Francis Ngannou, 37 anos, ex-campeão de pesos pesados da UFC, surpreendeu ao marcar para 28 de outubro, em Riade, na Arábia Saudita, um lucrativo e intrigante combate de boxe.
O treinador Dewey Cooper, vestido com equipamento de proteção, está diante de Ngannou, uma verdadeira montanha de luvas brancas (1,93m, quase 120kg).
Esquerda-direita, gancho-percut, Cooper conduz uma dança precisa que faz falar os punhos do campeão.

Mais atrás, com um boné preto e branco na cabeça, Mike Tyson, de 57 anos, intervém de vez em quando para corrigir os movimentos do seu aluno.
"Ele vem de vez em quando para dar uma ajuda, para contribuir com a sua experiência. Pedi-lhe especificamente há quatro anos, muito antes de o combate ser anunciado, a primeira vez que o encontrei", explicou Ngannou com voz calma aos cerca de 20 jornalistas presentes. "Há algo de inspirador e motivador nele. Se eu pudesse ter um pouco do que ele tem, o boxe seria muito fácil para mim", continuou.
Tyson, "muito orgulhoso"
Apelidado de O Predador e tendo Tyson como "ídolo", não tem qualquer registo profissional no boxe. Tornou-se conhecido como um formidável lutador ao tornar-se campeão de pesos pesados da UFC, título que manteve até à sua saída em janeiro, após vários confrontos públicos com o presidente da UFC, Dana White.
O camaronês, que venceu 17 das suas 20 lutas profissionais no UFC, 12 delas por nocaute, diz que vai ganhar mais dinheiro neste combate contra Fury do que em toda a sua carreira no UFC.

Ngannou insiste que está a levar a sério este combate de boxe, um desporto que praticou antes de ir para França em 2012 e descobrir as artes marciais mistas.
"Ele é muito lutador, trabalha duro, acho que as pessoas vão ficar surpresas", disse Tyson do ringue com uma voz rouca e quase inaudível. "Não sei se Fury está nervoso, mas seria bom que estivesse", acrescentou.
"Estou muito orgulhoso dele, está a enfrentar talvez o melhor lutador do mundo. Estou ansioso por o ver dar o passo em direção a esse feito impossível", disse Tyson.
"Mastodontes"
Por seu lado, o excêntrico Fury, de 35 anos, continua invicto no ringue (33 vitórias e um empate) e é o atual dominador dos pesos pesados, numa carreira marcada por crises de depressão, toxicodependência e várias entradas e saídas da reforma.
Campeão do Conselho Mundial de Boxe (WBC), o britânico não vai colocar o seu cinturão em jogo, num combate que será disputado "de acordo com as regras oficiais".
Apesar do aparente desequilíbrio, "tudo pode acontecer nos pesos pesados", avisa o franco-camaronês Carlos Takam, outro dos 42 anos, que venceu o seu último combate em março contra Tony Yoka, em Paris.

"Estamos a falar de mastodontes, de tipos que nos podem dar um murro de 120 kg. Não se surpreendam se acontecer alguma coisa durante este combate. Se o Francis acertar no soco, o Tyson Fury apanha-o e não se volta a levantar", diz Takam.
O pugilista tem estado a preparar-se com Ngannou desde o início de agosto, em Las Vegas, para um dos combates de abertura, a 28 de outubro, em Riade, contra o congolês Martin Bakole.
"Há três meses, ninguém acreditava", diz Ngannou sobre as acusações de que se tratava de uma "má decisão" que poderia "arruinar a sua carreira".
"E, no entanto, aqui estamos nós, a falar do maior combate da história", sorri o colosso, que também vai continuar a sua carreira no MMA, depois de ter assinado um contrato com a PFL, concorrente do UFC.