A verdade é que o Bayern Munique tem vivido um estado de relativa desordem nas últimas semanas. E tudo devido a Manuel Neuer, o inquestionável dono da baliza dos bávaros nas últimas temporadas.
Depois de ter estado ao serviço da Alemanha no Mundial, o guarda-redes de 36 anos lesionou-se em dezembro, enquanto fazia ski. Agora, há dez dias, deu duas entrevistas, ao The Athletic e ao Süddeutsche Zeitung, onde abordou alguns temas que até então eram tabu dentro do Bayern Munique E as consequências, como se previam, não foram positivas.
Manuel Neuer queixou-se do tratamento dado a Toni Tapalovic, antigo treinador de guarda-redes, e seu amigo, demitido no final de janeiro. No entanto, em momento algum o guardião de 36 anos pediu autorização para dar uma entrevista, o que desde logo é problemático. E a direção do Bayern Munique não ficou de todo agradada.
As declarações e revelações de Manuel Neuer criaram uma atmosfera pouco saudável na Baviera, a que se juntou os três empates consecutivos para a Bundesliga, todos a um golo, com Leipzig, Colónia e Eintracht Frankfurt. O Bayern , porém, venceu os últimos três jogos antes da Champions, chegando a esta partida com o Paris Saint-Germain em retoma.
Apesar da recuperação, o ambiente não mais voltou a ser o mesmo. Duas das principais figuras do clube, Oliver Kahn e Hasan Salihamidzic, vieram a público reprovar o comportamento de Manuel Neuer, guarda-redes e até agora capitão do Bayern Munique. E escrevemos até agora porque Lothar Matthaus, outra das figuras históricas do futebol alemão, já veio levantar a ponta do véu sobre o assunto. "Já não é aceitável Neuer ser capitão do Bayern", disse o antigo internacional germânico.
É preciso, portanto, olhar para este fenómeno e perceber o outro lado: uma luta pelo poder e influência dentro do Bayern Munique. Manuel Neuer tem sido peça central do clube há largos anos e parece, agora, pressionar para uma mudança profunda na direção dos bávaros. É que do lado diretivo, há o sentimento de que Neuer está na reta final da carreira e que, por isso, a sua influência no balneário tem ser diminuída. E isso faz parte dos motivos que levaram o clube a dispensar Tapalovic, treinador de guarda-redes e amigo pessoal de Neuer. A isto acrescenta-se o facto de Julian Nagelsmann não se dar particularmente bem com o capitão e número 1 do Bayern também deve ter sido levado em conta nesta equação.
O treinador do Bayern Munique, porém, fugiu a essas questões numa conferência de imprensa recente, preferindo focar-se nos elogios ao novo titular da baliza, Yann Sommer.
"As suas exibições são muito boas, ele também é muito bom com os pés. Yann é um tipo inteligente, com padrões elevados para si próprio. Temos sempre a sensação que podemos contar com ele para tudo. Estou muito feliz por tê-lo connosco", afirmou Julian Nagelsmann.
A estabilidade depois da guerra de poder
Tudo indica, portanto, que a direção do Bayern Munique permaneça no silêncio sobre tudo o que se tem passado em seu redor, tal como é prática comum nos últimos anos. Não há muito tempo, porém, o Bayern era um clube onde a controvérsia fazia parte do dia a dia, nomeadamente no final dos anos 90, quando existiram lutas internas pelo poder, ligadas ao fim da era Matthaus.
Essa disputa ficou no passado, o Bayern ganhou o estatuto de um clube estável, sem perder nenhum título da Bundesliga desde 2013, com duas conquistas da Liga dos Campeões e uma comunicação externa quase perfeita, sem desvios. Uma instituição poderosa.
Resta agora saber, a partir das 20:00, no Parque dos Príncipes, se a equipa de Nagelsmann digeriu as notícias e está concentrada sobre o que se passa dentro das quatro linhas, numa nova demonstração da sua capacidade em esmagar tudo o que se atravessa no seu caminho.