci muito. Queria continuar na Alemanha, mas não surgiu a oportunidade.

- Aparece a Grécia (Panetolikos). Muitos problemas, não é verdade?

- Para esquecer! Não encontrei nada do que me falaram. Diziam que era uma equipa que ia lutar pela Liga Europa e, por ser jovem e acreditar cegamente nas pessoas, fui e as coisas eram difíceis. O clube lutava para não descer, faltavam condições de trabalho e depois havia salários em atraso. Para ser sincero, passados dois meses só queria vir embora, até que chega janeiro e acabo por sair. Tinha três anos de contrato, mas só pensava em vir embora. Entretanto, surge o Arouca do mister Lito, uma oportunidade de voltar a Portugal e relançar a minha carreira, e tenho meia época difícil.

- Vem à procura de estabilidade, mas o Lito acaba despedido e o Arouca passa de um 5.º lugar para a descida de divisão. Como se explica?

- O Lito sai passado duas semanas de eu ter chegado... As conversas eram de que íamos lutar pela Europa, tínhamos muito boa equipa e não sei o que se passou. Correu tudo mal e acabamos por descer de divisão por um golo. Toda a gente ficou meia abananada e no dia em que descemos nunca tinha sentido algo assim. Foi uma coisa desesperante. Cheguei ao ponto de dizer que 'isto não é para mim'. Depois de tudo o que tinha acontecido na Grécia, vou descer no Arouca... Começas a desconfiar de ti próprio. Foi muito difícil. Mas quando achamos que estamos no fundo do poço, o futebol...

Antes da chegada a Tondela, Tomané enfrentou descida de divisão em Arouca
Antes da chegada a Tondela, Tomané enfrentou descida de divisão em AroucaCD Tondela/Opta by Stats Perform

- Eis que aparece o Tondela, precisamente a equipa que condenou o Arouca à descida. Como é que estava a sua cabeça quando recebe a chamada?

- Estou de uma maneira que não acredito em mim, não acredito que posso fazer golos. Depois o Carlos Carneiro (diretor desportivo) e o mister Pepa ligam-me e passam-me muita confiança. Querem muito que eu vá para lá, mas o Arouca não me queria deixar sair. Então o Tondela acaba por fazer um esforço e paga 100 mil euros. Acreditaram em mim e ainda bem. Senti-me muito bem em Tondela e acabei premiado com duas boas épocas.

- O Tondela foi a sua reabilitação?

- Foi, foi... E devo muito ao mister Pepa, a quem vou estar sempre muito grato. Acabámos for fazer a melhor época do Tondela na Primeira Liga, com um grupo fantástico. Ricardo Costa, Cláudio Ramos, Joãozinho... Os astros alinharam-se nesse ano. Logo no final dessa época, estava para sair para o Estrela (Vermelha), mas o Tondela não deixou. Confesso que não olhei com bons olhos, mas prometeram que me deixavam sair no ano seguinte.

- Numa época em que a manutenção foi alcançada apenas na última jornada (vitória 5-2 na receção ao Chaves).

- As coisas não correram tão bem com a equipa, mas foi uma luta até ao fim. Só pensava no que tinha acontecido com o Arouca, parecia que tinha um camião em cima de mim. Eu sabia que ia sair, até porque do ponto de vista individual vinha de duas boas épcoas, mas não queria deixar o Tondela com uma descida. Gostei muito, gosto muito de Tondela. É um clube diferente e espero que, em breve, possa voltar à normalidade.

Tomané cumpriu um sonho no Estrela Vermelha
Tomané cumpriu um sonho no Estrela VermelhaFudbalski Klub Crvena zvezda

"Passámos na Liga dos Campeões e saímos à rua de tanque"

- Passa de lutar pela manutenção para jogar a Liga dos Campeões. Mais um sonho concretizado?

- O clube insistiu muito na minha contratação e também olhei muito para isso. O clube ainda não tinha alcançado a fase de grupos, mas acreditei que podíamos alcançar esse objetivo. É curioso que nesse jogo (Young Boys) entro, levo dois amarelos e sou expulso. Felizmente, conseguimos o apuramento e concretizei mais um sonho. Já o campeonato era uma obrigação. (...) Tínhamos alguns estrangeiros para sair e o Estrela não conseguiu vender. Ficámos oito estrangeiros, quando só podiam jogar quatro. O treinador foi muito correto, chamou-nos e explicou a situação. Uns jogavam numa semana, outros noutra.

- Como era a pressão dos adeptos? E os jogos com o Partizan?

- O Estrela é um clube grande e tínhamos de ganhar sempre e jogar bem. Mas a pressão para ganhar é melhor, acredita. Olha, em relação à rivalidade, tenho uma história muito curiosa logo à chegada. O Ricardo Gomes estava no Partizan e antes de eu ir perguntei ao Ricardo como eram as coisas. Tivemos uma conversa normal e eu cometo o erro de na minha conferência de apresentação dizer que tinha falado com o Ricardo e que ele disse que o Estrela era o melhor clube do país. O que eu fui dizer... Saímos da conferência e o tradutor: 'espetáculo, correu mesmo bem'. Fui meter o Ricardo numa confusão (risos). Mandei logo mensagem a pedir desculpa e o Ricardo disse que não havia problema.

 - ...

- Nos jogos contra o Partizan parece que vais para a guerra. É o mesmo que um Vitória-SC Braga, mas ali é levado ao extremo. A semana é diferente, se for preciso as claques vão ao balneário falar com os jogadores e o ambiente é uma coisa. Sentes a bancada a tremer naquele mítico túnel do estádio. Nunca vi tanta polícia, cavalos e cães... É um ambiente muito hostil e isso também explica o facto de ser muito difícil os adversários vencerem naquele estádio (n.d.r. não perdem em casa para o campeonato desde 2017). Para teres uma ideia do quão é tudo muito diferente, quando passámos à Liga dos Campeões saímos à rua de tanque e com aqueles capacetes de guerra, no meio da cidade, no meio de foguetes e petardos.

- Sentia essa pressão dos adeptos no dia-a-dia?

- Eu estava mais por casa e também apanhei aquela fase Covid. Mas quando ia à rua sabia que tinha de ter cuidado. O clube sabia de tudo e controlava tudo. Belgrado é uma cidade muito bonita, as pessoas falavam, mas nunca tive nenhum problema. Aliás, falhei um penálti contra o Olympiacos, era o José Sá na baliza... O Marin não quis bater, eu assumi e atirei à barra. Depois do jogo foi difícil. Recebi muitas mensagens.

Tomané passou momento delicados na Turquia
Tomané passou momento delicados na TurquiaSamsunspor

De capitão a encostado: "Tive mais de 80 colegas novos"

- Começa a segunda época no Estrela, mas acaba por ir para a Turquia (Samsunspor). Decisão pessoal?

- É engraçado porque saio do Estrela a marcar no play-off da Champions. Alguns dias antes desse jogo, sou chamado ao gabinete e dizem-me que tinham aceitado uma proposta da Turquia e que podia ir se aceitasse. Pensei: 'não sei de nada, não acertei nada e eles dizem que eu já estou vendido?' Levei a peito. Estava a jogar com o novo treinador (Dejan Stankovic) e vou para esse jogo a saber que estava vendido. O clube da Turquia era de segunda liga, mas a proposta era muito boa. O meu empresário disse-me para eu fazer a contra-proposta que achasse aceitável para sair e nessa semana do jogo eles aceitam.

- Apresentou a proposta a achar que eles iam aceitar?

- Não, não... E não podia dizer que não. A determinado momento da carreira também temos de olhar para a parte mais financeira e o projeto do clube era diferente. Vou então para o jogo na Albânia com tudo acordado na Turquia e marco o golo da vitória (ver vídeo acima). Na semana seguinte disse ao meu empresário que não jogava mais. O Stankovic queria que eu jogasse, mas eu tinha levado aquela situação toda muito a peito e não queria ir ao jogo. Infelizmente, acabaram eliminados no segundo play-off pelo Omonia.

- Como era a proposta na Turquia?

- Era um contrato de três anos, mais um de opção, e tínhamos a subida praticamente garantida. Falei com o Hélder (Tavares) e ele disse-me que, se pudesse, não hesitasse. Não sabia nada sobre a segunda liga da Turquia. O presidente (do Samsunspor) é bilionário e tinha um projeto enorme para o clube. Acabei por confirmar tudo: condições incríveis, estádio e complexo desportivo novos... Começo por marcar logo no primeiro jogo, mas ao terceiro jogo lesiono-me e passo por uma fase difícil.

O relato de um período complicado na Turquia
O relato de um período complicado na TurquiaOpta by Stats Perform

- ...

- Não subimos com 70 pontos e aconteceram várias coisas. Treinador, diretor desportivo e jogadores vão embora... O presidente queria baixar o meu salário, com o argumento de ser um jogador lesionado, mas eu não aceitava. Falei com o meu empresário para sair, mas passado um mês ele (presidente) coloca-me como capitão de equipa. É um clube que podia ser top na Turquia, mas o presidente tem muito dinheiro e aquilo é um brinquedo para ele. Em três anos tive mais de 80 colegas novos. Como capitão, eu disse o que achava do clube e acabei por me prejudicar  no ano seguinte. Aconteceram coisas que não são futebol... Deixou-me sem licença e limitava-me a ver os outros a jogar.

- Mas treinava?

- Comecei por treinar à parte, depois tirou-me a braçadeira e o número... O Giresunspor, da primeira liga, apresentou uma proposta, mas o presidente não aceitou. Podia escrever um livro com o que aconteceu. Depois, em janeiro, podia sair para o APOEL, com eles a pagar e tudo, mas o presidente metia sempre problemas.

- A verdade é que depois de um período parado, acaba por regressar à competição em janeiro. Como se explica?

- Chega janeiro e eu quero ir para o APOEL e ele (presidente) continua a colocar entraves. Como não tem problemas em pagar o salário... De filme. Depois passava por mim como se nada fosse. Acabo por ficar e o novo treinador conta comigo. Então entrava apenas quando a equipa estava a perder e no momento em que fomos campeões nunca mais joguei. Deixaram-me de fora.

- Como foi manter a cabeça tranquila nessa fase?

- Aquilo já era tão normal para mim, ao ver tantos colegas a sair, que sabia que não era um problema meu. Sabia que tinha condições para jogar, mas não jogava por birras ou coisas que nao fazem parte do futebol. O Samsunspor é um clube com condições enormes, mas o presidente precisa de alguém que lhe diga as verdades. Prejudicou-me mesmo muito e agora estou a pagar por isso. O mais difícil é perceber o porquê disso acontecer quando és profissional e capitão de equipa.

- Ainda não tem todas as respostas?

- Eu via o que acontecia com vários jogadores. Gosto muito do clube e tenho pena. É o futebol. Ainda apresentaram proposta para renovar em janeiro, mas não tinha condições para continuar depois de tudo o que aconteceu e agora estou noutra realidade. Precisava de um clube para relançar um pouco a minha carreira e mostrar que posso continuar a jogar.

O avançado procura relançar a carreira no APOEL
O avançado procura relançar a carreira no APOELAPOEL

"Tenho muito orgulho no que conquistei"

- Como estão a correr as coisas no APOEL?

- Tenho contrato de um ano, mais um de opção. Neste momento estou parado devido a uma rotura, mas estou a recuperar e a tentar voltar à minha forma. O APOEL é um clube que luta por títulos e que já me queria em janeiro. O fundamental para mim é deixar os problemas para trás e jogar futebol. Quero recuperar a minha confiança.

- Está prestes a completar 31 anos. Como olha para a sua carreira?

- Espero ainda jogar mais alguns anos (risos). Em relação à minha carreira, tenho orgulho no que conquistei. Algumas escolhas que hoje talvez não as tivesse, mas o futebol é isso. O sucesso no futebol é mínimo, passamos mais fases difíceis. (...) Não me arrependo de nada e agora é olhar em frente.

Os próximos jogos do APOEL
Os próximos jogos do APOELFlashscore

- Durante o percurso houve possibilidade de chegar a um grande?

- Quando acabo no Tondela houve muito coisa. Houve abordagem de um ou outro grande, mas na altura não era a melhor opção. O Estrela era o que mais queria e indo para um grande ia ser mais um. Tomei essa decisão, é o que é... Talvez fosse mais fácil chegar à Seleção Nacional, que era outro sonho que tinha, mas a vida é assim e não me arrependo. Estou muito contente com o que vivi e espero jogar até me sentir bem. Mesmo se for numa segunda liga...

- Na altura não se percebeu muito bem como é que o Tomané ia jogar para uma segunda divisão, mas estamos perante uma diferença (de valores) gigante, certo?

- Na altura diziam muito isso, mas para mim o que importa é o projeto. Em determinado momento da carreira, o jogador tem de olhar também para a parte financeira. Agora estou numa fase em que quero jogar e olhar mais para a parte familiar.

- Quando se sai de Portugal, sente-se que depois é mais difícil regressar?

- É difícil. A parte financeira é incomparável...

- A segunda divisão na Turquia é muito melhor que em muitos clubes da Primeira Liga portugues?

- Posso dizer que foi onde eu ganhei mais dinheiro. Joguei Liga dos Campeões, mas foi na segunda liga turca que ganhei mais dinheiro.

- Passa pela cabeça regressar a Portugal?

- É um objetivo. Chega um momento da vida em que não podemos olhar só para a parte financeira. Não quero levar tudo para o caixão (risos). Podia ter regressado este ano, não aconteceu e não sei se regresso no próximo ano. Não defini isso. Depende do que for o projeto e situação que o clube apresenta.

Tabela classificativa da liga cipriota
Tabela classificativa da liga cipriotaFlashscore

- O Tomané teve vários treinadores, ente os quais Pepa, Rui Vitória, Sérgio Conceição... Quem marcou mais?

- Tenho de agradecer ao mister Pepa por ter acreditado muito em mim numa fase difícil. Ao mister Manuel Machado também por me ter dado a estreia. Ao Rui Vitória também por ter acreditado em mim e permitir que me afirmasse na Primeira. Tive também o Sérgio (Conceição), que era incrível a nível de treino e tenho a certeza que ainda vai chegar a patamares ainda mais altos.

- Muitos amigos no futebol?

- Tenho uma amizade muito grande com o Kaká (UD Leiria). Tiago Rodrigues (Gençlerbirligi), nascemos quase juntos no Vitória. Josué (Rio Ave), Joãozinho (Torreense), Ricardo Costa, João Pedro (Chaves)... Criei muitas amizades no Tondela. 

- Quando decidir terminar a sua carreira, como gostaria de ser recordado?

- Não penso muito nisso, mas a imagem que procuro deixar é a de respeito, dedicação e de ser profissional: dar tudo em campo, humilde, trabalhador e que não tenham nada a apontar. Consegui fazer uma carreira a partir de baixo e o meu percurso foi sempre muito vincado no trabalho e dedicação.