Num mundo tão homogéneo como o dos corredores populares, onde as preferências da maioria tendem a coincidir, Jesús Moyano é uma exceção. Desde há pouco tempo, quando decidiu acabar com os ténis de corrida convencionais, este sevilhano que reside em Málaga vive à margem de um desporto que concentra milhares e milhares de pessoas nas suas provas mais famosas.
Foi em 2022 que decidiu mudar a sua abordagem a um hobby que o faz feliz. "Há cerca de nove meses, decidi dar a volta à situação. Estava sentado no sofá de casa e pensei em comprar umas sandálias. Experimentei-as e, até hoje, a sensação é fenomenal e sobrenatural. Também são, pelo menos para mim, menos prejudiciais", conta ao Flashscore.
Fiel às sandálias
A sua conta no Instagram é a prova de que é influenciado pelos Rarámuris, um povo indígena que vive em Barrancas del Cobre, no México, e que é conhecido por percorrer longas distâncias a um ritmo alucinante com meios muito rudimentares. O calçado é semelhante ao usado por Jesús, admitindo ter-se inspirado nos Tarahumara depois de ter visto "vídeos e documentários".
A sua ideia é ficar com eles porque, para além de serem confortáveis, estão a proporcionar-lhe um bom desempenho. Tanto assim é que esteve perto de correr abaixo dos quatro minutos por quilómetro na Meia Maratona de Torremolinos, um percurso muito exigente devido às colinas. Fez uma hora e 27 minutos e já está a pensar em correr a prova mais importante do atletismo (42,195 km) desta forma particular.
Solidariedade no centro da corrida
A motivação tem de ser forte para correr de Málaga a Sevilha. E tem de ser ainda mais forte para o fazer sem um dorsal ao peito, um fator que gera sempre um acréscimo de energia quando se enfrenta uma corrida. Moyano tinha uma ambição que vai para além de um bom tempo ou de uma posição elevada numa classificação, no seu caso havia várias razões (emocionais) para levar a cabo este desafio.

"A minha avó faleceu há três anos e eu não voltei a ir, por isso quis fazê-lo à minha maneira, que é a correr. Fiz-lhe essa promessa, e depois houve também a questão de uma associação para crianças com paralisia cerebral (Run4Smiles) e o Roberto, que tem uma doença rara, Capos, e eu queria dar-lhe visibilidade. Formei uma bola tanto para o desporto como para ajudar, o que me agradou muito", explica.
Pernas, cabeça e coração
Demorou mais de um dia para completar os 200 quilómetros, distância com a qual não estava familiarizado porque nunca tinha ultrapassado os 100, pelo que não sabia como o seu corpo iria reagir. Diz que o último quarto da corrida foi mais difícil para os seus músculos, em parte porque quando saiu de Morón de la Frontera começou a chover e, até se livrar da roupa molhada, a tarefa tornou-se bastante complicada.
Jesús conta que esteve sempre acompanhado por Cristian, um companheiro que é ciclista de estrada e sem o qual teria sido "inviável". Este último não era o seu único apoio, tinha também uma carrinha que, embora aparecesse quando precisava de uma muda de roupa ou de comida, era necessária para minimizar a possibilidade de um contratempo estragar o plano.